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Michelle, Eduardo Bolsonaro e denúncias 'fracas' seguram Ribeiro no MEC

Presidente tem reforma ministerial como carta na manga para diluir eventual desgaste - Clauber Cleber Caetano/PR
Presidente tem reforma ministerial como carta na manga para diluir eventual desgaste Imagem: Clauber Cleber Caetano/PR

Ana Paula Bimbati, Eduardo Militão e Carla Araújo

Do UOL, em São Paulo e Brasília, e Colunista do UOL

26/03/2022 04h00

Dois fatores explicam, até agora, a permanência de Milton Ribeiro como ministro da Educação após a divulgação de um suposto esquema de tráfico de influência na pasta, segundo fontes ouvidas pelo UOL.

O primeiro é o fato do presidente Jair Bolsonaro (PL) considerar as acusações "fracas". O outro é que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e um dos filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), têm aconselhado o presidente a não mexer na chefia do MEC (Ministério da Educação).

Fontes ouvidas pelo UOL dizem que Bolsonaro vai reavaliar a situação na próxima semana. Por ora, as acusações não são consideradas graves pelo presidente. Na quinta-feira (24), ele chegou a dizer que colocava a "cara no fogo" pelo ministro.

A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o caso. A pedido da Procuradoria-Geral da República, o Supremo Tribunal Federal autorizou a abertura de apuração. Na próxima quinta-feira (31), a Comissão de Educação do Senado convidou o ministro para prestar depoimento.

O UOL apurou que, no Palácio do Planalto, a situação é considerada desconfortável —principalmente por envolver a atuação dos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura, que nem mesmo têm cargos no governo. Pelo menos dez prefeitos relataram que os líderes religiosos vendiam acesso ao ministro e pediam propina em troca da liberação de verbas do MEC.

O que é preciso saber, informaram duas fontes do Executivo, é se esses depoimentos têm ligação direta com o ministro da Educação — apesar do áudio do próprio Ribeiro divulgado pela Folha de S. Paulo, em que ele conta que tinha como prioridade beneficiar "amigos do Gilmar", a pedido de Bolsonaro.

Mesmo que a situação do ministro piore ao longo da próxima semana, Bolsonaro ainda teria uma carta na manga, apontou uma das fontes. Ele pode aproveitar a janela da reforma ministerial —quando vários integrantes da Esplanada vão deixar seus cargos para disputar eleições— e retirar Ribeiro do cargo. Ou o próprio Ribeiro poderia sair candidato a algum cargo. Isso diluiria qualquer desgaste no governo.

Em nota oficial, Ribeiro admitiu que se encontrou com os pastores citados nas reportagens, mas isentou Bolsonaro de qualquer tipo de pedir qualquer tipo favorecimento. Depois, afirmou à Jovem Pan que pediu, em agosto do ano passado, para a CGU investigar a ação dos líderes religiosos no MEC.

O pastor Gilmar Santos afirmou serem falsas as notícias sobre sua participação como intermediador na liberação de verbas do MEC para prefeituras. Arilton Moura não se manifestou.

Família presidencial atua por ministro

A família de Jair Bolsonaro também é a favor de manter o Ribeiro no cargo. Nesta semana, o ministro esteve no aniversário de 40 anos da primeira-dama Michelle Bolsonaro, de quem é próximo. Ambos são evangélicos.

Uma pessoa que trabalha no Congresso afirma que a primeira-dama estaria aconselhando Bolsonaro a manter Ribeiro no cargo. Foi outro amigo de Michelle, o ministro André Mendonça, que teria feito a indicação à principal cadeira do MEC.

Três fontes também do Congresso que conversaram com a reportagem afirmam que Eduardo Bolsonaro sempre atua a favor do ministro da Educação, em meio às crises na pasta —e continua agindo desta maneira.

Em diferentes situações, como na sequência de demissões do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), e na repercussão de falas polêmicas de Ribeiro, o filho de Bolsonaro conversou com o pai. Nessas ocasiões, o presidente teria ouvido Eduardo e pedido para o ministro manter discrição.

Procurado, o deputado não respondeu aos questionamentos da reportagem. O espaço fica aberto para atualizações.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também filho do presidente, manifestou apoio na terça-feira (22) ao ministro da Educação. "Na minha opinião, [Ribeiro] deve ser o ministro da Educação num segundo mandato de Bolsonaro", afirmou.

Líder dos evangélicos vê áudio do ministro como mais sério

A Frente Parlamentar Evangélica vem sendo cobrada sobre um posicionamento desde a divulgação do áudio —mas já deixou claro que não vai discutir a queda do ministro.

"Como não fomos nós que indicamos, não somos nós que vamos opinar. É uma decisão exclusiva do presidente", afirmou ao UOL o deputado federal e líder da frente, Sóstenes Cavalcante (União Brasil-RJ).

Para ele, o áudio do ministro da Educação é "mais sério" do que as acusações de prefeitos que afirmam ter recebido pedidos de propina. No entanto, ele diz que "ainda não tem a consistência jurídica que justifique o pedido de exoneração do ministro [Milton Ribeiro]".

O grupo hoje conta com 184 membros, sendo 178 deputados e 6 senadores. Apesar do nome, nem todos são evangélicos: há 78 católicos, três espíritas, um sem religião e outros 11 que não especificaram suas doutrinas.