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Enem: 'Para estudar, a cabeça tem de estar boa', diz aluna sobre ausentes

As estudantes Raíssa da Silva e Isabela Medeiros, que fazem o Enem na PUC-Rio - Tatiana Campbell/UOL
As estudantes Raíssa da Silva e Isabela Medeiros, que fazem o Enem na PUC-Rio Imagem: Tatiana Campbell/UOL

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio

24/01/2021 12h29Atualizada em 24/01/2021 12h41

Alunos na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio), na zona sul da cidade, culparam a pandemia do novo coronavírus associada à falta de preparação adequada, pelo alto índice de ausentes do primeiro dia do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Foi a maior abstenção da história, com 51,5%.

Na dúvida entre pedagogia e ciências sociais, Raíssa da Silva, 18, disse que achou a sala cheia, "mas mesmo assim faltaram várias pessoas".

"Além do fato de a gente estar se expondo a uma doença com um número muito alto de mortes, também tem a questão de no início do ano achar que teríamos uma rotina de estudos, que todos estariam preparados, mentalmente também falando, mas isso não aconteceu", disse.

A amiga Isabela Medeiros, 19, quer cursar faculdade de engenharia civil. Para ela, quem perdeu familiares por causa da doença foi muito afetado.

Para a gente estudar, a gente precisa estar bem, tranquilo, com a cabeça boa, e a situação toda não está favorecendo isso. Muitas pessoas não conseguiram se concentrar. A maioria sentiu essa dificuldade na hora de estudar e devem ter optado por não fazer a prova.
Isabela Medeiros, estudante

Ana Beatriz - Tatiana Campbell/UOL - Tatiana Campbell/UOL
A estudante Ana Beatriz Araújo culpou a desorganização do governo federal pelo alto índice de ausentes no Enem 2020
Imagem: Tatiana Campbell/UOL
A estudante Ana Beatriz Araújo, 22, culpou o governo federal de Jair Bolsonaro (sem partido).

"Eu acho que isso foi por uma desorganização governamental. É uma prova que não deveria estar acontecendo nessa data, infelizmente não escutaram o que os alunos tinham para dizer. Não tem estrutura para fazer o Enem em cidades grandes, imagina nas cidades do interior. Aí com essas restrições da pandemia, fica mais difícil ainda. Houve falta de preparo do governo, não dos alunos", disse Ana Beatriz.

Na semana passada, muitos alunos relataram que o ar-condicionado ligado com as janelas fechadas foi algo que causou desconforto para muitos estudantes. Na sala de Ana Beatriz também foi assim. Portadora de baixa visão, ela ficou em uma sala específica para pessoas com deficiência.

"A gente sabe que é uma medida de segurança, então não deveriam fechar as janelas. É algo que bate um desconforto, um medo, em um momento tão importante para gente. Que define o nosso futuro."

Integrantes do Coletivo Juntos protestaram em frente a uma das entradas da PUC-Rio, na zona sul, reivindicando que os estudantes que não conseguiram comparecer no primeiro dia de prova do Enem, possam realizar o exame nos dias de reaplicação.

Um dos manifestantes, Theo Louzada, 25, disse ao UOL que a ausência dos candidatos é na verdade "ausência do governo em respeitar a saúde dos estudantes".

"Estamos organizando isso em diversos estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte por acreditar que esse é o Enem mais injusto da história. Foi a maior abstenção já vista. É uma irresponsabilidade muito grande do governo, os alunos vinham pedindo o adiamento do Enem", disse ele.

Hoje, no segundo dia de prova, os candidatos têm de responder 90 questões de múltipla escolha —45 de matemática e 45 de ciências da natureza— em cinco horas de exame.

Enem 2020; veja fotos