Alunos de escolas públicas buscam respostas para o amanhã

Maria Alice Setubal

Maria Alice Setubal

"A mudança climática é real. É a ameaça mais urgente à nossa espécie e precisamos trabalhar coletivamente e parar de adiar [essa questão]. Precisamos apoiar os líderes do mundo todo que falam por toda a humanidade, pelos povos indígenas, pelos bilhões e bilhões de pessoas desamparadas que serão as mais afetadas por isso, pelos nossos netos e por essas pessoas que tiveram suas vozes afogadas pela ganância política", disse o ator Leonardo DiCaprio, na entrega do Oscar 2016.

Essa fala teve um grande impacto por se tratar de uma celebridade que se engaja no tema da sustentabilidade, questão de absoluta urgência no mundo atual. Muito se tem falado sobre a necessidade de a escola envolver-se com os assuntos contemporâneos e com o cotidiano de seus alunos. Por isso, é importante destacarmos o Prêmio Respostas para o Amanhã, iniciativa da Samsung, com coordenação geral do Cenpec, que incentiva alunos do Ensino Médio da rede pública a desenvolverem projetos que contribuam para suas comunidades.

Os 5 vencedores de 2015 vieram de pequenos municípios brasileiros e seus projetos buscaram criar soluções ecológicas para problemas vivenciados pelas comunidades do entorno das escolas. Exemplos são o uso da semente da planta Moringa oleífera no tratamento da água; a reutilização do pó da madeira em forros acústicos; o uso da água não potável na produção de fertilizantes líquidos orgânico; a produção de pescado consorciada à hidroponia e energia solar em comunidade quilombola e, por fim, a construção de um biodigestor anaeróbico para a produção de energia limpa. Com foco no conteúdo das Ciências da Natureza e da Matemática, o prêmio promove a realização de projetos que conectem a teoria à prática, instigando a pesquisa para a resolução de problemas do cotidiano dos alunos. Com isso, os jovens adquirem um significado prático do conhecimento que aprendem na escola.

Para os professores, o desafio é combinar os conteúdos das aulas com a prática, por meio de questões trazidas pelos alunos. A premiação ajuda a motivar os estudantes e até colabora para melhorias em turmas tidas como "difíceis". Esse é o caso vivido por Ayanda, professora do Colégio Estadual Dom Veloso, em Itumbiara (GO), que queria tirar o rótulo de "piores alunos" da sua classe. "Trazer o dia a dia deles para a vivência da sala de aula rendeu e foi muito significativo. A prova está na minha turma, que é a grande vencedora do prêmio".  

O concurso envolve toda a classe, apostando que todos podem aprender quando há professores engajados e jovens mobilizados e abertos ao diálogo. O professor Adair, da Escola Estadual Pedro Neca, do Mato Grosso, viu isso na prática. "No projeto, cada membro da sala tinha um papel fundamental. Dividir as tarefas em grupo garantiu a união e o companheirismo entre os alunos, mesmo aqueles que tinham pouca participação", conta.

A abertura da escola para a comunidade amplia os espaços de aprendizagem e enriquece as experiências educativas. As soluções apresentadas no prêmio são muitas vezes simples, mas contribuem para uma vida mais sustentável e para a construção de vínculos entre a escola e a comunidade, criando o sentimento de pertencimento desses jovens ao lugar onde vivem. A comunidade, por sua vez, passa a reconhecer e a valorizar a escola como uma importante instituição na produção de conhecimento para a resolução de seus problemas.

Maria Alice Setubal

Maria Alice Setubal, a Neca Setubal, é socióloga e educadora. Doutora em psicologia da educação, preside os conselhos do Cenpec e da Fundação Tide Setubal e pesquisa educação, desigualdades e territórios vulneráveis.

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