Topo

Na BA, prefeitos se unem para melhorar formação de professores

Suellen Smosinski

Do UOL, em Seabra (BA)

21/12/2012 13h34Atualizada em 21/12/2012 13h34

A (má) formação inicial dos professores -- quando eles têm curso superior  -- é um desafio antigo dos gestores de educação, sejam eles diretores de escola, coordenadores pedagógicos ou secretários. A saída para essa deficiência passa por treinamentos, chamados de formação continuada. 

Na região do semiárido baiano e da Chapada Diamantina, 21 prefeitos e secretários municipais de Educação se unem para melhorar a qualidade da alfabetização das crianças da região. Sem se importar com a legenda partidária que representam. O trabalho é feito em parceria com o Icep (Instituto Chapada de Educação e Pesquisa), que começou a ser desenhado em 1997, com o programa que iria virar o Projeto Chapada, no ano de 2000. 

Para que a troca de prefeitos a cada quatro anos não atrapalhe o andamento dos projetos, o Icep promove uma reunião ao final das gestões para que os antigos secretários e prefeitos repassem aos novos gestores a situação da cidade, com um balanço das realizações e uma lista com os próximos desafios, elaborada nos Fóruns de Educação, que reúnem coordenadores pedagógicos, diretores escolares, professores, pais e demais representantes da comunidade.

Em 2012, o encontro aconteceu nos dias 6 e 7 de dezembro e foi acompanhado pela reportagem do UOL. Na cerimônia de abertura e, mesmo durante as reuniões de trabalho, os representantes de cada cidade pareciam engajados na tentativa de dar continuidade às ações desenvolvidas, mesmo que seu partido ou coligação não fossem os vencedores das eleições.

A importância dada ao evento também podia ser vista no capricho das roupas escolhidas para a ocasião -- todos estavam com suas "domingueiras", as roupas de usar aos domingos, para ir em festas ou à missa, mostrando que o evento era especial.

Batizado de 2º Seminário de Transição Suprapartidária, o encontro aconteceu na cidade de Seabra (a 468 km de Salvador) e foi comandado por Cybele Amado, presidente e diretora executiva do Icep. A presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) e secretária municipal de Educação de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Cleuza Repulho, também participou do seminário.

Visão dos secretários

O secretário Márcio Vila Flor, 30, de Aramari (a 118 km de Salvador) aponta a formação continuada dos professores como um "grande nó" para as cidades do semiárido baiano. Ele afirma que o trabalho realizado em parceria com o Icep, desde 2009, faz o município se destacar na região.

O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) dos anos iniciais da rede municipal de Aramari passou de 2,9 em 2009 para 4 em 2011; no mesmo período para os anos finais, o índice subiu de 1,7 para 3. 

Reinaldo Vieira, 33, secretário de Educação de Ibitiara (a 404 km de Salvador), concorda com Vila Flor: "A formação acadêmica não discute a prática pedagógica. O que o estudante vê na faculdade é muito macro. Os cursos não ensinam as peculiaridades da sala de aula. Temos professores que estão terminando a pedagogia e têm conhecimentos didáticos melhor do que quem está indo para o mestrado, porque estão na sala de aula", disse Vieira.

Vieira contou que foi convidado para desenvolver um trabalho em uma universidade baiana e disse que só aceitava se pudesse discutir a prática do professor: "Claro que a teoria também é importante. Então, se eu tenho quatro horas para a teoria, as outras horas eu vou discutir a formação do professor. Eu não posso olhar só como acadêmico, eu tenho que olhar como um gestor que forma diretores e professores e, assim, chega até os alunos", afirmou.

Para Ileni de Araújo Caraúba, 39, secretária de Educação de Piatã (a 572 km de Salvador), que teve o 6º melhor Ideb da Bahia nos anos iniciais e foi o município da Chapada Diamantina com maior nota no índice, um dos pontos fortes da gestão foi a formação continuada dos docentes.

"O município de Piatã não tinha nem a formação inicial. Tínhamos somente cinco professores graduados. Fizemos um convênio com a Uneb [Universidade do Estado da Bahia] e dentro de quatro anos cem professores da rede municipal tiveram sua formação", afirmou Ileni.

Sobre os resultados no Ideb, ela contou que a rede fez simulados em abril e setembro para descobrir onde os alunos tinham mais dificuldade e elaborar um plano de ação a partir desse diagnóstico: "Os meninos não se sentiram pressionados pela Prova Brasil, eles já tinham feito os simulados e a prova foi mais natural".

Como o Icep trabalha

O trabalho da pedagoga Cybele Amado, que capitaneia o Icep, ganhou, em 2012, o prêmio Empreendedor Social que é organizado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela Fundação Swab.

O Icep combina o trabalho de formação continuada para os docentes da região com ações de mobilização política e social. Uma forte característica do instituto é a participação coletiva. De fato, todas as pessoas com quem a reportagem conversou falam com propriedade e conhecimento do trabalho desenvolvido -- desde a presidente do Icep até a professora de educação infantil, passando por secretários, prefeitos, coordenadores pedagógicos, formadores de docentes, diretores escolares e parceiros do instituto. 

Foram até relatados casos de prefeitos que não queriam continuar com a parceria com o Icep, mas acabaram sendo convencidos pelas equipes técnicas das secretarias de educação a continuar o trabalho desenvolvido. 

Cada município parceiro recebe visitas de equipes do Icep para discutirem as necessidades particulares de cada localidade. Segundo Raidalva da Silva, 47, formadora do Icep, é preciso "conhecer bem o município, fazer articulações com as equipes técnicas das secretarias de educação e trabalhar com o coordenador pedagógico para chegar até o professor". 

"A formação continuada parte dos resultados dos alunos. O diferencial do trabalho é a formação de alunos leitores e escritores. Avaliamos o trabalho pelo Ideb, mas também temos quatro avaliações diagnósticas feitas pelo Icep ao longo do ano. Podemos ter o resultado de uma escola ou de apenas uma sala", contou Raidalva.

De acordo com ela, as avaliações permitem descobrir uma escola ruim dentro de um município com bons resultados ou até mesmo uma sala com desempenho insatisfatório dentro de uma boa escola. Nesses casos, serão feitos trabalhos específicos onde os problemas forem encontrados.