Juntos e Misturados no espaço público
Nos últimos anos em São Paulo, o espaço público volta a ser ocupado por grupos diversos: comemorações de Copa do Mundo, blocos de carnaval, as Viradas Cultural, Esportiva, Saúde e de Sustentabilidade, diferentes manifestações de jovens e da população em geral em torno de posicionamentos políticos assim como também as atividades de lazer com a Paulista Aberta. Temos ainda as discussões em torno de espaços como o Minhocão ou os Parque Augusta e dos Búfalos e as já tradicionais Parada Gay e Marcha de Jesus.
O novo cenário do espaço público pode estar trazendo novas perspectivas e aprendizagens para a cidade colocando temas como diversidade cultural, desigualdades sociais, questões de gênero fora dos âmbitos das universidades e alcançando literalmente as ruas.
Vou dar um passo para trás para que eu possa explicitar melhor meu argumento. O projeto Mundo Jovem realizado pela Fundação Tide Setubal, tem o Direito à cidade, como um dos eixos de sua atuação. Nesse contexto, várias saídas são organizadas, dentre elas um dia de passeio pela Paulista, onde parques, centros culturais e shopping fazem parte da programação. Em 2014, esse grupo de jovens, acompanhados de 2 monitoras sofreram várias ações de discriminação, reveladoras de preconceitos de seguranças, funcionários e pessoas em geral.
Neste ano de 2016, no escopo desse mesmo projeto, outro grupo de jovens com o mesmo perfil e acompanhados pelas mesmas monitoras fizeram o mesmo percurso na Av. Paulista, mas encontraram uma recepção solícita e acolhedora em todos os espaços visitados e não houve relato de nenhum caso de discriminação.
Pode ser apenas uma simples coincidência, mas eu tendo a considerar que não foi mero acaso.
A complexidade da sociedade atual traz à tona de um lado, ondas conservadoras não só de partidos políticos, mas também de grupos religiosos. De outro lado, no entanto, todo debate instalado na mídia, nas redes sociais e nas ruas trazem esse debate para mais perto das pessoas e possibilita como consequência, atitudes menos preconceituosas e mais inclusivas.
Trata-se de uma disputa política por diferentes visões de mundo e de ser humano. Mais do que nunca é importante nos posicionarmos pela preservação dos direitos humanos e busca de equidade.
Maria Alice Setubal
Maria Alice Setubal, a Neca Setubal, é socióloga e educadora. Doutora em psicologia da educação, preside os conselhos do Cenpec e da Fundação Tide Setubal e pesquisa educação, desigualdades e territórios vulneráveis.