'Vivi essa questão', diz aposentado de 71 anos sobre pergunta de ditadura no Enem
A ditadura militar foi um dos temas que caíram no primeiro dia de provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2014. Dorival Pereira dos Santos, de 71 anos, disse que o tema abordado marcou sua vida.
O UOL entrevistou o aposentado, que trabalhava como ajustador ferramenteiro, no começo do dia. Na saída, o senhor de sorriso largo disse que se deu bem nas questões de humanas. “As atuais foram mais fáceis, mas exatas e biologia não estavam”, conta.
Ele lembra que o exame abordou pouco a questão da ditadura em sua opinião. “Eu vivi essa questão porque era um ativista. Tive amigas que foram mortas e uma que foi duramente torturada na delegacia de Ribeirão Preto, onde havia a cadeira do dragão. Lá as pessoas eram espancadas e tomavam violentos choques elétricos”, lembra com pesar.
Dorival conta que preferiu deixar o país em 1971 a bordo de um navio chamado Júlio Cesar. “Desembarquei em Genova e fui de trem a Paris. Pela Europa, encontrei as ditaduras de Franco, na Espanha, e de Salazar, em Portugal.”
Outro tema abordado no Enem 2014 e que atinge diretamente Dorival é a questão da escravidão. “Os negros saíram daqui para lutar por uma pátria que os escravizava na Guerra do Paraguai. É uma grande incoerência”, comenta. “Eu vejo essa questão com uma grande tristeza. Sinto na pele pelos meus ancestrais que viveram três séculos de escravidão, a maior de todos os tempos.”
O aposentado lembra que pôde viajar por tantos países por contar com uma condição econômica boa. “Meu pai tinha uma pensão de marmitas em Ribeirão Preto e minha mãe era uma prenda doméstica do começo do século passado”, recorda. “Tivemos uma casa ampla. Eu era o caçula de seis irmãos. Só eu estou vivo.”
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