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Redação do Enem: entenda o que é avaliado para calcular a nota da prova

Redação do Enem pode ter boa nota se candidato conseguir cumprir todas as cinco competências exigidas - Getty Images
Redação do Enem pode ter boa nota se candidato conseguir cumprir todas as cinco competências exigidas Imagem: Getty Images

Gabriela Fujita

Colaboração para o UOL

06/09/2021 04h00

A redação é uma das maiores aflições para quem almeja um bom resultado no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Feita no primeiro dia de provas, com outras 90 questões, tem como nota máxima mil pontos. Dependendo de quanto o candidato conseguir tirar, pode atrapalhar muito a entrar na universidade desejada.

O segredo para se sair bem, dizem professores ouvidos pelo UOL, é entender o que os corretores vão avaliar. Ninguém quer saber se você tem talento literário para ser o próximo Machado de Assis ou a nova Clarice Lispector. O que vale é entregar os quesitos exigidos, conforme divulgado aos candidatos na cartilha do MEC (Ministério da Educação).

Entenda quais são as cinco competências que devem ser cumpridas, cada uma contando 200 pontos para a nota:

1. Linguagem

"A primeira competência diz respeito à linguagem. É basicamente domínio da norma culta, tentar cometer o mínimo possível de desvios gramaticais, e, ao mesmo tempo, tentar não apresentar a linguagem excessivamente simples", explica o professor de redação Felipe Leal, do curso Anglo, em São Paulo.

Essa tarefa deve ser relativamente fácil de ser cumprida: "Mostrar a capacidade de fazer uma frase um pouco mais complexa, com algumas orações intercaladas", explica Leal.

2. Adequação à proposta

Na segunda competência, é esperado do candidato, segundo a cartilha do MEC, "compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa".

Isso quer dizer que o estudante deve mostrar que entendeu sobre o que deve escrever.

"São duas coisas mais importantes: o tema e o repertório. A parte do tema, é fundamental que, pelo menos uma vez no texto, todas as palavras-chave apareçam, as palavras-chave repetidas ou sinônimas", recomenda Leal. "A dica é, já na introdução, repetir o tema completo ou usar palavras equivalentes a todas as partes do tema."

Ele cita o concurso do ano passado como exemplo, cujo tema foi o estigma associado a doenças mentais no Brasil. "Muita gente falou bastante sobre doenças mentais na sociedade brasileira, mas não falou sobre estigma. Isso faz com que a nota caia bastante, porque você desconsiderou um dos termos do tema."

Na parte de repertório, o indicado é, pelo menos uma vez no texto, mas de preferência mais de uma vez, trazer informações que não estão na própria proposta, nos textos-base, para mostrar um repertório cultural próprio, diz o professor: "Aqui podem ser citações de filmes, citações de livros, citações de conceitos filosóficos e também conhecimentos de outras matérias".

3. Coerência

De forma resumida, a terceira competência a ser desenvolvida na redação é a unidade das ideias presentes no texto.

"O que é mais importante: projeto de texto e desenvolvimento das ideias. Antes de escrever, planejar bem o que vai estar em cada parágrafo, isso que é o projeto de texto, e mostrar isso para o examinador", orienta o professor. "Já na introdução, fazer uma antecipação. Mostrar, por exemplo, que a causa do problema é X e a consequência é Y."

Na parte do desenvolvimento das ideias, é crucial lembrar que, na dissertação argumentativa, não se pode só afirmar as coisas: "Você tem que afirmar e depois mostrar para o seu leitor porque você está fazendo aquela afirmação. Sempre tentar, em cada parágrafo, por exemplo, apresentar dois argumentos para cada ideia. Sempre tentar desenvolver a ideia, não só jogar lá", afirma Leal.

4. Coesão

A missão na quarta competência é a articulação entre as ideias do texto. O professor Leal reforça a importância dos operadores argumentativos.

"O Enem obriga que você tenha pelo menos dois operadores argumentativos entre os parágrafos. Quais são esses operadores argumentativos? De modo geral, os mais usados serão de adição ou de consequência. Por exemplo, se você tem um texto que tem duas causas, um em cada parágrafo, aí você vai usar um operador de adição. Causa um mais causa dois. Esse operador pode ser 'além disso', 'ademais', 'outrossim'."

"Outra possibilidade seria um operador de consequência, quando você traz uma causa no primeiro parágrafo e uma consequência no segundo. Aqui, eu usaria 'consequentemente', 'em consequência disso', 'em decorrência disso'", afirma.

"Na conclusão, eu usaria sempre os mais clássicos mesmo. Já começar falando com 'portanto', 'dessa forma', 'dessa maneira', 'e enfim'."

5. Proposta de intervenção

A competência cinco é uma das que mais geram dúvidas, de acordo com o professor, e a dica é que a proposta de intervenção a respeito do tema da redação seja tratada de forma completa, não superficial.

"Tem alguns elementos que a banca vai exigir que estejam presentes: a ação, o agente, o modo meio, o efeito e o detalhamento", orienta.

  • Ação: é a medida que vai ser tomada
  • Agente: é quem vai tomar essa ação (por exemplo: órgão governamental, algum elemento da sociedade, empresas, organizações não governamentais, escolas)
  • Modo meio: como a ação vai ser realizada
  • Efeito: a finalidade, o para quê

"O detalhamento é o mais complicadinho, é apresentar uma informação a mais sobre qualquer um dos outros quatro elementos", sugere Leal. "Algum detalhe sobre o agente, sobre a ação e algo do tipo."

Em muitos desses casos, é possível resolver esse ponto dando um exemplo ou uma justificativa.

"Se você consegue colocar esses cinco elementos, sua proposta por completo, isso é até mais importante do que a qualidade dela. Ninguém vai cobrar que o aluno seja um especialista em políticas públicas."

"Redação é como fórum para resolver um problema"

Imaginar-se como participante de um encontro nacional para resolver um determinado problema no Brasil. Essa é a analogia encontrada pela professora Aparecida Custódio, do laboratório de redação do Objetivo, em São Paulo, para dar uma ideia de como o texto deve ser encarado.

Na avaliação da professora, a redação pode ser vista como uma "prova de cidadania", pois convoca os estudantes a discutirem soluções.

"Neste fórum, é lançado um problema, que vai ser objeto de discussão de todos aqueles estudantes que se inscreveram. Além das discussões e das relações de causa e efeito, as diversas abordagens em torno do problema, haverá também a necessidade de cada um dos participantes de propor uma possível solução para aquele problema, propor uma possível intervenção", ela diz.

Custódio entende que, uma vez que o tema e os conteúdos auxiliares indicam claramente sobre o que o texto deve tratar, não há muito como fugir do que está imposto. E isso pode ajudar o candidato a entregar o que a banca avaliadora está buscando.

"A banca já dá um encaminhamento sobre o tema, não tem como escapar, ali não é democrático. É um problema e ponto. O candidato não pode questionar aquilo", ela explica.

"O estudante não se limita a discutir ou a apontar os problemas, as suas causas, os seus efeitos, mas ele vai além, ele propõe uma possível forma de intervir", finaliza.