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Professores de descredenciadas do RJ fazem empréstimos para pagar contas

Cristiane Capuchinho

Do UOL, em São Paulo

22/01/2014 20h27

Sem receber salários desde outubro, professores da Universidade Gama Filho e da UniverCidade precisam fazer "malabarismos financeiros" para manter as contas da casa. O UOL conversou com docentes que relataram a necessidade de empréstimos, o corte de gastos em casa, e até casos de venda de automóvel e de leilão de apartamento por recorrentes atrasos nos salários, pagamentos parciais e falta de depósito do FGTS (fundo de garantia).

"Por falta de pagamento e com a dificuldade de pagar um advogado, tive o problema de um apartamento ir a leilão e perdi o imóvel", contou um professor, que pediu sigilo do nome.

Constrangimentos como falta de dinheiro para pagar as contas cotidianas e restrição de crédito em bancos não são casos raros entre os cerca de mil professores, segundo as associações de categoria. Em meio a atrasos por meses seguidos e pagamentos parciais, professores acostumaram-se a ter de fazer poupança e cortar custos da planilha doméstica. 

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"Eu tive que entrar em empréstimos também nessa situação. Estamos em uma situação de malabarismo, deixa de pagar uma coisa, pega um empréstimo para pagar outra", explica José Abramovicz, professor de design da UniverCidade desde 1982. "Estamos no limbo porque tiraram nossa força de barganha que era nossa força de trabalho", alarma-se o docente.

Entre as histórias que se acumulam há professores universitários com anos de carreira que tiveram de tirar seus filhos de escolas privadas, vender carro e até mesmo se mudar para casa de parentes por não poder pagar aluguel.

"A crise financeira afetou a vida de todo mundo", considera Jorge Atílio, professor de tempo integral da Gama Filho. Apesar de não receber salário desde outubro, Atílio continuou a dar aulas até dezembro, quando a categoria decidiu começar a terceira greve do ano. Além disso, manteve durante todo o período suas atividades como pesquisador, além da orientação de cinco mestrandos.

Um convite para ser consultor em um projeto da Comissão Nacional da Verdade feito no final do ano passado "veio a calhar" e está ajudando a manter suas contas. "Nesse momento todos estamos procurando instituições para dar aula, concursos para fazer e outras fontes de renda." 

Pagamentos irregulares há dez anos

Na UniverCidade, os professores passam por atrasos de pagamento desde 2010, além de reclamarem de problemas com o depósito do FGTS desde 2003. Na Gama Filho, os docentes dizem que o problema com pagamentos começou em 2012 e também há irregularidade com o recolhimento de obrigações trabalhistas.  

"Cada um tem uma situação financeira, mas é muito complicado. Chegamos a fazer recolhimento de dinheiro para ajudar colegas em necessidade", expõe Sidnei Amaral, professor de comunicação da UniverCidade e presidente da Adoci (Associação Docente da Cidade). 

A maioria dos professores não recebe salários desde outubro e tampouco receberam o 13° salário, há também dívidas de parcelas de pagamentos mais antigos que haviam sido acordados após as greves. Alguns docentes, afastados das instituições em setembro e readmitidos na sequência, têm salários atrasados desde setembro de 2013.

"Nunca tivemos salários em dia desde que a Galileo Educacional entrou. Saímos de um patrão que pagava com atraso, mas acertava uma parte dentro do mesmo mês, para um patrão que não pagava mais", conta o presidente da Adoci.

Se os professores passam por dificuldades, a situação dos funcionários parece ainda mais difícil. Na Universidade Gama Filho, os alunos organizaram uma campanha de doações para compra de cestas básicas para funcionários em dificuldade. 

Empregados sem emprego

O descredenciamento das duas instituições do Rio de Janeiro deixou os professores em uma situação estranha. "Os professores têm um vínculo com a Galileo e estão empregados. Mas o Ministério da Educação, com o descredenciamento, tirou o emprego dos professores. Os professores estão empregados e desempregados. Agora não sabemos quando é que vamos receber algum salário e se vamos receber", conclui Crisóstomo Peixoto, presidente da associação de docentes e professor da Gama Filho. 

São cerca de mil docentes, segundo as associações de categoria, que aguardam o edital de transferência assistida do MEC (Ministério da Educação) para saberem se terão apoio na realocação em outras instituições. De acordo com o ministério, o edital que será publicado amanhã deve pedir propostas de absorção dos professores, mas não há garantia de que todos os docentes sejam contratados por outras instituições.

 

"Arranjar colocação no mercado hoje de maneira individual é impossível pois todas as instituições já estão com seus horários prontos. Se não conseguirmos essa transferência [com o edital do MEC], só teremos chance de conseguir algo para o segundo semestre deste ano", diz.

Galileo diz ter plano de saneamento

Após o descredenciamento das duas instituições, Alex Porto, presidente da Galileo Educacional, empresa mantenedora das instituições, disse que tentaria na Justiça evitar o descredenciamento e que o grupo trabalhava para sanear suas dívidas

"Há inadimplência devido ao descompasso entre receita e despesa", admitiu Porto.   O aporte de R$ 33 milhões feito em setembro conseguiu pagar três meses (julho, agosto e setembro) de salários dos docentes e funcionários, que somam mais de 3 mil pessoas, mas não pôde  reverter a questão salarial. Porto  disse que a Galileo tentou que os portadores de  debêntures (títulos) das instituições liberassem R$ 31 milhões  em dezembro para que fossem pagos  os salários de outubro, novembro e dezembro, além do 13º salário, dos funcionários, mas não obteve êxito.

Sobre a fraude por falta de depósito de obrigações trabalhistas, como o FGTS, a Galileo disse que a atual gestão, à frente das instituições há um ano, não está envolvida nos crimes citados.