Vozes femininas e feministas ecoam na periferia de São Paulo
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Gastão Guedes
Livros pendurados em árvores na edição 2015 do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista
A sétima edição do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista, que acontecerá entre os dias 9, 10 e 11 de novembro, traz como tema as Narrativas de Gênero: feminino, feminismo e outras histórias. O evento faz parte da celebração dos 10 anos da Fundação Tide Setubal, e para simbolizar o acesso democrático ao conhecimento e à literatura contará com livros pendurados em árvores, que poderão ser colhidos pelos moradores. Mas afinal, qual foi o motivo da escolha desse tema para o festival?
A partir da intensificação da discussão da temática de gênero na educação, nos meios de comunicação, na arte e na sociedade em geral, o festival quer enfatizar a presença feminina e a sua produção literária como afirmação de sua identidade também na literatura.
Ganha destaque no evento a produção negra e periférica, representadas no Sarau das Pretas e na Literatura Black, assim como nas histórias africanas para crianças, dentre outras atividades.
A presença de diferentes escritoras deverá apoiar os debates sobre os direitos e a luta pela convivência harmoniosa entre os múltiplos gêneros e sexualidades. Conforme discutido pela filósofa americana Angela Davis nas décadas de 70 e 80, a combinação entre machismo e racismo coloca a mulher negra em uma posição de maior vulnerabilidade e exploração, à medida que elas eram as principais vítimas de estupros e agressões.
A organização do evento foi bastante participativa. Escolas, alunas, alunos, coletivos, movimentos e grupos feministas, artistas e o Centro de Referência da Mulher e LGBT de São Miguel Paulista se uniram à fundação para criar novos formatos de apresentação da temática de modo a interagir com os diferentes públicos de diferentes idades. As atividades se estenderão por 47 pontos do bairro, demonstrando intensa participação da comunidade e o uso do espaço público.
Diálogos femininos, saraus, intervenções e instalações, contações de histórias, rodas de conversa com autores, blogueiras, poemas recitados, espetáculos de teatro e dança – dentre outras atividades – revelarão diferentes abordagens para o feminino, o feminismo e tantas outras histórias e narrativas. O ativismo e a política também estarão presentes no evento.
Exemplos são a Marcha pelo Fim da Violência contra as Mulheres (que conta com a participação e mobilização do Centro de Referência da Mulher Onoris Ferreira Dias de SMP), a Marcha Mundial das Mulheres, a Batucada Feminista e a participação de grupos e movimentos como a Sempreviva Organização Feminista, a Associação de Mulheres da Zona Leste, o Fórum de Mulheres de São Miguel, o Centro de Cidadania LGBT Laura Vermont, além das Secretarias Municipais das Mulheres, Direitos Humanos e da Subprefeitura de São Miguel.
A Caminhada Contra o Machismo marca a abertura do Festival no dia 9, das 9 às 11 horas, e terá início na Praça Do Forró. Todos que desejarem poderão participar com seus cartazes, para que as vozes das periferias possam ecoar pela cidade.
O Festival do Livro e da Literatura de São Miguel já se tornou evento tradicional no calendário da cidade, afirmando a potência e protagonismo das periferias também na literatura. Além disso, o evento destaca a diversidade e pluralidade cultural de São Paulo e a importância de se construir pontes e conexões entre as diferentes regiões da cidade.
Maria Alice Setubal
Maria Alice Setubal, a Neca Setubal, é socióloga e educadora. Doutora em psicologia da educação, preside os conselhos do Cenpec e da Fundação Tide Setubal e pesquisa educação, desigualdades e territórios vulneráveis.