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Insegurança, nervosismo: como encarar o vestibular sem ter pisado na escola

"Foi um processo de adaptação bem difícil", diz a estudante Claudia Nyari Righi - Arquivo pessoal
"Foi um processo de adaptação bem difícil", diz a estudante Claudia Nyari Righi Imagem: Arquivo pessoal

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

07/12/2020 04h00

"Me despedi de todos os meus amigos falando: 'Até daqui a 15 dias!'. No final, não foi nada disso." É assim que a estudante Claudia Nyari Righi, 17, descreve seus últimos momentos na escola, em março deste ano, antes da suspensão das aulas presenciais devido ao novo coronavírus.

Com chegada da pandemia no Brasil, jovens vestibulandos tiveram de se adaptar a uma rotina intensa de estudos em casa e encarar a ideia de fazer as provas praticamente sem ter pisado na escola no ano de 2020.

Nesse processo, sentimentos como ansiedade, insegurança e nervosismo, que já costumam aparecer entre os estudantes na reta final dos vestibulares, ficaram ainda mais presentes.

"Foi um processo de adaptação bem difícil", conta Claudia. Aluna do 3º ano do ensino médio no cursinho Poliedro, ela diz ter batalhado por cerca de cinco meses até conseguir retomar a rotina que tinha quando ia para as aulas presenciais.

"Antes eu acordava às 6h porque tinha que me arrumar, tomar café e pegar o transporte público até a escola. Eu tinha o porquê de levantar, que era para chegar à escola no horário. No online, eu não tinha isso", afirma a estudante, que quer cursar direito.

Sem saber ao certo quando os vestibulares iam de fato acontecer nem se em casa ela estava aprendendo tanto quanto na escola, a jovem diz que foi ficando cada vez mais triste.

Eu chorava, não podia ver nada do cursinho.
Claudia Nyari Righi, estudante

"Conversei com meus pais sobre eu estar muito insegura com o vestibular e comecei a fazer terapia. Foi muito bom, me ajudou muito", relata.

"É muito triste estar no terceiro ano e não ter pisado na sala de aula" - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
"É muito triste estar no terceiro ano e não ter pisado na sala de aula", diz Mariana
Imagem: Arquivo pessoal

Adaptações e (falta de) contato com os colegas

A dificuldade na adaptação para o ensino remoto também esteve presente na rotina de Mariana Bertoncini, 18. "Foi desafiador. Para mim, a parte mais difícil foi não ter perspectiva nenhuma sobre como seria [a retomada das aulas]. A gente não sabia se ia voltar nem se os vestibulares iam acontecer", afirma a jovem, que estuda no Anglo São Paulo e quer cursar economia.

Conseguir ter foco nas aulas online, para Mariana, foi um dos principais desafios. "Foi difícil prestar atenção, tanto por estar em casa como por ser em uma plataforma diferente."

Mesmo assim, ela diz se sentir preparada para os vestibulares. "Deu para estudar", afirma.

É muito triste estar no terceiro ano e não ter pisado na sala de aula.
Mariana Bertoncini, estudante

Giuseppe Alcaraz Masi - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O estudante Giuseppe Alcaraz Masi
Imagem: Arquivo pessoal

A ausência do apoio presencial dos colegas e dos professores também foi sentida por Giuseppe Alcaraz Masi, 17, que busca uma vaga em direito.

"É bem triste, porque é legal ter o contato com os amigos e os professores, que sempre foram muito receptivos e tentaram manter um contato próximo", diz o aluno do Poliedro.

"Um ano difícil"

Para Victor da Silva Santos, 18, "ficar estudando online é complicado". Aluno do pré-vestibular comunitário da Educafro, Victor é egresso da rede pública e define 2020 como "um ano difícil, ainda mais para estudantes de escolas públicas".

Bolsista do Prouni (Programa Universidade para Todos), ele já cursa administração em uma faculdade particular em São Paulo, mas faz cursinho porque tem o sonho de cursar direito na USP (Universidade de São Paulo).

Victor da Silva Santos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Victor faz cursinho para tentar uma vaga em direito na USP
Imagem: Arquivo pessoal

"No ensino presencial você tem mais contato com professores. No online, você tem que mandar e-mail para o professor para tirar uma dúvida, e ele responde dentro de três dias. Não é a mesma coisa. Até lá, você pode ter já pesquisado na internet, mudado de assunto nos estudos", explica.

Apesar das dificuldades, diz que conseguiu se organizar e, hoje, está mais tranquilo. "Já trabalhei o lado psicológico, emocional, de não colocar o vestibular como o meu único sonho. Se eu não conseguir no ano que vem, posso ainda tentar em 2022, em 2023."

Retomada ainda diferente

Em meados de outubro, colégios e cursinhos de alguns estados do país voltaram a abrir as portas. Claudia decidiu voltar para as aulas presenciais há cerca de duas semanas. As salas de aula, no entanto, já não são as mesmas de antes —como é preciso manter o distanciamento, nem todos os alunos retornaram para a escola.

Mesmo assim, diz estar contente com a decisão: "Estava com muita saudade e percebi que faz muita diferença no foco para os estudos."