Halloween ou saci-pererê?
A opção pelo Halloween será quase que automática se a resposta vier de uma criança. Alguns congressistas “de raiz” até tentaram resgatar a lembrança da figura folclórica que emana da obra de Monteiro Lobato. Em 2005, criaram o Dia do Saci-Pererê para ser comemorado justamente no 31 de outubro. Ousadia das grandes que, a despeito de manifestações tímidas em algumas escolas, não colou. Nossas crianças acham muito mais divertido se fantasiarem de bruxa e monstros para assustar adultos e ganhar guloseimas.
Não podemos esquecer que a “propaganda é a alma do negócio” e, como todos sabem, desde que o importamos, o Halloween recebeu muito mais investimentos publicitários do que o magro saci-pererê. Embora, justiça seja feita, o saci ainda habite o universo dos adultos, seja pela música seja pela literatura.
O curioso é que em algumas regiões do país ainda se conserva brincadeira semelhante ao Halloween. No sábado de Aleluia (véspera da Páscoa), crianças se fantasiam com trapos, improvisam máscaras, pintam os rostos e vão de porta em porta assustar as pessoas. Só se retiram em troca de doces.
Muda o cenário, muda o idioma, muda o ritual, mas as histórias que ficam no imaginário das crianças são as que lhes permitem criar, perguntar e querer saber mais, aprender e interagir socialmente.
Tal é o valor dessa oportunidade que não importa se o saci tem mais ou menos apreço entre os pequenos atualmente. O que de fato importa é abrirmos caminhos para que nossas crianças se desenvolvam e descubram o mundo.
Gostar de ler
No início de outubro de 2012, a Fundação Itaú Social divulgou resultados de pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, que avaliou a percepção dos brasileiros sobre o incentivo à leitura para crianças pequenas.
Desde 2005, a fundação mantém o programa Itaú Criança que engloba diversas iniciativas educacionais. Uma dessas iniciativas é a campanha de mobilização de adultos “Leia para uma Criança”. Realizada anualmente desde 2010, a iniciativa engloba a distribuição de livros para pais, educadores e voluntários de instituições sociais.
A campanha deste ano deve confirmar a crescente participação de adultos empenhados em ler para crianças. Já no ano passado, a pesquisa do Datafolha realizada com pouco mais de 2.000 pessoas em 133 municípios do Brasil revelou alto índice. Dos entrevistados, 96% concordaram que é importante (20%) ou muito importante (76%) incentivar crianças de até cinco anos de idade a gostar de ler.
Os motivos para que esses entrevistados acreditassem na importância do incentivo foram: contribuição com o desenvolvimento intelectual e cultural (54%); formação educacional e criação do hábito de leitura (36%); desenvolvimento de valores éticos (10%); preparação para o mercado de trabalho (9%); formação e desenvolvimento pessoal (6%) e socialização (5%).
Significativa também foi a experiência pessoal de leitura dos entrevistados quando crianças. Segundo a pesquisa, a cada dez participantes, cerca de quatro afirmaram ter alguém que lia livros ou lhes contava histórias na infância.
Para compartilhar
A exemplo da Fundação Itaú Social, outras empresas investem no incentivo à leitura por meio de suas organizações sociais. A iniciativa é importante e precisa, sim, ser ampliada. De acordo com a própria fundação, só na faixa de 0 a 5 anos, visada pela campanha “Leia para uma criança”, há 16 milhões de crianças no Brasil.
Em outra escala, mas com efeitos também positivos, o hábito da leitura pode ser cultivado de diferentes maneiras e para pessoas de qualquer idade. Hospitais e asilos abrigam jovens e idosos que demandam carinho e uma boa história para atiçar seus sonhos pessoais.
Com boa dose de voluntariado, o livro continua a exercer papel transformador. Bibliotecas comunitárias e em empresas são fundamentais. Feiras de trocas podem ocorrer em qualquer canto. O local é o de menos para que o livro seja meio de compartilhar conhecimento e provocar reações.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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