3 em cada 4 brasileiros querem menos dias de aulas na pandemia, diz estudo
Três em cada quatro brasileiros acreditam que o número de dias em que as crianças vão para a escola deve ser diminuído durante a pandemia de covid-19, aponta pesquisa feita pelo Instituto Ipsos e obtida com exclusividade pelo UOL. A maior parte dos entrevistados também acredita que as aulas presenciais só devem voltar em, no mínimo, quatro meses.
O levantamento online ouviu 14.518 pessoas, com idades entre 16 e 74 anos, em 16 países diferentes dos dias 17 a 20 de julho — a margem de erro da pesquisa é de 3,5 pontos percentuais. Dos 1.000 entrevistados no Brasil, 74% concordam que o número de dias na escola para aulas presenciais deve ser restrito.
Somando os entrevistados que responderam que não querem o retorno das aulas presenciais em no mínimo quatro meses (24%), sete meses (20%) e um ano (13%), chega-se a 57% de brasileiros que não querem seus filhos nas escolas ao menos até dezembro.
Outro número que chama a atenção é que quase um quinto dos entrevistados (18%) diz não ter certeza se está confortável ou não com o retorno das aulas.
"O Brasil é, de longe, quem menos demonstra conforto nesse retorno", diz o CEO da Ipsos Brasil, Marcos Calliari. "Há uma preocupação muito grande dos pais e mães com a falta de clareza das decisões, dos protocolos em relação à pandemia. Não há consenso [do poder público sobre os protocolos]. Os números por si só já são assustadores, e eles são potencializados por essa falta de norte."
Para Calliari, o alto número de brasileiros que quer reduzir o número de dias letivos na semana é uma reação ao medo que pais e mães têm do retorno precoce das aulas presenciais. "Qualquer opção que reduza os riscos, é essa que o brasileiro vai adotar", diz. Ele diz ainda que a porcentagem alta de pessoas que não têm certeza é sinal da insegurança dos entrevistados.
Os números do Brasil contrastam com o de outros países que estão em estágios diferentes da pandemia do novo coronavírus. Austrália, França, Alemanha, Japão e Coreia do Sul já têm ao menos 40% de seus alunos de volta à escola —no Brasil, esse número é de 1%.
"Na Europa, há uma tranquilidade maior com relação à convivência com o vírus. O vírus continua, mas o isolamento, não. Aqui, não temos essa ideia, os protocolos não são consensuais", diz Calliari.
Já em comparação com os Estados Unidos, que permanece em cenário alarmante em relação à covid-19, os números da pesquisa são semelhantes aos do Brasil. Lá, 46% dos entrevistados não querem que as aulas retornem por ao menos quatro meses. Entre os americanos ouvidos no levantamento, a maioria também apoia a redução do número de dias letivos durante a semana (71% dos entrevistados).
A advogada Laís Bloise se diz "parte da maioria" das mães e pais que teme pelo retorno de seus filhos à escola.
"Não me sinto segura em deixar meu filho de 4 anos voltar às aulas, ainda que sejam adotados protocolos de higiene. Os protocolos não garantem 100% da segurança nem dos funcionários e nem dos alunos em qualquer idade"
Laís Bloise, advogada
Para ela, que vive em Recife, capital pernambucana, no ensino infantil seria "impossível" garantir o distanciamento social.
Volta às aulas em SP
Após duas semanas de debates acalorados, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou a lei que regulamenta a volta às aulas na capital, incluindo um controverso ponto que permite a compra de vagas para crianças de 4 e 5 anos em escolas privadas.
Não foi estipulada uma data de retorno, embora alguns cálculos da prefeitura apontem uma previsão para setembro, a depender da situação epidemiológica da cidade.
O projeto foi criticado por mães, sindicatos, entidades que representam o setor e parlamentares da oposição. "Essa lei faz parte de um projeto de privatização que vocês estão votando na calada da noite sem a população participar", disse ontem em audiência pública Maia Gonçalves Fortes, que tem dois filhos na rede municipal.
"Os vereadores demonstraram falta de sensibilidade em relação aos anseios da população. Não me surpreenderia um movimento entre os pais, com abaixo-assinado, manifestações", afirma Calliari, do Ipsos Brasil.
A despeito de já ter cogitado datas para o retorno, tendo como base as posições das secretarias de saúde estadual e municipal, a Prefeitura de São Paulo trabalha também com a hipótese de adiar a volta o máximo possível.
Existe o temor das autoridades municipais de saúde de que os estudantes se infectem nas escolas, ou no caminho até elas, e transmitam o coronavírus aos avós.
"A minha avó de 91 anos mora com a gente, tem Alzheimer, logo, é grupo de risco e deixar meu filho voltar às aulas nesse momento, sem vacina, sem garantia, é colocá-la também em risco", diz a advogada Laís Bloise.
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