A importância da escolaridade materna na educação dos filhos nas periferias

Maria Alice Setubal

Maria Alice Setubal

Muitas vezes, ao pensarmos nas famílias que vivem em regiões de alta vulnerabilidade, questões como a precariedade das suas condições de moradia e suas situações econômica e social encobrem outros aspectos igualmente importantes para o desenvolvimento das crianças: a escolaridade dos pais, sobretudo das mães. Para entendermos a potência e capacidade de superação de várias mulheres moradoras das periferias, devemos pensar no papel da escolaridade e da educação em suas vidas.

Diversos estudos mostram como uma maior escolaridade por parte das mães tem um impacto positivo na vida de seus filhos, influenciando em questões como a saúde e desenvolvimento físico e motor das crianças até seu desenvolvimento intelectual e suas habilidades cognitivas. Afinal, uma mãe com maior escolaridade consegue, por exemplo, entender melhor a bula de um remédio, ler para a criança na hora de dormir ou ajudar na lição de casa.

A experiência dos projetos da Fundação Tide Setubal, na zona leste de São Paulo, demonstra que as mulheres que possuem um nível de escolaridade mais elevado são capazes de conseguir uma maior inserção nas comunidades, tanto para elas próprias como para seus filhos. Em depoimentos, elas contam que frequentam bibliotecas ou salas de leitura. "Eu adoro ler, a gente viaja quando fala de um livro que interessa", conta uma mãe. Outra fala da importância de se manter atualizada. "Eu assisto a todos os jornais, eu gosto de saber das notícias."

Os sonhos e esperanças dessas mulheres estão relacionados diretamente ao futuro dos seus filhos e articulados com a escola. A escolaridade é considerada por elas uma condição indispensável para os filhos conseguirem melhores condições de vida. As mães se preocupam, cuidam, protegem e buscam dar o melhor que podem para seus filhos. Muitas vezes, os recursos são escassos, dada a restrição e precariedade das suas condições de vida. A esperança é que os filhos com mais estudos do que elas possam ter um futuro melhor.

"É importante eles aprenderem bem, para no futuro terem uma vida melhor do que a minha. Fazer um curso, tentar trabalhar, fazer uma faculdade – que é o meu sonho. Sempre eu pergunto para eles o que eles querem fazer, que é para sempre incentivar. Tipo a Rosilda, eu sei que ela quer ser uma repórter. Então eu vou lutar, correr atrás para ver se eu consigo colocá-la em um bom curso de jornalismo. Já o Richard quer ser músico e médico. É o sonho dele desde pequeno", diz uma mãe.

Entender o território, suas características sociais, econômicas e culturais faz muita diferença para que as crianças e jovens possam alcançar bons índices de aprendizagem. Muitas vezes, a escola não conhece as condições de vida de seus alunos e não reconhece os esforços dessas mães. Assim, acaba criando barreiras que afastam os pais das escolas. A busca por uma educação de qualidade para todos passa por vários fatores, e a participação dos pais é um deles. Por isso, a escola deve valorizar o esforço desses pais e mães pela educação de seus filhos. 

Maria Alice Setubal

Maria Alice Setubal, a Neca Setubal, é socióloga e educadora. Doutora em psicologia da educação, preside os conselhos do Cenpec e da Fundação Tide Setubal e pesquisa educação, desigualdades e territórios vulneráveis.

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