Topo

Educação

Banco de Redações

O UOL corrige e comenta 20 redações. Envie a sua sobre o tema da vez


TEMA ATUAL - Dezembro/2016 Pós-verdade, opinião pública e democracia

O presidente eleito dos EUA Donald Trump e o Brexit - a saída do Reino Unido da União Europeia - são exemplos de como a pós-verdade age sobre a opinião pública  - Reprodução
O presidente eleito dos EUA Donald Trump e o Brexit - a saída do Reino Unido da União Europeia - são exemplos de como a pós-verdade age sobre a opinião pública Imagem: Reprodução

Antonio Carlos Olivieri, da Página 3 Pedagogia & Comunicação

01/12/2016 07h00

Você já ouviu falar em "pós-verdade"? Pode ser que não, mas se você está conectado com a realidade atual, mesmo sem perceber, certamente teve contato com fatos "pós-verdade" ou considerou "verdadeiros" alguns fatos que não passam de versões e interpretações dos acontecimentos, embora possam ser considerados "reais". Na coletânea de textos que informa esta proposta de redação, há elementos para compreender melhor a palavra e o seu significado. Levando isso em consideração, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre uma época em que se multiplica o papel da pós-verdade, tornando a opinião pública mais vulnerável do que nunca à manipulação. Que consequências isso teria para as sociedades humanas? O que a pós-verdade pode fazer com a democracia? De que modo a maioria das pessoas poderia se defender para, como se diz popularmente, não comprar gato por lebre? 

  • Pós-verdade

    O Dicionário de Oxford acaba de nos dar uma valiosa contribuição para entender o mundo em que vivemos. Escolheu como palavra do ano uma expressão pouco conhecida: pós-verdade. É um adjetivo. Não chega a ser novo. Tem uma década, pelo menos. Mas os estudiosos de Oxford perceberam que nos últimos tempos seu uso passou a ser mais frequente: em artigos acadêmicos, por escritores, nos jornais e, finalmente, nas ruas. Pela definição do dicionário, pós-verdade quer dizer “algo que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência para definir a opinião pública do que o apelo à emoção ou crenças pessoais”. Em outros termos: a verdade perdeu o valor. Não nos guiamos mais pelos fatos. Mas pelo que escolhemos ou queremos acreditar que é a verdade.

    (...)

    O terreno da internet tem se revelado fértil para a propagação de mentiras — sempre interessadas —, trincheira dos haters. Levamos tanto tempo para estabelecer uma visão “científica” dos fatos, construir a isenção do jornalista, a independência editorial e, de repente, vemos que o debate político se dá entre “socos e pontapés”. A pós-verdade arrasta a política, o jornalismo, a justiça, a economia, a nossa vida pessoal...

    [Luiz Cláudio Latgé, o Globo]

  • Inclinação cerebral

    O semanário "The Economist" deu a capa de sua última edição para uma interessante reportagem sobre a política "pós-verdade". Ilustra o conceito com Donald Trump afirmando que Barack Obama é o criador do Estado Islâmico e a campanha do Brexit dizendo que a permanência do Reino Unido na União Europeia custa US$ 470 milhões por semana aos cofres britânicos. Não é preciso mais do que alguns neurônios e um computador para descobrir que ambas as afirmações são falsas, mas, ainda assim, elas prosperaram.

    Obviamente, a centenária publicação reconhece que governantes sempre mentiram, mas conjectura que vivemos uma era em que está ficando cada vez mais fácil para políticos inventar qualquer coisa e se dar bem. Parte do problema é a natureza humana. Nossos cérebros têm uma perigosa inclinação por acreditar naquilo que nossos sentimentos dizem que está certo e evitam o trabalho de conferir a veracidade das teses de que gostamos. E, se nunca foi fácil estabelecer o que pode ser considerado um fato na política, isso está se tornando cada vez mais difícil.

    Para "The Economist" são dois os motivos. Primeiro, instituições que se encarregavam de facilitar a formação de consensos como escolas, ciência, Justiça e mídia vêm sendo vistas com mais desconfiança pelo público. Além disso, passamos a nos informar através de algoritmos que, em vez de nos expor ao contraditório, nos enterram cada vez mais fundo naquelas versões que já estávamos mais dispostos a acreditar. Daí aos reinos mágicos é só um pulinho. 

    [Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo, editado]

  • Cognição preguiçosa

    A pós-verdade é um caso típico de aplicação da teoria da “cognição preguiçosa”, criada pelo psicólogo e prêmio Nobel Daniel Kahneman, para quem as pessoas tendem a ignorar fatos, dados e eventos que obriguem o cérebro a um esforço adicional.

    Aqui no Brasil, a pós-verdade é nítida no caso das investigações da Lava Jato. Separar o joio do trigo no emaranhado de versões e contraversões produzidas pelas delações premiadas é bem complicado. Há poucas dúvidas sobre a existência de esquemas de propinas, caixa dois eleitoral, superfaturamento, formação de cartéis e enriquecimento de suspeitos, mas provar cada um deles com base em evidências é uma operação complexa e demorada. Em alguns casos até inviável dada a sofisticação dos esquemas adotados pelos suspeitos de corrupção.

    Mas como existe o interesse político envolvendo a questão e como existe a “cognição preguiçosa”, as convicções passam a ocupar o espaço das evidências e provas. A dicotomia jurídica clássica entre o legal e o ilegal passa a ser substituída por justificativas tipo “domínio do fato”, ou seja, convicções construídas a partir da repetição massiva de percepções individuais ou corporativas, pelos meios de comunicação.

    [Observatório da Imprensa, editado]

  • Observações

    Seu texto deve ser escrito na norma culta da língua portuguesa.

    Deve ter uma estrutura dissertativa-argumentativa.

    Não deve estar redigido sob a forma de poema (versos) ou narração.

    A redação deve ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas escritas.

    De preferência, dê um título à sua redação.

    Envie seu texto até 25 de dezembro de 2016.

    Confira as redações avaliadas a partir de 1 de janeiro de 2017.

    A redação deve ser digitada e enviada para o e-mail: bancoderedacoes@uol.com.br

     

Os textos publicados antes de 1º de janeiro de 2009 não seguem o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. A grafia vigente até então e a da reforma ortográfica foram aceitas até 2012.

Copyright UOL. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução apenas em trabalhos escolares, sem fins comerciais e desde que com o devido crédito ao UOL e aos autores


PUBLICIDADE