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Repressão da PM a protesto foi mais truculenta que em 88, dizem professores

O professor de história Alfeo Luiz Capellari, 57, presenciou a repressão da PM a professores em greve em 1988 e no dia 29 - Fabiana Maranhão/UOL
O professor de história Alfeo Luiz Capellari, 57, presenciou a repressão da PM a professores em greve em 1988 e no dia 29 Imagem: Fabiana Maranhão/UOL

Fabiana Maranhão

Do UOL, em Curitiba

03/05/2015 06h00

30 de agosto de 1988 é lembrado pelos paranaenses como o dia que a Polícia Militar reprimiu com violência um protesto de professores em greve na praça Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico, em Curitiba. Quase 27 anos depois, o mesmo local foi palco de outra ação agressiva da polícia contra os grevistas na última quarta-feira (29). A reportagem do UOL conversou com professores que estiveram nas duas ocasiões.

"[A ação de quarta] foi muito mais truculenta [que a de 1988], tanto em proporção quanto no uso de armamentos", compara o professor de história Alfeo Luiz Capellari, 57, que há 27 anos ensina da rede pública.

Ele lembra que nos dois momentos ficou em cima do carro de som. "Em 1988, a barra estava pesada. Eu estava puxando o carro de som. Quando chegamos em frente à prefeitura, jogaram a cavalaria para cima da gente", conta.

Na quarta, ele fala que ficou no caminhão de som durante a manhã. "À tarde, tive de dar aula. Quando cheguei aqui [na praça] vi uma cena de guerra. Era sangue para todo lado. A prefeitura virou um hospital de campanha", detalha. "Do ponto de vista do que ocorreu, nem se compara com 1988. A situação foi desproporcional. Usaram helicópteros para jogar bombas; havia atiradores de elite nos prédios", diz.

O professor aposentado Mário Sérgio Ferreira de Souza, 59, também acredita que o que aconteceu no dia 29 foi pior do que ele presenciou na década de 80. "Em 1988, a repressão foi feita pela cavalaria e teve bomba de gás lacrimogêneo. Segundo eles [a PM], foi uma medida de contenção. Já na quarta foi um massacre. Colocaram todo o aparato no sentido de atacar, de agredir, e não na defensiva", afirma.

O professor aposentado Mário Sérgio Ferreira de Souza, 59 - Fabiana Maranhão/UOL - Fabiana Maranhão/UOL
O professor aposentado Mário Sérgio Ferreira de Souza, 59, acredita que a reação da PM contra os professores em greve na quarta-feira (29) foi pior que na ditadura
Imagem: Fabiana Maranhão/UOL

Na opinião do professor, que atualmente é secretário de assuntos jurídicos do APP (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná), a repressão de quarta foi ainda mais grave do que na época da ditadura. "Em 1981, durante a ditadura, os policiais formaram um cordão e nos empurraram até a praça Tiradentes. A gente empurrava eles e eles nos empurravam. Mas não houve truculência", lembra.

Ações da PM

No dia 29 de abril, 2.000 policiais militares cercaram o prédio da Assembleia Legislativa do Paraná durante votação de projeto de lei que altera a previdência dos servidores do Estado. Os policiais usaram balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes, deixando centenas de pessoas feridas. Doze pessoas foram detidas e dois adolescentes, apreendidos.

A matéria foi aprovada pelos deputados estaduais e sancionada no dia seguinte pelo governador do Estado, Beto Richa (PSDB), que defendeu a ação da Polícia Militar. 

Em 30 de agosto de 1988, a polícia reprimiu um protesto de professores em greve na praça Nossa Senhora de Salete, resultando em dez pessoas feridas e cinco detidas. Os docentes reivindicavam melhores salários e condições de trabalho.

À época, o então governador e hoje senador Alvaro Dias (PSDB) negou que a repressão tenha sido violenta. Sobre o confronto de quarta, Dias avaliou, no entanto, que houve exagero por parte da polícia e dos manifestantes.

Veja imagens do confronto entre PM e professores em 1988 e 2015