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Só dois em cada 10 pretos no 5º ano de públicas sabem o esperado para a série em que estão

Rafael Targino

Do UOL, em São Paulo

16/04/2012 06h00

Enquanto quase quatro em cada dez estudantes do 5º ano do ensino fundamental brancos de escolas públicas tiveram desempenho na Prova Brasil 2009 em matemática compatível com a série em que estão, apenas dois em dez dos pretos tiveram o mesmo resultado. Essa é uma das conclusões de um estudo da Fundação Lemann, obtido pelo UOL Educação.

"Pretos" é o termo utilizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para se referir a negros. Os outros termos utilizados são "brancos", "pardos", "amarelos" e "indígenas". A pesquisa do instituto tem base autodeclaratória. 

Por mais que os resultados dos autodeclarados brancos sejam melhores em todas as séries na qual a prova foi aplicada (5º e 9º anos) e em todas as disciplinas (português e matemática), mais de 60% de todos os alunos, em todas as categorias, não haviam atingido em 2009 o conhecimento adequado para o nível que frequentam (veja números completos nos gráficos abaixo)

De acordo com Francisco Soares, especialista em avaliações em educação e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), apesar de os números serem ruins, há motivos para comemorar.

“No meio de tudo isso, há noticias boas. As diferenças entre pardos e brancos tem diminuído. Não sei se porque mais alunos se declaram pardos. Mas com isso, agregar para políticas públicas os pretos aos pardos é perverso. Favorece os que menos precisam”, diz.


A Prova Brasil é aplicada para alunos do 5º e 9º anos do fundamental de escolas públicas municipais, estaduais e federais, de áreas rural e urbana, que tenham, no mínimo, 20 matrículas na série avaliada. O exame acontece a cada dois anos e os dados mais recentes disponíveis são os da prova de 2009. 

Pretos têm os piores índices

O cruzamento, feito pelo economista Ernesto Faria, mostra que, independentemente da série ou da disciplina da prova, os estudantes que se declararam pretos têm os piores índices: no 5º ano, 78,8% deles tiraram nota “abaixo do básico” ou “básico” em português e 80,49%, em matemática; no 9º ano, 83,68% e 93,21%, respectivamente.

No 5º ano, em matemática, esses estudantes não conseguem ler informações e números apresentados em tabelas ou identificar que uma operação de divisão resolve um dado problema. Em português, eles não sabem “inferir o sentido de uma expressão metafórica e o efeito de sentido de uma onomatopeia” ou mesmo localizar a informação principal de um texto.

Proficiência em português (escala Saeb)

 5º ano9º ano
Abaixo do básico125-150125-200
Básico150-200200-275
Adequado200-250275-325
Avançado250-325325-350

Proficiência em matemática (escala Saeb)

 5º ano9º ano
Abaixo do básico125-175125-225
Básico175-225225-300
Adequado225-275300-350
Avançado275-375350-425

No 9º ano, tirar uma nota menor que o índice “adequado” em matemática significa que o aluno não consegue fazer operações de adição, subtração, divisão ou multiplicação que envolvam centavos em unidades monetárias e/ou resolver problemas com porcentagens. Em português, eles não podem “identificar o conflito gerador do enredo” ou “reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação”.

Soares alerta, no entanto, que a proficiência reflete todos os fatores combinados. “A diferença por raça esconde um fato importante: que os alunos que se autodeclaram pretos são mais pobres. Por isso, buscamos, com ajuda de métodos de análise adequados, obter o efeito puro do sexo, raça, nível socioeconômico, atraso escolar.”

Classificações

As classificações são usadas pelo movimento Todos pela Educação e por alguns Estados para “categorizar” o conhecimento estudantil e têm quatro níveis: “abaixo do básico”, “básico”, “adequado” e “avançado”. Um estudante no nível “básico”, por exemplo, tem domínio mínimo do conteúdo que deveria saber; um do “adequado”, por sua vez, tem domínio pleno.  Existem notas mínimas para cada uma dessas classificações (veja na tabela ao lado).