Diretora de escola no DF cria 'call center' contra evasão escolar
Se a evasão escolar será um dos desafios para as escolas com o retorno das aulas presenciais, para a diretora do CEF 15 (Centro de Ensino Educacional) do Gama, em Brasília, Ana Élen Ferreira Moutinho, não. Mesmo durante a pandemia, ela conseguiu manter 100% da participação dos alunos nas atividades.
Nos primeiros dias de pandemia, ela desenvolveu um projeto que funciona como um call center para manter a comunicação com as famílias e os estudantes. "Sabia que a gente precisaria manter o vínculo com todos e por isso decidi comprar seis aparelhos de celular, fazer um treinamento com os professores e abrir esse canal com a comunidade escolar", conta Ana Élen.
Os educadores que participaram do projeto são chamados de professores readaptados, ou seja, estão afastados da sala de aula. A diretora conta que o contato inicial funcionou para acolher os alunos após o fechamento da escola no início da pandemia.
Depois, os professores que ficaram no atendimento perguntaram às famílias se estavam precisando de alimentos, ou algum outro tipo de ajuda. Como a escola funciona no período integral, os alunos fazem pelo menos quatro refeições.
"A maioria dos nossos alunos fazem parte de uma comunidade da periferia do Setor Sul, chamada Gama, e vem de famílias vulneráveis", explica a diretora. A alimentação foi um dos principais desafios enfrentados pelos alunos.
A partir das demandas que chegavam pelo call center, a diretora conseguiu, com a ajuda dos professores, pensar em ações que pudessem contribuir não só com a questão social enfrentada pelas famílias, mas também com as dificuldades de aprendizagem. Foram mais de 10 toneladas de alimentos doados.
Para os alunos que não tinham equipamentos adequados para participar das aulas ou até mesmo internet, Ana Élen conseguiu doações e mobilizou os funcionários para fazerem o mesmo.
Temos 90 professores, então minha ideia era que eles sempre pudessem trazer 10 pessoas para ajudar nessas ações. Por isso, além das cestas básicas, colocávamos cartinhas, roupas, sapatos, uma guloseima para o aluno e teve professor que colocou até dinheiro para que a família pudesse pedir uma pizza, por exemplo."
Ana Élen, diretora escolar
O atendimento do call center funcionava das 8h às 18h nos dias úteis. Mas a diretora passou o próprio contato para as famílias usarem fora do horário.
Para a diarista Adriana Silva Moreira, mãe da estudante Letícia, o contato frequente e o apoio da escola foram fundamentais nesse período. "Ela entrou no 6º ano, mas teve um mês de aula presencial e as escolas fecharam. Ela nunca foi tão bem acolhida como foi no CEF", conta.
Durante a pandemia, Adriana disse que a filha recebeu um celular para acompanhar as atividades e, sempre que precisava, também ganhava cesta básica.
Todo esse trabalho fez com a escola não deixasse nenhum estudante para trás. "Nós buscamos todos os alunos e não tivemos evasão de nenhum. Oferecemos até mesmo apoio psicológico para as famílias e, claro, os funcionários", disse Ana Élen.
A escola conta com um pouco mais de 540 alunos do Ensino Fundamental 2.
Escola é referência no DF
Há 25 anos na área da educação, Ana Élen passou por diferentes funções até chegar a diretora do CEF. A escola estava entre as piores do distrito, mas mudou após sua gestão.
"Só conseguimos todos esses resultados porque todos demos as mãos, trabalhamos no coletivo e com o mesmo objetivo. Isso é o que faz a diferença", conta.
O impacto do seu trabalho gerou frutos até mesmo no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da escola. Em 2005, quando assumiu a direção, o indicador do CEF era de 3,2. Em 2019, ficou em 5,1.
"Estar na Conectando Saberes [rede de professores de todo o Brasil] me ajuda a entender os desafios das outras escolas e ver o que é possível replicar na minha. A gente aprende na prática e na teoria", conta.
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