Enem: Relógios adiantados por engano pegaram estudantes de surpresa
Antes da abertura dos portões da Uninove na Barra Funda, um dos maiores locais de realização de provas do Enem em São Paulo, um assunto dominava as rodas de conversa de dezenas de candidatos. Longe de girar em torno da expectativa para a prova, o papo preferencial eram os relógios - e o susto que muitos candidatos levaram ao acordar e ver nos visores dos celulares um horário diferente do imaginado.
Como previsto, alguns celulares e computadores, que não se acostumaram com a ideia de que o horário de verão brasileiro foi encerrado em 2019, adiantaram em uma hora hoje. Os relógios de rua da cidade de São Paulo também apresentaram o mesmo problema. O regime especial não entrou em vigor neste ano graças a uma decisão do presidente Jair Bolsonaro.
"Acordei, tomei banho e me arrumei. Aí quando vi o celular, levei um susto", diz Helena de Jesus, 17 anos. "Eram 11h da manhã já, fiquei desesperada porque ônibus no domingo demora mais".
O susto só passou quando o amigo Lucas Mori, 18 anos, ligou para confirmar onde se encontrariam antes da prova. "Eu que avisei pra ela que eram 10h na verdade e os relógios estavam loucos pensando que era horário de verão".
A pane atingiu inclusive os relógios de rua. Enquanto os candidatos compartilhavam sustos, dois funcionários da faculdade trabalhavam para evitá-los e colavam folhas sobre um mostrador digital. "Ligamos na prefeitura e disseram que iriam arrumar, mas como não deram prazo achamos melhor tapar os números", disse Rodrigo Lucas. "Podia confundir os candidatos e dar problema", completou Fernando Henrique, enquanto cobria os números.
Trabalhar para estudar
Em dias de prova do Enem, o tempo é sempre uma preocupação, seja com o horário de abertura e fechamento dos portões ou com o prazo para concluir os cadernos de questões. Para Cauê de Goez, 20 anos, o planejamento começou com dois anos de antecedência, depois de uma primeira tentativa mal-sucedida. "Quando fiz o Enem pela primeira vez, não tinha condições de passar. Nunca fui bom aluno. Olho pra trás e vejo que devia ter me esforçado mais".
Cauê então resolveu se preparar melhor, mas antes de se concentrar nos estudos precisou encarar outro desafio. "Fiquei um ano inteiro trabalhando em um pet shop, só juntando o dinheiro".
A economia serviu para pagar as mensalidades do cursinho e elevar a confiança de que agora pode conseguir a desejada vaga numa faculdade de psicologia. "Dessa vez estou bem mais preparado", diz.
Sombra e tranquilidade
Camila Fernandes, 16, também veio fazer a prova pela segunda vez. Distante da aglomeração de pessoas na frente do local das provas, ela e o colega de escola Gabriel Gomes, 17, buscaram refúgio na sombra de uma calçada afastada. "Queremos ficar mais tranquilos nesse momento", ele explica. O rapaz, que faz curso técnico de química, veio somente treinar para a prova do ano que vem, quando vai tentar vaga em uma faculdade de engenharia química.
A amiga já passou por essa experiência, e agora veio fazer o Enem "pra valer". "Na verdade, eu vim para esse lugar mais calmo pois estou meio tensa", confessa a estudante. "Não existem muitas vagas no curso que eu quero, design na USP", explica.
A única estratégia para combater a ansiedade, diz Camila, é trazer bastante comida. "Me conforta saber que se eu sentir fome, não vai faltar o que comer", ri.
O que explica a confusão do horário de verão?
Tradicionalmente, o horário de verão ocorre no terceiro domingo de outubro. Foi assim, até que, em 2017, o presidente Michel Temer editou um decreto definindo que o regime especial passaria a entrar em vigor no primeiro domingo de novembro a partir de 2018. A ideia era não atrapalhar o segundo turno das eleições, que ocorreu em 28 de outubro do ano passado - a iniciativa até gerou uma onda de notícias falsas.
Por si só, essa mudança já deixou aparelhos eletrônicos confusos. Só que, em março deste ano, Bolsonaro assinou um decreto que encerra o horário de verão. Aí os dispositivos piraram de vez. No dia 20 de outubro, um domingo, muitos celulares, computadores, tablets e outros sistemas conectados amanheceram com o relógio uma hora adiantada. Eles pensaram que estava valendo a regra em vigor até 2017.
Desta vez, o Google tinha avisado que o mesmo poderia acontecer: outros aparelhos podem ajustar o horário com base na regra fixada por Temer. Os dois grupos, no entanto, estão errados, já que o horário de verão foi encerrado pelo novo presidente.
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