'Tem sintoma, faz o teste', diz secretário sobre volta às aulas em SP
Profissionais da educação ou estudantes que apresentarem sintomas de possível contaminação do novo coronavírus serão testados na volta às aulas presenciais em São Paulo, diz o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares. Mas isso não será feito antecipadamente.
Em entrevista ao UOL, o gestor da pasta no governo João Doria (PSDB) detalhou como será a retomada do ensino nas escolas.
"Em relação à testagem, é preciso monitorar. Se o pai está com sintoma, a criança já não vai à escola. Se a professora não tem sintoma, mas o marido tem, já não vai", explica o secretário.
Profissionais ouvidos pelo UOL nesta semana reclamaram de decisões "de cima para baixo" com a definição sobre volta às aulas. Rossieli diz ter canais de diálogo, mas que é difícil ouvir todos os envolvidos.
"São 250 mil pessoas, se todo mundo precisar ser ouvido... Não é assim. Todas as famílias, 7 milhões de pais? Fazemos multifocal. Temos uma série de metodologias", diz. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida ontem ao UOL.
UOL - Como estão sendo formulados os protocolos para a retomada das aulas presenciais? Com que cenários o governo trabalha?
Rossieli Soares - Estamos trabalhando com mais de um cenário, obviamente. Quando apresentamos a operação do Plano São Paulo, em dezembro, tínhamos um cenário com volta arriscada. Todo estado [estava] em fase amarela por 28 dias, mudamos para a regionalização. Agora, temos um tipo de cenário de fase vermelha e laranja, até 35% dos estudantes, e amarela, com 70%. Não havia essa abertura antes. Na fase vermelha, era fechado.
Epidemiologistas falam que o cenário atual da pandemia difere do que se viveu em 2020. Haverá diferença em relação aos critérios do ano passado?
Há uma diferença. Vou dar um exemplo de mudança: um aluno não tinha aparelho para estudar online, era muito mais difícil para ele. Mesmo em situação difícil, estamos atendendo quem mais precisa.
Com que cenários o governo trabalha para que isso aconteça?
São inúmeros cenários. Temos protocolos desenvolvidos desde o início da pandemia com o que tem sido discutido de melhor no mundo, não fizemos protocolos sozinhos na educação, a não ser os protocolos de monitoramento.
Mais do que outras coisas, em relação à testagem, é preciso monitorar. Se o pai está com sintoma, a criança já não vai à escola. Se a professora não tem sintoma, mas o marido tem, já não vai.
Professores ouvidos pelo UOL nesta semana relatam não terem sido oficialmente informados sobre o retorno presencial, apesar de ter havido pronunciamentos e anúncios da secretaria sobre isso desde o ano passado. Há um plano de comunicação ou de orientação específico voltado para os profissionais de educação?
Sim, haverá. Acontecerá depois do dia 15 de janeiro, pois os professores estão de férias oficialmente. O decreto do governador já é uma primeira etapa. A orientação oficial é que a não volta deveria ser comunicada. A resolução 177 do Conselho Estadual só vale para o ano de 2020, então o certo seria voltar [às aulas presenciais]. Não podemos tratar a mediação por tecnologia como regra.
Não estamos nem no tempo da pandemia, já que o decreto federal não foi prorrogado. Ainda faremos o aviso, depois da discussão do Conselho Estadual [prevista para o dia 13 de janeiro]. O planejamento com os professores é na última semana do mês de janeiro. Teremos uma semana de formação sobre a volta.
Há também críticas de professores ouvidos pela reportagem sobre decisões tomadas, nas palavras deles, "de cima para baixo". Existiu diálogo com a sociedade civil para essas definições? Se sim, como e quando ocorreu?
Faço lives semanais com professores durante todo o ano. Temos coisas que sempre levamos em consideração. As decisões são tomadas junto com a área da saúde. Não só ouvir o professor, preciso ouvir também a saúde. São 250 mil pessoas, se todo mundo precisar ser ouvido... Não é assim. Todas as famílias, 7 milhões de pais? Fazemos multifocal. Temos uma série de metodologias.
Os profissionais de educação e estudantes serão testados? Se sim, com que frequência? Caso haja resultados positivos, qual protocolo ou diretriz será seguida nas unidades estaduais?
Sempre que necessário, sim. Não é obrigatório. Se tem sintoma, faz o teste. Temos feito desde setembro. Obviamente, será mais prevenção. Mas sintomas que podem ser [covid], por exemplo, a coriza, [já apontam para que] a pessoa não vá para a escola. Se algum parente está [doente], não vai.
Mais importante do que qualquer testagem é o monitoramento. Porque isola antecipadamente.
Em nota, a secretaria reafirmou não ter havido casos de transmissão de covid-19 nas escolas estaduais até o momento. Como foi feito o acompanhamento de casos para garantir isso?
Mais de 1,5 milhão de alunos tiveram aula em 2.800 escolas e não houve nenhum caso de transmissão. Fazemos o isolamento imediato, definimos quais os contactantes, se foi um dia na escola, com quem teve aula, com quais colegas esteve, para testar e acompanhar cada um dos casos. Se duas pessoas tiveram também, isola a turma. Dependendo da característica, podemos fazer o isolamento da própria escola. Não tivemos caso de nenhuma segunda pessoa [com a doença].
De que forma é feito o controle de transmissão? A pasta inclui na conta toda a comunidade escolar ou somente alunos e profissionais das unidades?
O controle de transmissão é pela frequência. Se eu e você estudamos na mesma escola, só que eu frequentei a aula na segunda-feira e você na quarta. Eu tive covid, verifico e ninguém mais teve. Não houve transmissão. Você teve ela na quarta-feira, a gente nunca se encontrou. Teve chance de te passar? Obviamente que não. Se fosse a mesma sala, poderia ter tido. A forma de verificar é com os contactantes.
A secretaria abriu vagas para professores de categoria O com a finalidade exclusiva de aulas presenciais. Serão quantas vagas disponibilizadas? Esses profissionais temporários atuariam no lugar dos profissionais que formam o grupo de risco? Eles atuarão em áreas específicas ou no estado como um todo?
O processo não define número de cargos, depende da necessidade. A estimativa é de 7 mil a 10 mil professores nesse processo. Em uma rede de 190 mil, é pouco. A estimativa é minha porque vou contratar a mais para termos mais projetos. Teremos um reforço para projetos de acompanhamento. O processo seletivo é exatamente o mesmo, com currículo e contagem de pontos.
Os profissionais --contratados ou temporários-- serão vacinados antes do retorno presencial? Está previsto um intervalo de quanto tempo para garantir sua imunização?
Não. A 1ª vacina... Vou te dar um exemplo. Só tem uma vacina, alguém da sua família é mais velho, você vai dar para essa pessoa ou você? Não temos vacina no Brasil para cobrir todo mundo. Por onde começa? Pela população mais vulnerável ao vírus.
A maior parte das pessoas que morrem tem mais de 60 anos, começo com eles. Assim, os profissionais da saúde, é óbvio que preciso proteger, não só tratando de covid-19. Depois, os que têm comorbidades e professores estão nessa lista. Alguns professores vão entrar dentro desse cronograma.
Se só tenho uma vacina para o meu pai, que tem enfisema pulmonar, ou para mim? Para o meu pai! Se pegar, ele está morto. É esse tipo de escolha que o governo está fazendo. O professor está ali, o policial está ali. Não dá mais para esperar, tem todo um cronograma.
Professores afirmam que existe uma pressão das unidades privadas para adiantar o retorno presencial. Esse tipo de pressão chegou à secretaria? Como se dá o diálogo com representantes de unidades privadas nesses casos?
Tenho diálogo, sim, com escolas privadas, com movimento de pais a favor da volta, de pediatras, e tenho convicção da plena importância da volta. Os professores estaduais sentem necessidade do retorno. Se for por isso, muitos outros serviços importantes para a sociedade estão abertos e as pessoas estão expostas.
Não há pressão que tenha funcionado sobre a gente para abrir ou fechar. Temos trabalhado com a ciência, com prioridade de escolas abertas. Abrimos mais escolas do que as unidades privadas. Não existe pressão, tem que voltar aluno que tem mais desigualdade.
Absolutamente, me parece opinião de politicagem de sindicato. A pressão que recebo muito mais é de professor não querendo voltar. Se fosse suscetível, seria muito cômodo não voltar. Para o professor, seria herói. A escola precisa estar lá para os mais vulneráveis.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.