Quem é Greta Thunberg e como as mudanças climáticas podem cair no Enem 2019
Resumo da notícia
- Adolescente sueca engajou jovens do mundo todo a agir contra o aquecimento global
- Movimento representa o medo sobre o futuro e o desencanto em relação aos governantes
- Mudanças climáticas são abordadas em disciplinas variadas no ensino médio
- É importante estudar o aquecimento global para o Enem 2019
Greta Thunberg é uma adolescente da Suécia que deu início a um movimento internacional de estudantes que pede medidas concretas para combater as mudanças climáticas. A iniciativa rendeu uma campanha pelo Prêmio Nobel da Paz em 2019 —vencido por Abiy Ahmed Ali, primeiro-ministro da Etiópia.
Tudo começou em uma sexta-feira, em agosto de 2018, quando a sueca, então com 15 anos, faltou à aula para protestar contra as recentes ondas de calor e os incêndios que afetaram o país. Ela se sentou em frente ao Parlamento da Suécia com um cartaz com os dizeres: "Em greve escolar pelo clima".
O protesto solitário de Thunberg ganhou o noticiário e inspirou jovens de todo o mundo a criarem mobilizações às sextas-feiras, para que políticos e autoridades mundiais cumprissem as metas de emissão de gases causadores do efeito estufa. O movimento, que ficou conhecido como "Fridays for Future", culminou em uma greve escolar global no dia 15 de março, com protestos em mais de cem países.
Vocês roubaram os meus sonhos e infância. Estamos no início de uma extinção em massa, e a única coisa que vocês falam é sobre dinheiro e o conto de fadas de crescimento econômico eterno. Como se atrevem?
Greta Thunberg, em um discurso feito na ONU em setembro
A adolescente também incomoda muita gente e recebeu críticas de que seu discurso é exagerado e apocalíptico. Donald Trump, o presidente norte-americano, a chamou de "histérica". Ela também foi acusada de ser "uma falsa santa" e de estar a serviço de ONGs ambientalistas e empresas que querem explorar o "mercado verde".
Thunberg já se posicionou sobre o assunto. "Estão muito desesperados em não falar sobre as crises climática e ecológica (?). Não entendo por que eles escolhem gastar tempo zoando e ameaçando adolescentes e crianças por promoverem a ciência enquanto poderiam estar fazendo algo de bom", escreveu no Twitter.
Mas o que esse movimento de juventude nos diz sobre os dias de hoje e como as mudanças climáticas são abordadas no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)? O UOL conversou com Luis Felipe Valle, professor de geografia e atualidades do Colégio Oficina do Estudante, de Campinas (SP).
Voz da juventude
Para Valle, Greta encarna o medo dos adolescentes sobre o futuro e o desencanto em relação aos governantes atuais.
"São estudantes, que em sua maioria, preocupam-se com o legado negativo de políticos e representantes de setores econômicos que não se importam com a sobrevivência de outros seres vivos e as futuras gerações, que já começam a enfrentar a escassez de água potável e de terras férteis, além da poluição em níveis inéditos e alarmantes da atmosfera, dos solos e de corpos hídricos."
Um dos aspectos mais interessantes da adolescente é a capacidade de engajar jovens do mundo todo a exigir ações.
Greta Thunberg surge como a voz dissonante de uma juventude que muitos dizem ter se alienado das causas ambientais, inerte em redes sociais e no universo digital, provando que há, sim, muita energia e consciência nessa faixa etária
Luis Felipe Valle, professor
Mas por que Greta incomoda determinados grupos? O professor relaciona a crescente politização da causa ambiental à polarização ideológica que o mundo vive hoje.
Além disso, chama a atenção para a ascensão do movimento negacionista do aquecimento global, que alega que não há evidências físicas da influência humana no clima global e são contrários aos consensos científicos estabelecidos sobre o tema.
Outro problema é que muitas vezes as informações científicas são mostradas de maneira espetacularizada ou sensacionalista, prevendo um cenário catastrófico para o futuro da Terra. "O desafio é filtrar, nessa mesma plataforma, as fake news e a pós-verdade apoiada no negacionismo anticientífico de quem se recusa a ver os graves problemas que já estamos enfrentando e avaliar com equilíbrio a nossa parcela de culpa sobre eles", afirma Valle.
O professor alerta que é preciso somar o discurso de Greta ao coletivo de pesquisadores, ambientalistas, lideranças comunitárias, povos tradicionais, como os indígenas, e ativistas que, há décadas, dedicam suas vidas a salvar o planeta.
"Para além do midiatismo bem-intencionado alavancado por Greta, resta saber: estaremos prontos para alterar estruturalmente um sistema baseado na crescente e incessante exploração de recursos naturais, à medida que se criam demandas igualmente lucrativas e predatórias?"
Segundo ele, é importante reduzir o uso dos combustíveis fósseis e repensar os modelos de produção e consumo para garantir a sustentabilidade da nossa sociedade.
E o Enem?
Os vestibulares historicamente cobram questões sobre problemas ambientais. O tema das mudanças climáticas é abordado em disciplinas do ensino médio de uma forma transversal. Pode aparecer nas questões de biologia, química, física, geografia e história.
Um conceito-chave é entender o efeito estufa, que se relaciona com o aquecimento global. Efeito estufa é um fenômeno natural pelo qual determinados gases presentes na atmosfera da Terra retém radiação infravermelha (calor) do sol, aquecendo a superfície do planeta. Sem o efeito estufa natural, a Terra seria excessivamente fria e muitos organismos não poderiam sobreviver.
Para compreender as mudanças climáticas do planeta é preciso, antes de tudo, lembrar-se de que as temperaturas da Terra variaram (e continuam variando) muito ao longo das eras geológicas, ao longo de bilhões de anos
Luis Felipe Valle, professor
Alguns dos grandes eventos de mudanças climáticas que aconteceram ao longo da história da Terra são cíclicos. Pesquisas geológicas indicam que existiram diversas eras do gelo, que se alternaram com períodos interglaciais. O final da última era do gelo inaugurou a atual fase interglacial.
Há cerca de 12 mil anos, o Homo sapiens passou a viver em um período de estabilidade climática, o Holoceno, que possibilitou o desenvolvimento da agricultura e o florescimento das civilizações.
Os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) comprovam que a sociedade do século 21 está vivenciando o aquecimento acelerado do planeta. A temperatura média global era pelo menos 1°C menor no período pré-industrial.
Nos últimos 2.000 anos, a temperatura se manteve relativamente estável, sem a mudança drástica dos tempos atuais. Do dióxido de carbono atribuível às atividades humanas hoje estocado na atmosfera, três quartos foram emitidos apenas nos últimos 70 anos. Dessa forma, o aumento em larga escala de gases de efeito estufa provoca um desequilíbrio energético, ao aprisionar parte do calor irradiado pela Terra que deveria voltar ao espaço.
"Apesar de se tratar de processos naturais, geralmente envolvendo variações na concentração de CO2 presente na atmosfera, decorrentes da relação entre distribuição de vegetação, absorção de energia solar, quantidade de água na troposfera e grandes eventos geológicos (como erupções vulcânicas), é preciso destacar que, desde a Revolução Industrial e, sobretudo ao decorrer do século 20, a queima intensiva de combustíveis fósseis aumentou a quantidade do gás na atmosfera", diz Valle.
Os últimos cinco anos (de 2014 a 2018) foram os mais quentes de todo o registro histórico, iniciado em 1880. Estudos constataram que, se as emissões continuarem na taxa atual, podemos experimentar até o fim do século uma temperatura de 3 a 5 graus mais quente do que temos atualmente.
A rápida elevação das temperaturas médias no planeta, apontada pelo IPCC, tem relação direta com as mudanças no clima e está relacionada à interferência das ações humanas. Atividades como a queima de combustíveis fósseis e os padrões de ocupação do solo, estão contribuindo para o aumento das concentrações de alguns destes gases, amplificando o efeito estufa natural de modo descontrolado.
Nas últimas décadas, nota-se o aumento de eventos extremos relacionados ao clima em distintas regiões do planeta. São exemplos o derretimento das calotas polares, a acidificação de solos e oceanos, o aumento de furacões, ondas de calor fora do normal e a acelerada perda da biodiversidade. Como consequência, as populações vão ter que lidar com desafios como a oferta de água potável, epidemias de doenças, condições precárias para a agricultura, a inundação de cidades costeiras, entre outros.
Tais eventos preocupam os cientistas, os governantes e a sociedade civil de maneira geral. O termo "crise climática" aparece com maior frequência no noticiário e em relatórios de organizações ambientais, na tentativa de "nomear" a urgência de ações concretas para a adaptação às mudanças.
Em 2015, durante o Acordo Climático de Paris, os países signatários se comprometeram a manter o aquecimento global abaixo de 2°C para evitar condições climáticas mais extremas, elevação do nível do mar e a extinção em massa de espécies de plantas e animais. O ideal seria limitá-lo a 1,5°C. Um estudo recente do IPCC mostrou que, para termos chances de respeitar esse limite, é necessário cortar metade das emissões de gases de efeito estufa até 2030.
Entre as ações concretas, além de medidas de mitigação (redução da emissão de gases poluentes), a ONU (Organização das Nações Unidas) recomenda a adoção de políticas de adaptação às mudanças climáticas para reduzir o risco de potenciais desastres e efeitos negativos como o aumento da insegurança alimentar, as migrações, as enchentes, entre outros.
Quando muitos animais e plantas são extintos em pouco tempo, a geologia considera que o fenômeno significa o início de outra era. As mudanças climáticas, o aumento da temperatura média da Terra e todos os desdobramentos desses eventos faz com que alguns cientistas acreditem que estamos vivendo uma nova era geológica, o Antropoceno.
Esse período seria identificado a partir das detectáveis mudanças ambientais antrópicas, ou seja, que resultam da atuação humana. No entanto, a tese ainda não é um consenso. Caso seja comprovada, este é o momento em que nos encontramos hoje. O termo "Antropoceno" foi criado em 2000 por Paul Crutzen, químico atmosférico ganhador do Prêmio Nobel (1995) e descobridor do buraco da camada de ozônio.
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