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Em meio a cortes na Educação, Bolsonaro defende 'investir em pesquisa'

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

16/05/2019 20h30

Um dia após milhares protestarem contra cortes na Educação promovidos pelo governo Bolsonaro (PSL), o presidente da República afirmou hoje que o país "tem que investir em pesquisa" como uma maneira de sofisticar a economia.

"O Brasil tem uma economia baseada em commodities. Israel vive por que investiu em ciência e tecnologia, e nós não fizemos isso".
Jair Bolsonaro, em sua transmissão semanal pelas redes sociais.

A fala do presidente vai de encontro com as medidas mais recentes do Ministério da Educação (MEC).

Dados apresentados por reitores de universidades e institutos federais hoje mostram que o corte imposto pelo governo federal atingem de 15,8% a 54% das verbas destinadas a gastos como pesquisa.

Convocado para dar explicações ontem no Congresso, o ministro da pasta, Abraham Weintraub, afirmou que os cortes estão mantidos. Hoje cedo, Bolsonaro afirmou que, se não bloquear recursos, vai ferir a lei de responsabilidade fiscal.

'Não foi manifestação pela educação'

Bolsonaro voltou a criticar os manifestantes que foram às ruas ontem. Ele disse que os estudantes "foram de boa fé", mas acusou partidos de manipular os atos.

"Não foi uma manifestação pela educação, foi uma manifestação por Lula Livre, patrocinada por uma minoria de espertalhões do PT, PSOL, PCdoB e sindicatos".

Ontem, em meio aos protestos, Bolsonaro chegou a chamar os manifestantes como "idiotas úteis" e "massa de manobra".

Durante a transmissão, o presidente ainda utilizou parte do tempo para criticar o prefeito de Nova York, o qual chamou Bolsonaro de "fascista, homofóbico e racista".

"É pra dar risada", disse Bolsonaro.

"O prefeito está agindo como um garoto de centro acadêmico (...) eu não iria a uma cidade onde o prefeito está organizando manifestações contra mim", disse, fazendo referência a sua desistência de viajar a Nova York.

"Não teve nenhum acordo com Moro"

Acompanhado do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, Bolsonaro afirmou que não realizou nenhum acordo prévio com o ministro Sergio Moro sobre uma possível indicação para o Supremo Tribunal Federal.

Em entrevista à rádio Bandeirantes, no último domingo (12), Bolsonaro afirmou que tem um "compromisso" para indicar Moro para a primeira vaga que surgir no Supremo.

"A primeira vaga que tiver, eu tenho esse compromisso com o Moro e, se Deus quiser, cumpriremos esse compromisso", disse Bolsonaro.

Hoje, negou que haja qualquer acordo. "Nunca teve nenhum acordo com o Moro, nunca ninguém me viu com o Moro (...) Só vim conversar com Sergio Moro depois de eleito presidente da República. Ele abriu mão de 22 anos de magistratura, tinha lá mais uns poucos anos e se aposentava pelo teto, depois poderia advogar, cuidar da vida dele", afirmou.

O presidente também fez menção ao acordo realizado entre a força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, a Petrobras e o departamento de Justiça dos EUA para devolução de R$ 2,5 bilhões ao país. O dinheiro seria depositado em uma conta vinculada à 13ª Vara Federal de Curitiba, mas foi suspenso pela própria Justiça Federal após críticas de magistrados e do Supremo Tribunal Federal.

Bolsonaro agradeceu à procuradora-geral Raquel Dodge pelo acordo e afirmou que poderia usar o dinheiro para os ministérios da Ciência e da Educação, contudo:

  • O montante real disponível para a Vara Federal seria de 1,25 bilhão, posto que a outra metade, pelo contrato, deve ser destinada a pagar acionistas da Petrobras que se sentiram lesados pela empresa;
  • O contrato está suspenso por tempo indeterminado;
  • O dinheiro não é da União, e, por força de contrato, deveria ser utilizado em uma "fundação privada" que visa fortalecer o combate à corrupção, sem entrar em detalhes;
  • Dodge não participou do acordo, já se mostrou contrária à "fundação" e pediu anulação total do contrato no STF

Saia justa com intérprete

No fim da transmissão, Bolsonaro conversou com a intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) que o acompanhava e a entrevistou sobre suas condições de trabalho nos Estados Unidos - o presidente fez a transmissão de Dalas, no Texas.

O presidente perguntou a ela se existe salário mínimo nos Estados Unidos, e a intérprete fez com a cabeça que sim.

Em diversas ocasiões, Bolsonaro afirmou que a economia do país é melhor do que a brasileira por supostamente "não ter direitos trabalhistas".

"Lá se fala muito em direitos trabalhistas, direitos trabalhistas. Aqui têm direitos trabalhistas?", perguntou o presidente.

Mais uma vez a intérprete respondeu que sim.

"Muito ou pouco?", reiterou Bolsonaro.

"Alguns", ela respondeu, e Bolsonaro seguiu:

"Não vamos entrar em detalhes para evitar que a imprensa que está nos ouvindo não escreva coisas que não condizem com a realidade."