China comunista (3) - O Livro Vermelho de Mao e a Revolução Cultural
- China antiga (1) - O Rio Amarelo e as origens da civilização chinesa
- China antiga (2) - As cinco primeiras dinastias chinesas
- China medieval - Dinastias Sui e Tang: reunificação e esplendor do império
- China imperial (1) - Dinastia Manchu controlava sociedade agrícola
- China imperial (2) - Colapso do sistema imperial e o advento da República
- China republicana (1) - Chiang Kai-shek e o domínio do Kuomintang
- China republicana (2) - Camponeses abrem caminho para a Revolução
- China comunista (1) - Camponeses se juntam ao movimento revolucionário
- China comunista (2) - Conflito entre China e URSS e o Grande Salto
- China comunista (4) - Deng Xiaoping promove reformas econômicas
O desastre econômico e social provocado pelo Grande Salto para Frente (o projeto de desenvolvimento experimentado pela China entre os anos de 1958 e 1960) gerou conflitos internos de grandes proporções no PCCh, abrindo caminho para a perda de poder de Mao Tsé-Tung.
A direção política do Estado chinês ficou nas mãos de um triunvirato integrado pelo vice-presidente, Liu Shao-chi; pelo primeiro-ministro, Chu Enlai, e pelo dirigente partidário, Deng Xiaoping. As críticas que emergiram do seio do PCCh contrárias ao governo de Mao Tsé-Tung eram válidas em razão do retrocesso econômico e social provocado pelo projeto desenvolvimentista idealizado pelo dirigente chinês.
Durante os três anos de vigência do Grande Salto, estima-se que cerca de 16,5 milhões de chineses (em sua maioria, camponeses) tenham morrido de fome e doenças causadas por desnutrição. Para recuperar a economia, os novos dirigentes do Estado chinês reavivaram alguns princípios característicos do sistema capitalista como, por exemplo, recompensas por esforços no trabalho. Eles também desmontaram as comunas rurais e readotaram o gerenciamento técnico na condução da produção econômica.
Construção do socialismo e o Exército de Libertação Popular
Mao Tsé-Tung não perdeu o poder por completo. Ele manteve-se como líder supremo do Exército de Libertação Popular (ELP) e, com o apoio dos militares e de facções políticas atuantes dentro do PCCh, Mao retomou as rédeas do Estado chinês, reconduzindo a seu modo a construção do socialismo.
A lealdade do ELP ao PCCh e de ambos ao próprio Mao Tsé-Tung se fortaleceu à medida que as relações internacionais da China com seus vizinhos fronteiriços ameaçaram a integridade do território chinês. No início dos anos 60, as relações da China com a Índia e a ex-aliada URSS se deterioraram ainda mais. Nessa mesma conjuntura, Mao e seus aliados lançaram um programa de educação política objetivando converter todos os soldados do poderoso ELP em comunistas fiéis e obedientes ao PCCh.
Mao deflagrou, em 1965, a contra-ofensiva sobre as facções políticas rivais dentro do PCCh que controlavam o Estado chinês. Ele criticou ferozmente aqueles que preconizavam a readoção de alguns princípios capitalistas na economia, além de apontar a burocratização e o elitismo que já se manifestavam dentro e fora do PCCh.
Mao também defendeu a transferência do controle da Revolução para as mãos das massas (camponeses e operários), sob coordenação do Partido, como forma de avançar na construção de um sistema socialista próximo da igualdade absoluta. Para atingir esses objetivos, Mao Tsé-Tung decidiu aplicar ao conjunto da sociedade chinesa um vasto programa de educação política, seguindo o modelo aplicado ao ELP.
Revolução Cultural
A Revolução Cultural começou oficialmente no outono de 1965. Com apoio do ELP, Mao e seus seguidores coordenaram um amplo expurgo que atingiu todas as esferas da vida social, política e econômica. Membros do PCCh, burocratas, políticos, militares e cidadãos comuns foram atingidos por uma onda repressiva.
A esposa de Mao, Jiang Qing, se transformou na figura dominante nas artes. Chamada de ditadora cultural, Qing exerceu domínio absoluto e determinou o que podia ser escrito, pintado, editado, cantado e exibido nos teatros e cinemas. Muitos cursos universitários foram fechados, professores e diversos profissionais ligados à produção artística perderam seus cargos e foram banidos para o campo.
Os alvos principais da doutrinação política que permeava a Revolução Cultural foram os jovens, em particular os estudantes de nível médio e universitário. Os jovens foram dispensados das aulas e o Estado providenciou alimento, transporte e alojamento para que percorressem o país, de cidade em cidade, como aguerridos militantes de esquerda.
O Livro Vermelho e a Guarda Vermelha
Usando uma braçadeira vermelha em um dos braços, milhões de jovens formaram a Guarda Vermelha. A base doutrinária para a ação dos militantes era o célebre "Livro Vermelho" de Mao.
Um dos trechos do livro dizia: "O pó se acumula se um quarto não é limpo com frequência, nossas faces ficam imundas se não forem lavadas com frequência. A mente de nossos camaradas e o trabalho de nosso Partido também podem ficar empoeirados e também precisam ser varridos e lavados. O provérbio 'a água corrente nunca fica choca e os vermes nunca roem uma dobradiça' significa que o movimento constante impede a contaminação pelos germes e outros organismos".
Os militantes da Guarda Vermelha tinham por encargo desfechar a crítica aos revisionistas, aos direitistas, aos burgueses, aos burocratas do Partido e do Estado e até mesmo àqueles que adotavam estilos ocidentais de comportamentos. Além da crítica, eles também humilhavam e castigavam todos que resistiam à doutrinação socialista.
Durante o período em que a Guarda Vermelha atuou, a sociedade chinesa foi abalada por perseguições, execrações e julgamentos sumários em praças públicas. A Guarda Vermelha cometeu muitas atrocidades e espalhou o terror pela China. Também ocorreram muitos conflitos, alguns deles de grande proporção, principalmente no final da década de 1960, envolvendo militantes extremistas da Guarda Vermelha e as massas.
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