Ufopa: Sem infra, pesquisa de fungos atrapalha pesquisa de sementes
A falta de laboratórios em número suficiente para acomodar alunos e professores da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará) provoca situações esdrúxulas. Caso emblemático é o do Laboratório de Sementes Florestais. No laboratório convivem –ou deveriam conviver— quatro professores e suas pesquisas. No entanto, a pesquisa com sementes florestais não pode ser feita, pois a pesquisa com fungos, locada em uma bancada vizinha, contaminaria as amostras.
O laboratório, herdado da Ufra (Universidade Federal Rural da Amazônia), costumava certificar as sementes de pequenos agricultores da região. O trabalho deixou de ser feito por falta de equipamentos e espaço adequados.
Mais sobre a Ufopa
De acordo com a Ufopa, até o final do mês de maio serão entregues 12 laboratórios e espaços de pesquisa no campus Tapajós, entre eles os de Farmacologia, Farmacotécnica e Microbiologia.
No programa de antropologia e arqueologia, “com muito custo”, os professores conseguiram uma sala no hotel para alocar suas pesquisas e seus bolsistas. Na sala, o único computador oferecido pela faculdade foi cedido pelo coordenador Pedro Leal, que agora usa apenas o equipamento pessoal em sua sala.
A apropriação de recursos privados para benefícios públicos parece corrente dentro da universidade. Provas e materiais impressos distribuídos para os alunos de licenciatura são fornecidos às custas dos professores: não há impressora ou verba para cópias, afirma o professor Aguinaldo Rodrigues Gomes, da licenciatura em história e geografia.
No caso do professor Luiz Fernando de França, da licenciatura em português e inglês, seus bolsistas são orientados a pesquisarem cada um em sua casa, com seus computadores e, na maioria das vezes, usando livros dos professores. A biblioteca da instituição também não está equipada adequadamente.
O problema de espaço para salas de aulas e laboratórios da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará) só deve ser completamente resolvido em 2017, quando deverá estar pronto um edifício entregue em quatro etapas no campus Tapajós, segundo o reitor José Seixas Lourenço. Em 2017, já deverão ter se formado, ao menos, universitários de duas turmas. A construção do edifício ainda não foi iniciada.
E a pesquisa
Dos 266 professores na instituição, 130 são doutores e 127 são mestres, informações do Plano de Desenvolvimento Institucional da universidade. Apesar de quase metade do corpo docente ter o nível de titulação de líder de pesquisa, a falta de laboratórios, de espaços de estudo, de bibliografia e de material dificultam o trabalho dos pesquisadores.
“Não temos como concorrer de igual para igual pela verba dos órgãos de fomento. No projeto de pesquisa preciso apontar qual a infraestrutura que o projeto vai ter e não tenho nada”, reclama o professor Gomes, da licenciatura em história e geografia.
Na quinta-feira (4), quando a reportagem esteve no campus, a bolsista Julia Batista Azevedo estava agoniada com o futuro de sua pesquisa em agronomia.
“Não temos viveiro. Encontramos um espaço no campus para fazer nosso experimento e plantamos diversas coisas, agora me dizem que minha pesquisa vai ter que sair dali porque vão construir um prédio”, contou. “Eles iam começar a brotar agora. Acham que é como se fosse um vaso, que é só trocar de lugar”, disse indignada.
“Os professores vivem de pesquisa. Os alunos também aprendem mais com a pesquisa do professor”, frisa Rodrigo Fadini, professor de ecologia florestal.
Abandonar navio
“Estamos perdendo professores ótimos que estão se desiludindo e indo embora”, alerta a estudante do bacharelado interdisciplinar em biotecnologia e farmácia Taiara Andrade Picanço.
“A gente mesmo se coloca um prazo para esperar que a situação melhore, se não, vou embora”, comenta Fadini.
No curso de licenciatura integrada em história e geografia, dos 15 professores existentes, 6 ou já deixaram ou estão em processo de saída da instituição.
Os cursos de ciências econômicas e de farmácia são dois dos que têm sua continuidade ameaçada por falta de professor. Serão trazidos docentes de outras universidades federais para assumirem aulas nos próximos semestres, afirma o reitor José Seixas Lourenço, que confirma que as graduações passarão por uma reavaliação para saber se têm condições de seguirem ofertando vagas.
Os professores não são os únicos a deixarem vagas ociosas na Ufopa. Das 290 cadeiras oferecidas anualmente nos cursos de licenciatura, metade não é preenchida. Um dos bacharelados interdisciplinares oferecidos pela instituição, o de etnodesenvolvimento, não tem nenhum aluno matriculado no momento.
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