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China imperial (1) - Dinastia Manchu controlava sociedade agrícola

Renato Cancian

Nas últimas duas décadas do século 20 a República Popular da China atraiu a atenção do mundo em razão do seu acelerado crescimento econômico e intenso processo de modernização social. A China emerge como potência mundial e, segundo todas as estimativas, o país está destinado a ocupar uma posição de destaque no cenário internacional no transcurso do século 21.

O progresso e o desenvolvimento econômico e social da China estão fortemente assentados sobre o regime comunista que se estabeleceu com a Revolução de 1949. Para compreendermos a vitória revolucionária dos comunistas, bem como a China contemporânea, é imprescindível considerarmos primeiramente os períodos históricos precedentes, em que o país esteve sob domínio imperial e posteriormente sob o regime republicano.

Dinastia Manchu

Durante o período em que vigorou o sistema imperial a China era uma sociedade predominantemente agrária, permanecendo assim até as vésperas da Revolução de 1949. Ao contrário da Europa medieval, porém, a China imperial não conheceu o feudalismo, e pode-se dizer que o sistema de vassalagem e as concessões de terra em troca de serviços militares (que representavam a base do sistema feudal ocidental) sempre foram muito limitados naquele país.

A dinastia Manchu (1644-1911) representou a última fase do sistema imperial. O poder político estava fortemente centralizado nas mãos dos imperadores que se sucederam no trono: Nurhachi (1616-1625); Huang-Taiji (1625-1643); Shunzhi (1643-1661); Kangxi (1661-1722); Yongzheng (1722-1735); Qianlong (1735-1796); Jiaqing (1796-1820); Daoguang (1820-1850); Xianfeng (1850-1861); Tongzhi (1861-1875); Tzu Hsi (1875-1908), e Xuantong (1908-1912).

Os imperadores controlavam o vasto país por meio de um extenso aparelho administrativo, constituído por uma classe de funcionários recrutados segundo critérios burocráticos (chamado de sistema de exames). A estrutura econômica se baseava na produção agrícola e a sociedade chinesa era composta por uma diminuta classe de proprietários de terras e uma grande maioria de camponeses.

Estrutura fundiária

Um dos principais fatores, talvez o mais importante, para se compreender a estrutura fundiária da sociedade chinesa é entender o mecanismo social de acumulação material, que estava fortemente baseado na relação entre o serviço burocrático imperial e o investimento na compra de terras.

A classe proprietária de terras era constituída por clãs familiares. Para assegurar a propriedade da terra e aumentar a fortuna material da família era importante que algum membro do clã obtivesse um cargo oficial junto à estrutura burocrática imperial. As fortunas obtidas por meio do serviço imperial eram investidas em terras.

Em teoria, os cargos oficiais estavam abertos a todos, incluindo até mesmo os camponeses mais pobres, mas a ausência de um sistema de educação popular diminuía consideravelmente as chances daqueles que não pudessem contar com o apoio de uma família rica para custear os estudos, que exigiam muitos anos de dedicação.

Controle da mão-de-obra camponesa

Entre os funcionários burocráticos havia uma nítida distinção entre aqueles que possuíam ou não formação cultural e grau acadêmico. Os "intelectuais" formavam a classe de funcionários burocráticos que possuíam formação acadêmica (mandarins). Sendo a propriedade da terra o fator decisivo na dominação da mão-de-obra camponesa, os cargos oficiais mais importantes (que interessavam à classe de proprietários) eram justamente aqueles que diziam respeito ao controle das terras.

Além disso, o proprietário de terras dependia da burocracia imperial para a realização de benfeitorias, como grandes obras de irrigação e a construção de sistemas de controle de águas adequados, que ajudassem a obter boas colheitas.

O sistema político cumpria, portanto, a dupla função de assegurar a propriedade e de fazê-la render. Mas além de realizar essas duas funções, a burocracia imperial cumpria o papel de manter a ordem, evitando que o crescimento da população de camponeses ameaçasse os direitos de propriedade.