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Presidente do CNPq: Ciência não é uma coisa que se possa fazer sem dinheiro

Sede da CNPq - Marcelo Gondim e Carlos Cruz/Divulgação CNPq
Sede da CNPq Imagem: Marcelo Gondim e Carlos Cruz/Divulgação CNPq

Do UOL, em São Paulo

22/09/2020 07h58

As restrições no orçamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), fundação ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações que tem como uma das principais atribuições fomentar a pesquisa, podem comprometer a resposta do Brasil à pandemia do novo coronavírus, disse o presidente do órgão, Evaldo Vilela.

Em entrevista ao jornal O Globo, ele explicou que o corte de 5,3% em relação ao ano anterior previsto no PLOA (Projeto de Lei Orçamentária), somado ao fato de quase a metade do orçamento (R$ 696 milhões) estar condicionada à aprovação do Congresso, podem levar a um cenário no qual o CNPq não terá dinheiro para pagar nem as bolsas que já estão vigentes.

"Temos um patamar de cerca de 80 mil bolsas por mês. Esse é o dinheiro que nós temos hoje, R$ 1,3 bilhão que mantém essas bolsas. Se não tivermos esse dinheiro, significa que não vamos poder manter as 80 mil bolsas. É simples assim. Há muito tempo que não temos trabalhado com aumento de bolsa, nem de valor nem de quantidade. Então, é fundamental que a gente tenha esse orçamento para manter isso. O país é muito grande. Desenvolvemos muito a ciência nacional, ela é muito robusta em certas áreas e não pode sofrer esse resvalo", argumentou.

"A gente precisa de recurso, porque ciência não é uma coisa que possa fazer sem dinheiro E os níveis de financiamento da pesquisa no Brasil têm caído sistematicamente", acrescentou o presidente.

Questionado se a resposta à covid-19 seria mais eficiente caso a ciência tivesse sido preservada, Vilela respondeu que não há dúvidas.

"Ciência se faz com talentos, com gente. E gente equipada em laboratórios equipados. Temos uma rede de laboratórios, especificamente na área de saúde, graças a um trabalho bem feito pelo Ministério da Saúde, mas sempre trabalhamos com o mínimo, e com uma coisa que é muito prejudicial à ciência no Brasil: a falta de fluxo. Um ano tem um bom dinheiro, no outro ano não tem aquele dinheiro. Esse sobe e desce do fluxo do dinheiro mata muita pesquisa (...) Nunca tivemos no Brasil uma consciência de que precisamos investir seriamente em ciência. Isso tem altos e baixos, mas precisa se tornar uma constante. Não tem como desenvolver um país se não tiver geração de conhecimento e uso do conhecimento", afirmou.

Segundo ele, caso o Congresso atenda ao apelo do órgão e reverta o corte, "vai ficar elas por elas", sem que seja possível aumentar nem o valor da bolsa nem a quantidade de bolsas.

"Mas a gente consegue avançar. Temos um plano do Conselho Deliberativo do CNPq de fazer melhor, de aumentar a resposta e as entregas dos projetos, no sentido de formar, empregar as bolsas e o fomento para criar mais redes de pesquisa com todas as áreas do conhecimento. A gente não vai fazer do mesmo jeito mais", explicou.

Segundo ele, o plano é que as pessoas sejam convidadas para "um novo modelo de interação entre as áreas, inclusive com a inclusão de jovens doutores, porque senão ficamos dando dinheiro só para os velhos doutores. Os jovens doutores têm habilidades que o mundo não tinha".