Enem: Alunos com deficiência se preparam com vídeo e ajuda de redes sociais
Aos 17, o estudante Vinicius Paz vai usar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como porta de entrada para seu sonho de cursar medicina. Aluno da Escola Estadual Francisco Voccio, na zona norte na capital paulista, diz ainda não ter definido em qual área da saúde vai se especializar.
Com deficiência intelectual, ele conta com atendimento educacional especializado, aos cuidados da professora Lucimara de Lima, 49.
A educadora diz que, com a pandemia, teve de mudar o estilo da preparação.
"A gente precisou utilizar muito as redes sociais para a comunicação. Produzi muitos vídeos para que as matérias chegassem com qualidade aos estudantes", conta ela. O aluno elogia e diz estar "adorando" a volta às aulas.
Das duas escolas em que Lucimara auxilia estudantes com deficiência, ele é o único que prestará o Enem, em 21 e 28 de novembro.
Segundo levantamento do Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Instituições de Ensino Superior), há mais de 3.000 pessoas com alguma deficiência mental inscritas nesta edição.
A versão 2020, realizada em janeiro deste ano, teve um total de 47 mil pessoas com alguma deficiência que se inscreveram na prova e solicitaram assistência. É o dado mais atualizado do Inep (Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela organização do exame. Para a prova de 2021, essas informações não foram divulgadas.
'Deficiência não define quem a gente é'
Gabriela Bezerra, 17, atualmente cursa o terceiro ano do ensino médio integrado na escola técnica Carlos Botelho do Amaral, do Centro Paula Souza, em Guariba, cidade próxima a Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Além das aulas normais, ela faz o técnico em química.
Ao nascer, foi diagnosticada com deficiência visual. Ela sempre estudou em escola regular e ressalta o apoio que recebeu.
"Logo no primeiro dia em que eu cheguei à escola, já tinha tudo preparado para me receber. No meu caso, eu preciso de uma lupa específica para fazer a leitura das matérias."
Acho que precisamos entender que a nossa deficiência não define quem a gente é."
Gabriela Bezerra, estudante com deficiência visual que vai prestar o Enem
Diz que não teve dificuldades para fazer sua inscrição. Ela solicitou a versão ampliada e um maior tempo para a realização do exame. Após a apresentação de um laudo médico, ambos os pedidos foram aceitos.
"Considerando a proporção que a prova tem e a preocupação que é necessária para a organização, não achei que tenha sido muito burocrático", afirma a estudante.
Gabriela ainda não definiu qual curso irá fazer, mas não deve ser relacionado à química. No ensino técnico, ela conta que teve bons professores de português e de história, o que fez com que decidisse ampliar suas aspirações profissionais.
Agora, diz querer fazer faculdade na área de humanas. E, para o futuro, tem o projeto de escrever um livro ficcional sobre uma princesa com deficiência. Ela se inspirou em um professor com deficiência visual que deu aulas para ela e fez com que entendesse a importância da representatividade.
"Também gostei muito da estrutura do Centro Paula Souza. Eles foram muito responsáveis e providenciaram tudo o que foi necessário para que a minha educação fosse realizada com equidade."
A instituição tem oito alunos com deficiência no último ano do ensino médio. Ao todo, nas Etecs do Centro Paula Souza há 45 alunos com alguma deficiência matriculados.
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