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Brumadinho, vacina e energia: o que estudar sobre ciências da natureza

Eduardo Sombini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/06/2019 04h00Atualizada em 05/06/2019 23h10

No segundo domingo de aplicação das provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2019, previsto para 10 de novembro, os candidatos inscritos resolverão 45 questões de ciências da natureza, que englobam física, química e biologia, além do mesmo número de perguntas de matemática.

O número total de perguntas da prova de ciências da natureza não se divide, necessariamente, em 15 para cada disciplina. É comum, inclusive, que as questões tratem de temas associados a mais de uma das matérias do ensino médio.

Segundo levantamento do Anglo Vestibulares, o tema de física mais cobrado entre 2009 e 2017 no Enem foi mecânica, com 95 questões ao longo do período. Em química, 102 questões trataram de físico-química, e ecologia foi o assunto com maior incidência nas questões de biologia --112 perguntas tratavam do assunto, que teve frequência duas vezes maior que genética, segundo tema do ranking.

Em busca de dicas, o UOL conversou com João Carlos Rodrigues Coelho, professor do Anglo Vestibulares, com o coordenador do curso Poliedro, Luis Gustavo Megiolaro, e com Sérgio Varella, diretor do Pandora Vestibulares.

Preparo físico e simulados para prova "pesadíssima"

Sérgio Varella alerta que os alunos devem se preparar fisicamente para a fazer a prova, que, segundo ele é "pesadíssima". "Por mais que o aluno saiba os assuntos cobrados, fazer 45 testes de matemática e ainda sobrar energia para física, química e biologia depende de um grande preparo físico e mental", diz.

Para isso, os simulados podem ser um trunfo. Luis Gustavo Megiolaro sugere que os candidatos resolvam pelo menos as provas das três últimas edições do Enem para se familiarizar com o modelo do exame e o estilo do exame.

Simulados têm outras vantagens, de acordo com João Carlos Rodrigues Coelho: "O estudante aprende resolvendo questões e também descobre o que não sabe. É muito recompensador: quando acerta, fica contente; quando erra, não se conforma e, depois que estuda, não esquece mais o assunto".

Temas transversais e atualidades entram no cardápio

O Enem apresenta os assuntos de forma mais distribuída que os vestibulares tradicionais e, por isso, professores recomendam priorizar temas transversais, que conectam diversas áreas de uma mesma disciplina e permitem relacionar o tema a outras matérias do ensino médio.

Entre os temas de física, Sérgio Varella destaca energia. "Tem que saber energia cinética, mas também entender o que significa eficiência energética e ser capaz de julgar melhorias de processos energéticos", explica. Ondulatória é outro tema transversal mencionado pelo professor.

Assuntos relacionados à energia também aparecem em questões de química e biologia, lembra João Carlos Rodrigues Coelho. "A construção de hidrelétricas pode degradar grandes áreas de floresta e levar à perda de habitat e de biodiversidade e à liberação de metano, gás de aquecimento global, por meio da decomposição de árvores mortas. É possível fazer uma questão como essa em biologia."

Outra possibilidade é cobrar conhecimento de ciclo do carbono e de combustão em uma questão a respeito do uso do etanol como combustível, relacionado ao mesmo tema, lembra Coelho.

O professor afirma que questões relacionadas ao desmatamento da Amazônia e às consequências da flexibilização de leis ambientais, ao uso de agrotóxicos e à poluição do ar nas cidades, além dos desastres de Brumadinho e Mariana (MG), são outros temas transversais que merecem a atenção dos estudantes.

Genética é outro tema bastante frequente nas questões de biologia do Enem, "mas está mais ligado à engenharia genética e a novos acontecimentos e descobertas da área" --estudantes que acompanham o noticiário sobre o assunto podem ter mais tranquilidade para resolver questões desse tipo.

Para João Carlos Rodrigues Coelho, temas que se tornaram polêmicos recentemente e que ignoram conhecimentos científicos estabelecidos --como a desinformação sobre a eficácia das vacinas e sobre os mecanismos de evolução humana-- podem ser mote para questões do Enem deste ano, já que uma das habilidades cobradas na prova é a capacidade de o candidato confrontar interpretações científicas com aquelas baseadas no senso comum.

Este é o caso, por exemplo, do pensamento religioso que propaga a ideia de criação divina. "Os candidatos não precisam concordar, mas a prova busca verificar se eles dominam, por exemplo, o conhecimento científico sobre a evolução humana", afirma.

Aprenda a analisar gráficos, ilustrações e tabelas

Uma das principais marcas do Enem é a importância da interpretação de gráficos, ilustrações, tabelas e textos de apoio. Na prova de ciências da natureza, essa característica é ainda maior. O candidato precisa ser capaz de, entre outras habilidades, "extrair dados de um gráfico", afirma Luis Gustavo Megiolaro.

O professor afirma que, por outro lado, as questões de física e química do Enem exigem menos cálculo que os grandes vestibulares. A recomendação, portanto, é desenvolver a habilidade de analisar esses materiais de apoio e saber usá-los como ferramenta de interpretação do contexto das questões.

O que é preciso saber para a prova?

  1. Compreender as ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas, percebendo seus papéis nos processos de produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade;
  2. Identificar a presença e aplicar as tecnologias associadas às ciências naturais em diferentes contextos;
  3. Associar intervenções que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e sociais e a instrumentos ou ações científico-tecnológicos;
  4. Compreender interações entre organismos e ambiente, em particular aquelas relacionadas à saúde humana, relacionando conhecimentos científicos, aspectos culturais e características individuais;
  5. Entender métodos e procedimentos próprios das ciências naturais e aplicá-los em diferentes contextos;
  6. Apropriar-se de conhecimentos da física para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científico-tecnológicas;
  7. Apropriar-se de conhecimentos da biologia e da química para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científico-tecnológicas.