Por que prefeitos veem reajuste de professores como desafio no orçamento
O novo piso de R$ 3.845,63 para professores de educação básica —definido em portaria assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro— tem sido visto por prefeitos como um desafio para os cofres municipais. O governo federal chegou a sinalizar que iria barrar o reajuste de 33,2%, mas depois confirmou o aumento —o que fez as prefeituras criticaram a decisão.
Apesar da definição do reajuste partir do governo federal, os 2 milhões de professores da educação básica, da rede pública, são vinculados a estados e prefeituras, que são responsáveis pelos seus salários.
A Lei do Magistério, de 2008, prevê que o reajuste seja atrelado ao valor por aluno anual do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), principal instrumento de financiamento da área.
O fundo, criado em 2007, teve mudanças aprovadas em 2020. Antes, ele era formado principalmente por impostos dos governos municipais e estaduais e complemento de 10% do governo federal —cerca de R$ 16 bilhões no ano até 2020. Com as alterações, o porcentual repassado pela União foi a 23% desde o ano passado. Essa porcentagem, no entanto, será incluída de forma escalonada até 2026.
Como é calculado o valor por aluno
Até uma nova legislação ser discutida e aprovada pelo Congresso, especialistas e parlamentares afirmam que continua em vigor a Lei do Magistério de 2008. Nela, consta que o valor do piso deve ser calculado com base na comparação dos últimos dois anos do valor por aluno anual.
"O valor aluno-ano é o valor mínimo estabelecido para repasse do Fundeb para cada matrícula de aluno na educação básica por ano", explica o MEC (Ministério da Educação).
A lei que regulamenta o Fundeb traz uma fórmula complexa para calcular o valor por aluno e leva em consideração o número de matrículas, a unidade de federação em que o aluno foi inscrito, potencial de arrecadação, qual é a rede de ensino, nível socioeconômico e outros fatores.
Este cálculo é feito pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e publicado no Diário Oficial pelo governo federal.
A partir desse valor por aluno, o governo chegou aos 33,2% de reajuste. O que prefeitos questionam é se a Lei do Magistério está mesmo em vigor após as mudanças do Fundeb.
O que as prefeituras dizem
Para o prefeito de Aracaju (SE), Edvaldo Nogueira (PDT), presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, a maioria das cidades já utiliza maior parte do Fundeb para quitar a folha de pagamento. Com o reajuste, o impacto financeiro seria ainda maior.
"Algumas prefeituras, além do impacto na folha de pagamento, podem sofrer dificuldades na Previdência. Para cada 10% de aumento na folha dessas cidades, por exemplo, existe um aumento de 30% na previdência", afirma Nogueira.
A CNM (Confederação Nacional de Municípios) calcula que a medida pode impactar em cerca de R$ 30,4 bilhões nos cofres dos estados e municípios, responsáveis pela maioria dos salários dos professores da educação básica.
O que o governo federal diz
Durante assinatura da portaria do reajuste, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que recebeu pedidos de prefeituras e governos estaduais para adotar o reajuste de 7%.
"Eu conversei com o Milton [ministro da Educação]. O dinheiro, de quem é? Quem é que repassa esse dinheiro para eles? Somos nós, governo federal. E a quem pertence a caneta Bic para assinar o reajuste? Presidente, essa caneta Bic, quem vai usá-la sou eu eu", disse.
A reportagem do UOL procurou o MEC e a Secom (Secretaria Especial de Comunicação) para saber seu posicionamento a respeito das declarações das prefeituras. As pastas, no entanto, não responderam.
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