Questão da Cisplatina (2) - Buenos Aires, Sacramento e o comércio
Desde sua fundação, em 1580, Buenos Aires sempre esteve mais articulada com o comércio português que com as atenções da coroa espanhola, a ponto de, em 1594, ter seu porto fechado pela metrópole. A tentativa de impedir seu comércio com os portugueses não teve, porém, resultado.
A união das coroas ibéricas (1580 a 1640) contribuiu para que essa proibição não fosse muito levada a sério e, pelo porto de Buenos Aires, continuaram a entrar, cada vez mais, manufaturados ingleses, holandeses e franceses, revendidos pelos portugueses.
Assim, prosperava o comércio de açúcar brasileiro, ferro e escravos, em troca de farinha, tecidos de algodão, ouro e prata. A importância da presença portuguesa na região pode ser avaliada pela crise da economia local, após a restauração da coroa portuguesa, em 1640. Desta vez, a Espanha levou a sério o fechamento do ponto de ligação entre as mercadorias transportadas pelos comerciantes portugueses e a prata que vinha de Potosí.
Economia lusitana em crise
As seis décadas de domínio espanhol deixaram um saldo desastroso para a economia lusitana e, como se isso não bastasse, o negócio do açúcar e o tráfico negreiro se encontravam sob o controle dos holandeses, que permaneciam no Nordeste, desde 1630.
Guiné e Angola, os dois centros fornecedores de mão-de-obra escrava para a lavoura de cana, foram invadidos logo depois. Caso os holandeses tivessem partido também para a região do Prata, como chegou a ser cogitado, a colonização portuguesa na América ficaria seriamente comprometida.
Sem dinheiro para reabrir à força o comércio com Buenos Aires, o rei D. João 4º pôde contar apenas com o voluntarismo de bandeirantes paulistas, mas estes foram derrotados pelos índios guaranis na região do rio Uruguai, armados pelo rei da Espanha.
Colônia do Sacramento
A impossibilidade de um avanço sobre a região levou os portugueses a fundarem, em 1680, uma cidade na margem esquerda do rio da Prata. Postada de frente para Buenos Aires, a Colônia do Sacramento deveria servir como uma nova conexão com o Peru.
O desenvolvimento de atividades econômicas entre a foz do Prata e Potosí ampliava o interesse dos "peruleiros" (comerciantes portugueses que atuavam na região). Além da prata, necessária para tentar reerguer o reino lusitano, também o couro, a erva-mate e a madeira eram cobiçados pelos mercadores portugueses.
Dessa forma, os portugueses procuravam ampliar um mercado ao mesmo tempo fornecedor e consumidor, que englobaria os atuais Uruguai, parte da Argentina, Paraguai, Bolívia e Peru. Na prática, isso representaria o fim do monopólio do comércio da Espanha com suas colônias sul-americanas. A reação espanhola foi imediata. A Colônia do Sacramento foi destruída logo depois de completada sua construção.
A descoberta do ouro, na última década do século 17, na região das Minas Gerais, diminuiu significativamente a disposição luso-brasileira de avançar para território hispano-americano, embora o Tratado de Madri, de 1750, viesse a confirmar a posse para o lado português de territórios ocupados anteriormente.
Reconstruída, a Colônia do Sacramento passaria a pertencer definitivamente ao lado espanhol, a partir de 1777, quando foi assinado o Tratado do Prado entre os reinos ibéricos.
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