Para professores de SP, propaganda de Haddad na TV é "enganosa"
Os professores da rede municipal de São Paulo consideram "enganosa" a propaganda que o governo Fernando Haddad começou a veicular na televisão no último sábado (18). Durante o vídeo, são anunciados os reajustes dados a professores: um de 10,19% ainda esse ano, e outro de 13,43% para 2014. A propaganda afirma ainda que os servidores de nível básico terão aumento de 80% no piso salarial; já os de nível médio, 42,5%.
A categoria, que decidiu ontem manter a greve que já dura 20 dias, reivindica 6,55% retroativo a maio de 2011; 4,61% retroativo a maio de 2012 e 6,51% referente a esse ano.
Para Simone Rezende, 40, professora de geografia do segundo ciclo do ensino fundamental em Pirituba, a notícia distorce a realidade e evidencia um acordo firmado com a gestão anterior, de Gilberto Kassab.
"Essa propaganda é totalmente enganosa. Primeiro porque os dois primeiros reajustes que ele está falando são de uma luta com o governo anterior. E os 80% que ele fala é de uma pequena parcela de trabalhadores que tinha salário de R$ 480", afirmou ela durante protesto dos professores. "Ela distorce e coloca a população contra a luta dos professores".
Propaganda de Haddad na TV
Professora de português na mesma escola, Grace Lopes, 29, concorda com a colega. "Infelizmente as pessoas são ignorantes, não pesquisam, não sabem da verdade. Isso é uma coisa que já tinha sido acordada na gestão anterior, e agora ele está falando que é um aumento. É ridículo, nós temos aumento de 0,82% enquanto os vereadores têm mais de 60%".
Leonice de Araújo, 38, explica que os números apresentados não são reajustes, uma vez que a categoria já recebe o valor desde o final de 2010. "Não estamos tendo aumento real de salário acima da inflação", analisou durante o protesto.
A Secretaria Municipal de Comunicação da prefeitura afirma que a campanha veiculada no rádio e na televisão entre os dias 18 e 21 de maio tinha o objetivo de "informar aos seus funcionários, incluindo os professores, os índices de reajustes concedidos".
Com a campanha publicitária, foram gastos R$ 3,1 milhões em produção e veiculação em TV e rádio.
Problemas
Professora do primeiro ano do ensino fundamental em uma escola do Jardim Lucélia, na zona sul da capital paulista, Leonice enfrenta problemas para lidar com as crianças com algum tipo de deficiência dentro da sala de aula.
"Acho que uma das maiores dificuldades na educação é lidar com essas crianças. Precisamos de maior apoio", acredita. "Há também a questão da alfabetização. Trabalho com isso e toda hora muda-se a política. Querem que a gente trabalhe hora com um método, hora com outro. Precisa-se definir um pouco melhor".
Para Juliana Gonçalvez, 50, que dá aula de português para os últimos anos do ensino fundamental e também participou da manifestação de terça-feira, além da questão de muitos estudantes por sala de aula, os professores enfrentam outros dilemas. "Há muita violência, falta de infraestrutura e desrespeito por parte dos alunos. E a gente quer fazer uma coisa boa para essas crianças, mas não consegue", conta.
Com receio de divulgar seu nome, S.S.S., 48, professora de São Mateus, acredita que é necessária muita coragem, paciência, tolerância e persistência para ser educador.
"Todo mundo acha que é muito fácil entrar em uma sala, com 35 alunos, você, sua voz e o giz. Convido o secretário de educação para ir à minha escola e conhecer a realidade. Não vou falar endereço porque lá não tem CEP, nem GPS pega", diz.
Negociação
De acordo com a Secretaria Municipal da Educação, já está sendo negociado um conjunto de dez propostas e programas de governo que incluem, entre outras coisas, a ampliação e melhoria do Programa de Educação Inclusiva na rede municipal, aumento do número de professores e servidores nas escolas e criação de um sistema de segurança escolar com a participação dos educadores.
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