"Minha filha desaprendeu a tabuada", diz mãe na volta a escola em Itu (SP)
Na saída de uma escola particular em Itu, no interior de São Paulo, o ambiente adverso da pandemia do novo coronavírus era amenizado pelos sorrisos dos alunos e alunas, perceptíveis mesmo com as máscaras. Na cidade, uma das que autorizaram o retorno destes estabelecimentos nesta semana para aulas de reforço e orientação, hábitos que envolvem pais, alunos, professores e funcionários voltaram, mas não como há seis meses.
No Colégio Cidade de Itu, um totem com álcool em gel e várias orientações substituíam os professores que poderiam receber os alunos cujos pais optaram pela volta. A temperatura de todos era medida na entrada. Não foram muitos os que compareceram, mas algumas mães decidiram levar os filhos às escolas para atenuar o déficit de aprendizado, reflexo de quase um semestre sem aulas presenciais.
"Minha filha desaprendeu a tabuada", conta Cristina Zuceti, autônoma que tem uma filha de nove anos na escola. "Esse ano já foi perdido. As aulas online ajudam, mas muitas vezes ela perdia o foco, queria fazer alguma coisa no meio da aula. E eu senti que ela esqueceu muito conteúdo, muita coisa de matemática e português."
A escola afirma que adotou todos os protocolos que foram firmados pelo Plano São Paulo, do governo estadual, e pelo município.
O Estado autorizou a reabertura de escolas nas regiões que estão há mais de 28 dias na fase amarela do plano, para acolhimento e reforço. Um limite de 35% da capacidade total de alunos deve ser respeitado. A retomada das atividades, entretanto, depende do aval das cidades.
Um decreto da Prefeitura de Itu liberou a reabertura das escolas particulares nesta semana, mas o retorno é facultativo.
Consulta a pais e mães
A direção do Colégio Cidade de Itu fez uma consulta com os pais e mães para saber quantos alunos poderiam retornar para as atividades de acolhimento e reforço. Carteiras foram separadas, álcool em gel foi disponibilizado e o primeiro dia de atividades foi dedicado a ensinar às crianças como se comportar em meio a pandemia.
"Muitos pais nos procuraram pedindo um posicionamento, por isso nós fizemos uma consulta. Alguns foram contrários ao retorno, outros já avisaram que os filhos não voltam este ano. Filhos de profissionais de saúde, por exemplo, se mostraram mais receosos com o retorno", afirma Rosana Maria Moraes, uma das coordenadoras.
Este primeiro dia foi de acolhimento, foi de ensinar um comportamento social em relação a tudo que está acontecendo. Depois, vamos passar para atividades que envolvam o lúdico, sem entrar no conteúdo
Mesmo com o retorno, os corredores da escola permaneceram quase vazios na quarta-feira (9). Nas salas observadas pela reportagem, o máximo era de três ou quatro alunos.
A escola adotou protocolo ainda mais rígido que o exigido pelo Plano São Paulo. O limite de alunos foi estipulado em 20%, e a carga horária ficou em 1h30 de atividade em dois períodos (manhã e tarde).
"Só volte se você se sentir segura, tudo bem?", diz a proprietária da escola, Lia Mara de Oliveira e Silva, a uma mãe que se mostrava angustiada.
Lia também se preocupa. Ela é mãe de dois alunos de 11 e 13 anos que estão matriculados na escola, mas estão em casa porque são asmáticos. "Cada hora alguém fala uma coisa [sobre asmáticos estarem no grupo de risco da covid-19]. Para prevenir, preferi que eles não viessem."
"Pais mudaram de ideia"
As prefeituras que autorizaram o retorno foram minoria no estado. No começo da semana, o Estado dizia que 128 dos 645 municípios de São Paulo planejavam reabrir as unidades escolares na terça-feira (8).
A adesão foi baixa tanto na rede particular quanto na pública. Balanço da Secretaria da Educação do Estado apontou que 200 escolas estaduais abriram no primeiro dia de retomada das atividades —3,5% do total da rede— e a maioria das unidades registrou procura de 10% a 15% dos alunos.
Em Itu, outras unidades particulares estão se adaptando ao funcionamento. A Escola Vagalume e o Colégio Lumen também fizeram uma enquete com os pais para saber qual a demanda para o retorno, e decidiram reabrir respeitando os protocolos de saúde. As salas de aula foram reformuladas, com adesivos explicando o distanciamento.
A bilíngue Maple Bear faz parte da lista das que reabriram as portas. Outras unidades da rede — que é focada em educação infantil e na primeira etapa do ensino fundamental — retomaram as atividades parcialmente em sete municípios paulistas. A escola também realizou uma pesquisa com os pais e constatou que mais da metade das famílias se sentia segura para enviar os filhos e filhas.
A instituição estipulou que professores e funcionários mantenham uma troca de roupa para uso exclusivo no local. A temperatura de todos os que entram no local também é medida. As crianças têm kits individuais de brinquedos, materiais de estudo e alimentação para evitar as trocas.
"Nesses dois dias recebemos ligações de pais que mudaram de ideia. Antes, estavam receosos, agora disseram que querem mandar os filhos. Acredito que na próxima semana teremos mais crianças", diz Nathalia Puccia, diretora da unidade da Maple Bear em Indaiatuba. Segundo ela, nos dois primeiros dias de retomada, a taxa de presença ficou entre 20% e 24%.
As crianças surpreenderam, chegaram com uma postura bem cautelosa na escola. Nosso foco foi o de acolhimento sócio emocional, a interação saudável e também um apoio e reforço de conteúdos já ministrados. Foi realmente um trabalho de apoio e, claro, modelando e treinando as práticas de higiene
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