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Internet é barreira para 42% dos alunos pretos e pardos, diz Unicef

74% das famílias afirmam que aluno só retornará quando considerar que não há risco de contaminação - Santi Vedrí/Unsplash
74% das famílias afirmam que aluno só retornará quando considerar que não há risco de contaminação Imagem: Santi Vedrí/Unsplash

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

30/06/2021 14h00

Dificuldade de acesso à internet ou baixa qualidade de conexão para assistir aulas on-line afetam mais os alunos pretos e pardos no Brasil, revela pesquisa divulgada hoje pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Segundo o estudo, 42% deles enfrentam essa barreira, enquanto 23% dos estudantes brancos relatam o mesmo.

Os dados fazem parte da terceira pesquisa sobre "Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes", outras duas edições foram feitas em julho e novembro de 2020.

Outra dificuldade relatada pelos entrevistados foi a falta de tempo de adultos disponíveis para acompanhar as atividades no ensino remoto. No geral, 35% afirmaram que sofrem com essa demanda, índice que sobe para 40% quando considerados apenas estudantes pretos e pardos.

Apesar do esforço de escolas e educadores, estudantes em situação de maior vulnerabilidade têm menos acesso à internet e ao computador, o que limita as suas oportunidades de estudar e aprender adequadamente em casa."
Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil

A falta de equipamentos adequados para as atividades a distância também foi apontada pelos entrevistados. Para pessoas com renda salarial de 2 a 5 salários mínimos, a taxa é de 14%. Quando se observa o percentual de famílias com até um salário mínimo, o número é três vezes maior, 54%.

Segundo a pesquisa, 29% dos alunos brancos usam apenas o celular para as atividades remotas, o mesmo que ocorre com 48% dos estudantes pretos ou pardos. "É urgente reabrir as escolas em segurança e ir atrás de cada menina e menino que não conseguiu se manter aprendendo na pandemia, para prevenir danos irreversíveis a uma geração inteira de crianças e adolescentes pobres", defende Florence.

As escolas têm oferecido aulas remotas das seguintes formas:

  • Pelo Whatsapp (71%);
  • Por atividades impressas (69%);
  • Em plataformas como Google Sala de Aula (55%);
  • Outras plataformas online (49%);
  • No YouTube (28%);
  • Pela TV (14%).

Retorno presencial na pandemia

A Unicef também apontou que caiu o número de brasileiros que querem escolas fechadas. Na primeira pesquisa, em julho do ano passado, 82% dos entrevistados afirmaram que era "muito importante" manter as escolas fechadas como medida de prevenção da covid-19. Em novembro, na segunda rodada, o percentual diminuiu para 71% e agora caiu para 59%.

Apesar disso, mais da metade, 74%, afirma que só retornará quando considerar que não há risco de contaminação pelo novo coronavírus. Dos entrevistados, 41% disseram que a escola já oferece atividades presenciais. Desses, 54% está no Sul e 35% no Nordeste.

Florence reforça a importância de envolver todos da comunidade escolar — funcionários, alunos e famílias — no planejamento e execução de retorno, além de comunicar sobre os protocolos sanitários. "Além de ventilação, vacinação em massa e higienização das mãos, a escola pode incluir uma educação híbrida, com turnos [de alunos]", sugere.