Topo

Gama Filho e UniverCidade: alunos temem atraso na conclusão do curso

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

17/01/2014 12h57

Medo de atrasar muito a conclusão do curso, receio de não conseguir pagar as mensalidades depois da transferência ou, ainda, não conseguir a emissão do diploma -- esses são apenas alguns dos problemas enfrentados por alunos da UGF (Universidade Gama Filho) e da UniverCidade (Centro Universitário da Cidade), descredenciadas pelo MEC (Ministério da Educação) nesta semana.

As duas instituições passam por crise financeira e, juntas, atendem cerca de 9.500 universitários.

O estudante Luiz Fernando Pinto, 23, concluiria sua graduação em teatro no primeiro semestre de 2014 pela UniverCidade. No entanto, não sabe mais se isso acontecerá.

“As coisas estão muito obscuras ainda. Ninguém sabe direito o que fazer. E no meu caso eu ainda tinha uma bolsa de 100% cedida pelo reitor. Agora com todos esses problemas não sei”, afirma Luiz Fernando. “Está muito complicado, pois mesmo se transferir o curso [proposta estudada pelo MEC] eu não terei condições de pagar a mensalidade. Não sei se minha bolsa será transferida também.”

Outro medo do jovem é que o último semestre letivo não tenha validade. Devido à greve de professores e alunos iniciada no primeiro semestre de 2013, o segundo semestre do curso iniciou apenas em outubro. Como solução específica para o problema do curso de teatro, os professores conseguiram em dezembro um acordo com a Universidade Cândido Mendes, que aceitou receber todos os docentes e os alunos.

Pagou o semestre, teve um mês de aula

Outra estudante que enfrenta problemas é Monalisa dos Santos, aluna do 7º período de ciências contábeis da UGF. Ela tinha conclusão prevista para julho de 2014 e, pelas suas contas, terá que adiar em um ano ou mais o sonho da graduação. Apesar da greve no segundo semestre de 2013, Monalisa continuou em dia com a mensalidade. "Parei de pagar em dezembro. Só pago quando resolverem [o que vai acontecer com o curso]", afirma.

“No final de 2013 eu deveria ter passado em cinco disciplinas e sobrariam apenas duas para eu fazer em 2014. Conversei com duas faculdades e uma já me informou que na equivalência de matérias eu tenho que fazer 16 para me formar. Isso vai aumentar [o curso] em um ano o meu curso -- ou mais”, explica.  “Todo o planejamento que eu fiz já era. Queria investir no inglês, em uma pós-graduação. E, agora, tudo isso acontece. É um absurdo! A universidade pegou nosso dinheiro, pegou nosso sonho.”

Segundo ela, mesmo as poucas aulas que tiveram no segundo semestre de 2013 não serão consideradas. “Conversei com o coordenador e ele disse que o semestre passado está encerrado e sem aproveitamento”, relata. “É muito complicado, muito triste e ainda estou pagando a formatura. Como vou pra uma festa de formatura sem ter previsão de quando vou conseguir concluir o curso? E não posso nem cancelar o contrato, pois vou perder dinheiro”

Problemas com a pós-graduação

As incertezas quanto ao futuro também atingem os estudantes dos cursos de pós-graduação.

Lara Emanuella da Silva Oliveira decidiu fazer uma pós EAD (Ensino à distância) em tradução de espanhol na Universidade Gama Filho em 2011. A estudante, formada em Letras pela UFS (Universidade Federal de Sergipe),  não conseguiu agendar a defesa do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e fazer as provas finais para conseguir o diploma até agora.

Durante o curso, alguns problemas já começaram a aparecer, como falta de retorno da universidade, atendentes desinformados e a demissão do coordenador da pós no meio do curso. “No fim da pós, no meio de 2012, eu comecei a tentar marcar uma data para a defesa do TCC e fazer as provas finais”, explica a estudante. “Agora não sei o que fazer. Disseram finalmente que em maio eu teria um orientador para fazer as correções no trabalho e agora a universidade é descredenciada?”, questiona.

“Escolhi a universidade pela qualidade no ensino. Ouvia falar que ela era uma das melhores do Rio de Janeiro e acreditava nisso”, relembra Lara, que investiu quase R$ 5 mil no curso.

Transferência para outras instituições de ensino

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro decidiu entrar nessa quinta-feira (16) com ação civil pública no Tribunal de Justiça do Estado para garantir que os alunos da Universidade Gama Filho e do Centro Universitário da Cidade recebam os documentos necessários à transferência para outras instituições de ensino.

Na quarta-feira (15), a Seprocon (Secretaria de Estado de Proteção e Defesa do Consumidor) autuou, por meio do Procon-RJ, o grupo Galileo, para que a organização entregue, em um prazo de dez dias, os documentos aos alunos que buscarem transferência. O grupo tem 15 dias para apresentar a defesa ante as dificuldades impostas aos alunos e será multado, caso seus argumentos não sejam aceitos pelo Procon-RJ.

Desde quarta-feira, alunos da Universidade Gama Filho acampam em frente ao Palácio do Planalto e dizem que só vão sair após falarem com a presidente Dilma Rousseff.