Redações Corrigidas - Outubro/2019 Agrotóxicos ou defensivos agrícolas: dois nomes e uma polêmica
O fato é recente, mas o debate já dura mais de 50 anos. Fato: o governo brasileiro aprovou 262 novos tipos de pesticidas, desde o começo do ano. Polêmica: o nome desses produtos químicos ou pesticidas, utilizados na agricultura. Para os ambientalistas, deve-se chamá-los de "agrotóxicos", porque, além de eliminar as pragas das lavouras, intoxicam as próprias plantas e, por conseguinte, outros animais, entre os quais os seres humanos, com consequências desconhecidas e imprevisíveis. Para seus fabricantes, inclusive os cientistas que os inventam, bem como para os agricultores, esses pesticidas devem ser chamados de "defensivos agrícolas", pois servem para defender as plantações das pragas. Argumentam, ainda, que a produção da agricultura em larga escala - como exige o mundo atual - não seria possível sem o uso desses defensivos. Assim, com base nos textos da coletânea, desenvolva uma dissertação argumentativa, explicando qual dos nomes você considera mais adequado para os pesticidas: agrotóxicos ou defensivos agrícolas. Justifique sua opção com argumentos.
Brasil, potência agrícola
O Governo do presidente Jair Bolsonaro acelerou a aprovação de 262 novos tipos de pesticidas desde que assumiu o poder, em janeiro. Isso significa "um ritmo nunca visto", diz Larissa Bombardi, autora do Atlas do Uso de Pesticidas no Brasil e Suas Conexões com a UE, sobre uma tendência que já vem do Governo de Michel Temer. O mais grave, detalha essa especialista da Universidade de São Paulo (USP), é que "aproximadamente um terço deles inclui alguma substância proibida pela UE".
O Brasil, uma potência agrícola, é um dos países que mais usam agrotóxicos. A especialista explica que o aumento ocorre porque a superfície cultivada se expandiu, mas também porque os agricultores estão usando mais pesticidas por hectare. Ela observa também que a fiscalização sobre os efeitos na agricultura é deficiente e inexistente ao final da cadeia, quando chega ao consumidor.
Defensivos agrícolas
Todo mundo sabe o que é um tomate. Ou melhor, falando uma linguagem mais científica: grande parte dos 7 bilhões de habitantes do planeta, talvez a maioria, sabe o que é um tomate. O que bem menos gente sabe é que o tomate é também um dos vegetais que mais recebem defensivos químicos em toda a agricultura mundial — ou "agrotóxicos", como diz o universo ecológico brasileiro. Não muitos, enfim, sabem que os melhores tomates do mundo são cultivados na área do vulcão Vesúvio, vizinha a Nápoles, na Itália (pelo menos na opinião praticamente unânime dos italianos). O tomate dali é maravilhoso, mas não é mágico. Recebe toneladas de defensivos agrícolas todos os anos, sem falar de fertilizantes, produtos para aumentar o rendimento das culturas e intervenções genéticas de última geração. Os napolitanos não fazem isso porque gostam de gastar dinheiro com "agrotóxicos", mas porque, se não o fizerem, os seus tomates morrerão. E aí: o que seria da pizza? E do molho al sugo? E do ketchup?
O problema não seria só com a pizza de Nápoles e do resto da Itália. Sem tomate iria acabar, do mesmíssimo jeito, a pizza da Mooca, de São José dos Ausentes e da Groenlândia, porque ninguém ainda descobriu como seria possível cultivar tomates, em volume que faça algum sentido, com a ação natural das abelhas, trato de algas marinhas e outras lendas presentes no aparelho mental da população naturalista, orgânica, vegana, e por aí afora. Você decide, então: ou existe tomate do jeito que ele é na vida real, ou não existe tomate. A lógica comum diria que é melhor deixar os tomates quietos, como eles estão — mesmo porque, ao que se sabe, pouquíssima gente morre neste mundo por comer a macarronada da mamma. Mas vá você dizer isso a um combatente a favor da alimentação natural e contra "o veneno na minha comida". Será acusado de ser um "defensor do agronegócio", da "indústria química", da "ganância", do "lucro" e daí para baixo. Mais: vai ser carimbado como retrógrado, fascista e inimigo da saúde humana em geral.
J.R. Guzzo - Veja
Agrotóxicos
Em Primavera Silenciosa, o primeiro alerta mundial contra os pesticidas, publicado em 1962, Rachel Carson descreveu diversos casos de pulverizações - especialmente de diclorodifeniltricloroetano (DDT) - nos Estados Unidos, nos anos 1950-60, quando morreram enormes quantidades de pássaros, peixes, animais selvagens e domésticos. As pulverizações para exterminar supostas "pragas" também contaminaram as águas de rios, córregos, dos oceanos, os solos e os humanos.
Carson já constatava, há 50 anos, que a questão dos resíduos químicos nos alimentos era tema de ardorosos debates. A existência de resíduos ou era desprezada pela indústria, que a considerava sem importância, ou era francamente negada. No entanto, pesquisas comprovavam, já naquela época, a associação da presença do DDT no corpo humano com a alimentação, ao analisar gordura humana e amostras de alimentos em restaurantes e refeitórios.
Para os executivos das indústrias fabricantes que, obviamente, queriam vender seus produtos; pesquisadores que recebiam financiamento dessas empresas para suas pesquisas e funcionários públicos (todos trabalhando para "defender" seus interesses), "agrotóxico" é um termo impreciso e carregado de julgamento valor; já "defensivos" seria correto, porque esses produtos não servem para intoxicar o ambiente ou o consumidor, mas para "defender" a plantação das pragas, insetos e parasitas. Ao contrário, entidades ambientalistas de vários estados, professores universitários e pesquisadores preocupados com o efeito desses produtos na saúde das pessoas e da natureza continuam a referir-se a "agrotóxicos".
Elenita Malta Pereira - Outras Palavras (Editado)
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