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Milton Ribeiro: Queriam colocar na mente de crianças que o capital era ruim

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, acredita que assuntos polêmicos deveriam ser tratados em fases mais avançadas da educação - Isac Nóbrega/PR
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, acredita que assuntos polêmicos deveriam ser tratados em fases mais avançadas da educação Imagem: Isac Nóbrega/PR

Do UOL, em São Paulo

25/08/2020 11h51

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse hoje que uma de suas prioridades à frente do MEC é o que chamou de "inversão" em relação ao ensino básico. Em entrevista à Rádio Bandeirantes, o ministro afirmou, sem citar exemplos concretos, que nos "últimos 10 ou 15 anos" algumas pessoas passaram a "ter a ideia" de que seria possível "colocar na mente e coração dos meninos da escola públicas" conceitos ideológicos, como o de que "o capital era ruim".

Milton Ribeiro disse que a intenção não é tirar o juízo crítico da educação, mas postergar para uma etapa de ensino em que o aluno esteja mais preparado "para ler e entender". Ele não especificou qual seria o período ideal, em sua avaliação, para introduzir o que chamou de assuntos polêmicos, mas afirmou que a prioridade para crianças e pré-adolescentes seria aprender "ferramentas básicas" para um futuro entendimento.

A resposta teve como origem uma pergunta que questionava como a educação brasileira era considerada deficitária mesmo com alto investimento.

"Eu creio que existe uma série de desencontros e discussões que se entremearam no foco maior do MEC, que é se preocupar apenas com educação. Isso talvez tenha atrapalhado nosso percurso nos últimos 10, 15 anos", disse Milton Ribeiro.

Para o ministro, neste período que corresponde aos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff e do emedebista Michel Temer, "começou a se ter a ideia de que a escola seria um campo fértil não apenas para procurar ensinar".

Milton Ribeiro então citou como exemplo uma suposta tentativa de, no ensino de crianças, introduzir discussões sobre os efeitos negativos do capitalismo. O ministro disse que esta percepção poderia ser verificada em livros, mas não detalhou em quais e nem em qual período de ensino eles foram recomendados a alunos.

"Mas ao lado do ensino, (começar a ter a ideia) de procurar colocar na mente ou no coração dos meninos das escolas públicas e tal alguns conceitos próprios e ideológicos de uma linha que eventualmente interpretava, por exemplo, o capital como algo ruim, empregador como ruim", disse.

"A gente teve livros, por exemplo, mesmo para crianças na escola básica, que discutiam o mal que o patrão fazia para o empregado. 'Seu pai chega mais tarde porque seu patrão exige demais dele'. Essas coisas que poderiam eventualmente ser discutidas em outro momento", completou.

Para o ministro, este tipo discussão deveria ser realizada em estágios mais avançados da educação, cabendo ao ensino de crianças e pré-adolescente o fornecimento do que chamou de ferramentas básicas.

"Não estou querendo tirar essa discussão crítica de cada um. Na minha percepção, não deveria ser introduzido neste período letivo, de ensino da criança. Com a criança e o pré-adolescente, o MEC deveria se esforçar em dar ferramentas básicas para que depois pudessem ter esse juízo crítico, quando soubesse ler de verdade, entendendo o que lê", disse.

"Do jeito que estava, seriam ótimas pessoas para discutir essas questões como essa que eu citei, mas incapazes de ler um texto e entender o que estava escrito", comparou.

Gênero

Milton Ribeiro encerrou o raciocínio defendendo o que chamou de inversão desta dinâmica. Ele ainda citou a discussão sobre gêneros como outro exemplo do que, em sua opinião, deveria ser tratado em fases mais avançadas do ensino.

"Essa inversão que estou querendo produzir, deixar alguma semente para o futuro, que nossas crianças tenham condições de ter esse instrumento, saber ler e entender. A questão do juízo crítico dessa ou daquela ideologia teria posteriormente, com condição de ela mesma avaliar questões polêmicas, como discussão sobre gêneros, enfim, todas essas questões", disse.

"Ela (no futuro) vai ter condições por ela mesmo de avaliar, mas não a gente procurar introduzir na mente dela, num período que a mente está bem plástica, valores que eventualmente são discutíveis por parte da população e não são uma unanimidade", disse.