Enem 2021: Estudantes relatam apreensão com temas censurados e ditadura
A estudante do 3° ano Nayane Assis, 17, diz que veio fazer a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) hoje mais nervosa do que esperava.
Segundo a jovem de Maceió, as últimas notícias de que questões da prova podem ter sido censuradas, e as demissões no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela aplicação, elevaram sua tensão.
"Isso me assustou demais isso, principalmente pelo fato de trocarem golpe por revolução. Isso me deixou nervosa, confusa e preocupada", diz. "Todos nós sabemos que foi golpe e, se o presidente pediu para trocar, é porque viu a prova, e isso é bastante preocupante."
Ela conta que, por conta das notícias, decidiu reforçar os estudos sobre a ditadura militar. "Me preparei de última hora sobre isso, fiquei repetindo bastante que foi golpe. Decorei algumas partes também importantes", diz a jovem, que quer cursar psicologia.
A jovem, que é aluna de escola pública, diz que teve a preparação prejudicada pela pandemia, já que as aulas presenciais só foram retomadas em agosto.
"A preparação foi um pouco complicada por faltarem aqueles cursinhos preparatórios. Mas, com a volta das aulas presenciais, a escola se dedicou bastante, e a preparação foi bastante boa", diz a aluna da escola Moreira e Silva, em Maceió, onde também irá prestar o Enem.
Nayane foi acompanhada pela mãe, Niranilde Assis de Jesus, 60, que é aposentada. "Moro aqui perto, vim dar força a ela e vou voltar para buscar ao fim da prova", conta.
No colégio Augusto Maia em Itaquera as estudantes Julia Silva e Geovana Santos, de 18 anos, afirmaram que as questões ideológicas do governo podem alterar o conteúdo do Enem deste ano.
"Acho que vão surgir temas como a ditadura militar, mas relacionado a algo positivo. Isso é ruim porque induz o pensamento das pessoas", diz Geovana.
Sentado no meio fio da calçada à espera da abertura dos portões da PUC-Rio, um dos locais de aplicação do Enem, o estudante João Pedro Soares, 19, diz que não está preocupado com a possibilidade de se deparar com um conteúdo "com a cara do governo [Bolsonaro]", como citou o presidente da República em referência ao exame recentemente.
"Acho que não vai interferir em muita coisa. Podem mudar uma palavra ou outra, mas a gente sabe a verdade. A gente estudou", diz candidato ao Enem em referência suposta mudança do termo ditadura militar para regime militar.
Ele fará seu primeiro Enem. Terminou o ensino médio no ano passado, mas não se sentiu confiante para a edição de 2020, que aconteceu em janeiro deste ano. Ele tenta ser aprovado no curso de geologia e concluiu o ensino médio em uma escola particular no Rio.
Thaisnara Ferreira, 19, fará prova no local em que cursa o 3° ano, na escola Moreira e Silva, em Maceió.
"Desde agosto, as aulas voltaram e ajudou muito. Procurei não focar nas notícias do Inep. Vi que estavam ocorrendo saídas [as exonerações de funcionários do instituto], mas acredito que a prova será boa e vou conseguir passar", diz a jovem, que quer ser relações públicas.
Louise Ferreira, 19, que não fez o vestibular no ano passado por depressão e ansiedade, disse estar pronta para a prova de 2021.
Com camiseta com os dizeres "Fogo nos racistas", a jovem afirmou ter ficado com medo dos pronunciamentos de Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a prova, mas vê a educação como "mais forte do que o governo".
Para ela, manifestações políticas na prova gerariam um "grande escândalo".
"A nossa geração está bem por dentro e estamos querendo mudar o Brasil do nosso jeito, mesmo que só um pouquinho. Esse governo do Bolsonaro já era", afirma.
* Com reportagem de Letícia Mutchnik, Carlos Madeiro, Hygino Vasconcellos, Aliny Gama, Marcela Lemos, Beatriz Mazzei e Rosiene Carvalho.
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