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Weintraub defende autorregulação do setor privado: "Vocês têm que se virar"

Weintraub ao lado do presidente do Semesp  - Ana Carla Bermúdez/UOL
Weintraub ao lado do presidente do Semesp Imagem: Ana Carla Bermúdez/UOL

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

26/09/2019 14h08

Resumo da notícia

  • Abraham Weintraub chamou o Estado de "tijolo"
  • Defendeu que o setor privado de educação se autorregule
  • Discurso não foi bem recebido por diretores e reitores

Em um evento organizado por um sindicato patronal das mantenedoras de ensino superior, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, defendeu ostensivamente a autorregulação do setor privado.

"O que o governo vai fazer por vocês? Nada. Vocês têm que se virar", disse o ministro ao responder a pergunta do presidente do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior), Hermes Ferreira Figueiredo, que organizava o Fórum Nacional do Ensino Superior.

Figueiredo questionou quais seriam as ações do MEC (Ministério da Educação) quanto a uma eventual cobrança de mensalidades em universidades públicas e para o financiamento estudantil após a crise do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).

A fala foi recebida com silêncio na plateia, formada, em grande parte, por diretores e reitores de universidades privadas, além de professores.

"O Estado é tijolo, é uma invenção nossa, não faz nada por nós. Nós, brasileiros, é que saímos às ruas e fizemos que isso não virasse uma Venezuela", disse Weintraub.

Ao longo do discurso, o ministro jogou para o próprio setor privado a necessidade de elaboração de uma proposta "robusta" de reformas para implementação da autorregulação do ensino superior particular.

Após definir a si mesmo e ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) como liberais, o ministro afirmou aos presentes para aproveitarem essa "janela de oportunidades".

"A oportunidade é gigantesca. Vocês estão diante de um governo liberal", afirmou.

"Eu estou aqui para resolver rápido. Já passou um ano de governo. Façam autorregulação. O mercado financeiro tem BSM [Bolsa de Valores]. Se reúnam, vocês têm que se reunir e buscar a solução", disse.

Em tom de ameaça, no entanto, disse que quem "pisar fora da linha" vai falar com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

"Alguns de vocês já foram pegos", disse, rindo, em alusão à Lava Jato da Educação, anunciada para investigar supostas irregularidades em contratos do MEC. Em seguida, no entanto, afirmou que "a maioria é honesta".

Em sua fala, Weintraub também fez críticas ao PT e disse que o uso da palavra "educação" é fruto de "ideologização". Além de sugerir que o slogan do evento —"uma nova forma de pensar a educação"— fosse alterado para "uma nova forma de pensar o ensino", o ministro não poupou nem sequer o painel de cor vermelha colocado no palco.

"Podia mudar a cor daqui, verde e amarelo é bonito", disse. Weintraub, no entanto, usava uma gravata vermelha.

O tom agressivo do ministro, com uma série de críticas ao próprio setor privado, não foi bem recebido pelos presentes. Ao UOL, um diretor do setor classificou as colocações do ministro como "exageradas".

Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, disse que a entidade defende a criação de uma agência reguladora para avaliação do ensino superior, e não que o mercado se autorregule, como defende o ministro.

Segundo ele, o Semesp já enviou uma proposta ao MEC. "O que falta é talvez traduzi-la em uma proposta mais prática", afirmou.

"É uma agência reguladora, cujas regras vão ser feitas pelo próprio setor, pelos pares. Não há como você montar uma agência de acreditação, com todas as peças da avaliação, com gente de fora", defendeu.

A permissão de funcionamento das instituições de ensino superior, segundo ele, permaneceria sendo de responsabilidade do MEC.

"Não tem como fugir do EaD"

Em entrevista com jornalistas após sua participação no evento, Weintraub voltou a defender a autorregulação do setor de ensino privado.

"A gente, quando fala autorregulação, não é abandonar. A gente permite as pessoas de bem a trabalharem em paz", afirmou o ministro. Segundo ele, a autorregulação implicaria em menos fiscalização por parte do MEC.

Weintraub também disse ser inevitável "fugir" do EaD (ensino a distância). "O ensino a distância é uma realidade, é uma coisa que vai ter que acontecer", afirmou.

Para Weintraub, a qualidade dos cursos oferecidos a distância, ponto que preocupa especialistas da educação, não demonstra ser um empecilho para essa modalidade de ensino.

"EaD não é uma coisa negativa, o que é negativo é o ensino mal feito. É a empresa errada, o agente econômico que não cumpre as regras", declarou.

O ministro manteve o tom agressivo ao falar com jornalistas após sua participação no evento.

"Fez pergunta errada, eu vou embora, tá bom?", anunciou ao iniciar a entrevista.

Perguntado sobre o que seria uma "pergunta errada", disse que seriam "perguntas maldosas". "Quem fizer uma pergunta maldosa, eu vou embora", reforçou.

Weintraub falou por cerca de 15 minutos com os jornalistas, mas se recusou a responder uma pergunta de um repórter da rádio CBN. O ministro alegou que já havia respondido a uma pergunta da TV Globo - - veículo diferente, mas que pertence ao mesmo grupo.

O ministro se queixou, ainda, de jornalistas que faziam mais de uma pergunta.