Gil do Vigor protesta: por que pesquisadores no Brasil estão sem 'salário'?
O economista e ex-BBB Gil do Vigor se juntou a estudantes e pesquisadores nas redes sociais para cobrar o pagamento de bolsas de estudo após os bloqueios realizados pelo governo Jair Bolsonaro (PL).
Mais de 200 mil pessoas deixarão de receber suas bolsas, cujos depósitos deveriam ser feitos até hoje. São estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Isso ocorreu devido aos bloqueios impostos pelo Ministério da Economia ao MEC (Ministério da Educação).
Gil, que hoje cursa PhD nos Estados Unidos, relembrou uma mensagem que escreveu em março de 2018, quando era bolsista, perguntando quando o pagamento seria realizado e protestou:
Nós, estudantes e pesquisadores, temos o DIREITO a bolsa de pesquisa. Cumprimos prazos e nos dedicamos muito para contribuir com o avanço tecnológico do Brasil. É inadmissível que mais de 100 mil estudantes não recebam suas bolsas! NÃO DÁ MAIS! #PagueMinhaBolsa pic.twitter.com/48VZ1CFoRV
-- GIL DO VIGOR (@GilDoVigor) December 6, 2022
Bloqueios bilionários foram feitos. No último dia 1º de dezembro, em menos de 6 horas, o governo federal desbloqueou e voltou a bloquear os recursos das universidades e institutos federais.
O bloqueio inicial dos valores havia sido feito no dia 28 de novembro, travando cerca de R$ 1,4 bilhão na área da Educação, sendo R$ 344 milhões de universidades. Depois, o MEC chegou a liberar parte dos recursos. Mas, antes mesmo que a verba pudesse ser usada para qualquer pagamento, o Ministério da Economia fez novo bloqueio.
O MEC não explicou o motivo dos bloqueios. Em nota divulgada no dia 29, apenas informou que "recebeu a notificação do Ministério da Economia a respeito dos bloqueios orçamentários realizados".
Ontem, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão vinculado à pasta, divulgou um comunicado informando que não terá recursos para pagar as mais de 200 mil bolsas. No informe, a Capes:
- cita os bloqueios impostos pelo Ministério da Economia e o decreto que zerou por completo a autorização para desembolsos financeiros durante o mês de dezembro;
- diz que, sem os recursos, será impossível assegurar a regularidade do funcionamento institucional da coordenação, bem como impede "tratamento digno à ciência e a seus pesquisadores";
- E cobra das autoridades a imediata desobstrução dos recursos para o desempenho de suas funções, "sem o que a entidade e seus bolsistas já começam a sofrer severa asfixia".
A Capes é uma das principais fontes de pagamentos de bolsas a mestrandos e doutorandos brasileiros.
Por meio de nota, o Ministério da Economia informou que a execução orçamentária e financeira "tem sido desafiadora neste fim de ano e que bloqueios tiveram de ser realizados para o cumprimento do teto de gastos". Afirmou, ainda, que uma portaria viabilizou aumento em R$ 300 milhões dos limites de pagamentos do MEC.
Nas redes sociais, pesquisadores protestaram contra a falta de pagamentos. Eles promoveram um "tuitaço" usando a hashtag "Pague Minha Bolsa" para denunciar a situação, que contou com a adesão do ex-BBB.
Trabalhar mais de 12 horas por dia, final de semana, feriado. Não ter direito trabalhista, INSS, 13°, férias. Tem que ser dedicação exclusiva. Sem reajuste há 10 anos. E
-- Flávia Santiago (@flasantiagoo) December 6, 2022
Agora, SEM SALÁRIO!
Ser cientista no Brasil é vergonhoso! #PagueMinhaBolsa pic.twitter.com/mMKSeu0XGG
Hoje uma bolsa de mestrado CAPES está no valor de R$1.500, sem reajuste já há 9 anos. Não bastasse o valor completamente incompatível para que qualquer pessoa viva com dignidade no Brasil de hoje, ainda estamos na iminência de receber um calote do governo federal #PagueMinhaBolsa
-- gustavo. (@GustavoMaan_) December 6, 2022
É desumano deixar a BASE da pesquisa brasileira sem saber se vai receber seu salário! Que belo presente de Natal desse governo que odeia a Ciência! #PagueMinhaBolsa #CAPES
-- Eduardo Sato (@ea_sato) December 6, 2022
Gente, não sei se vocês sabem, mas o bolsista não pode possuir vínculo empregatício, portanto não tem os direitos trabalhistas.
-- Erica Mariosa (@MariosaErica) December 6, 2022
É só a bolsa para pagar os boletos. Ah, e precisa ser dedicação exclusiva.
A ciência brasileira é feita por bolsistas! #PagueMinhaBolsa
Risco de apagão no MEC
O governo de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) citou a possibilidade de ocorrer um "apagão" no MEC ainda neste mês.
O grupo de trabalho, liderado pelo ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante (PT), estipula o valor de R$ 480 milhões para evitar o apagão.
Eu diria que estamos numa situação muito dramática na Educação brasileira. Quando eu digo que esse governo quebrou o Estado brasileiro, é o que está acontecendo Aloizio Mercadante
Gil do Vigor contou que recebeu auxílio da universidade para ajudá-lo a custear alimentação e transporte quando era estudante. Ele se graduou em Economia na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
"Sem as bolsas, não sei se seria possível. A educação transformou a minha história", disse em entrevista ao UOL Notícias em agosto.
Durante sua participação no reality show, em 2021, o economista se emocionou e defendeu a pesquisa acadêmica ao ser informado sobre a vacinação contra a covid-19.
Ser pesquisador no Brasil, com 2 mil e pouco, que não é muito, é muito difícil. Eu vim da pesquisa, do doutorado, sei como é difícil. Muitas pessoas fazem ser valorizado. A pesquisa é válida, honrada, e a pesquisa merece. Pesquisador vale muito. Pesquisador no Brasil vale muito Gil do Vigor
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