Semana de Arte Moderna: confira 5 heranças dos dias que abalaram o Brasil
O movimento modernista no Brasil começou bem antes da década de 20, mas o evento que deu o “pontapé” na revolução artística nacional foi mesmo a Semana de Arte Moderna de 1922, realizada entre os dias 13 e 17 de fevereiro daquele ano.
Há 93 anos o Teatro Municipal de São Paulo recebia artistas dispostos renovar a linguagem das artes brasileiras. Literatura, escultura, música e pintura deveriam ser criados com base na identidade nacional. Romper padrões antigos e adotar a simplicidade na comunicação também eram práticas defendidas pelos modernistas.
Apesar de vaias e críticas, o saldo geral do evento foi a entrada do Brasil na modernidade. Confira a seguir cinco importantes legados da Semana de Arte Moderna de 22 e do movimento modernista.
1) Valorização das raízes nacionais
No movimento modernista, os idealizadores voltaram os olhos para as raízes nacionais. Com isso, o regionalismo brasileiro começou a ser bem explorado nas criações do modernismo. Um grande representante dessa nova prática foi “Macunaíma”, obra escrita Mário de Andrade, um dos criadores do período no Brasil.
Com o objetivo de ser um retrato do povo brasileiro, conta-se que a história foi escrita a lápis em apenas cinco dias. O autor passava férias em Araraquara (SP) na chácara de um primo até que "veio um saci de uma ideia para um romance na cabeça” e ele começou a escrever sem parar.
#Curiosidade: Chamado de "herói sem nenhum caráter", a frase preferida de Macunaíma era "Ai, que preguiça!". Mario de Andrade juntou tudo (ou quase tudo) do que existia de pior no Brasil e apresentou na personalidade do protagonista.
2) Liberdade na escrita
Algumas características presentes na literatura brasileira atual é resultado do movimento modernista, principalmente em relação à liberdade de expressão. Outras práticas como o uso de uma linguagem simples (coloquial), criação de versos livres e a valorização de fatos cotidianos são heranças importantes do período.
#Curiosidade: Na segunda noite da Semana de Arte Moderna, o poema "Os Sapos", escrito por Manuel Bandeira, foi declamado entre vaias e críticas dos presentes. A obra satirizava o parnasianismo, movimento que buscava a perfeição técnica, valorizando a forma, a estrutura, a construção dos versos -- totalmente contrário ao proposto pelo modernismo. O jogo de palavras dentro do "padrão" parnasiano é a principal característica do poema. Confira um trecho da obra:
"Enfunando os papos,/ Saem da penumbra,/ Aos pulos, os sapos./ A luz os deslumbra./ Em ronco que aterra,/ Berra o sapo-boi:/ 'Meu pai foi à guerra!'/ 'Não foi!' - 'Foi!' - 'Não foi!'"
3) Estímulo à consciência crítica
Além do regionalismo, questões sociais - como a desigualdade, vida dos retirantes, resquícios de escravidão, entre outros - começaram a ser mais exploradas. O resultado dessa renovação, principalmente na literatura, foi o amadurecimento da consciência crítica e social do leitor.
Publicada em 1938, a obra “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, simboliza bem a transformação do período. No livro, o autor retrata a difícil luta pela sobrevivência de uma família que sofre com a seca no nordeste (regionalismo).
#Curiosidade: O personagem mais humano de "Vidas Secas" é a cachorra Baleia, batizada ironicamente pela família que foge da seca. Ela acaba tendo mais destaque na obra do que os próprios filhos do casal Fabiano e Sinhá Vitória, chamados apenas de Menino mais Velho e Menino mais Novo. Outro ponto interessante é a forma com o que o texto foi escrito. O leitor não precisa seguir a ordem de capítulos para compreender toda a história, ou seja, uma narrativa livre de padrões.
4) O Romance de 30
Depois da Semana de Arde Moderna, alguns intelectuais passaram a prestar mais atenção no Brasil. Eles acreditavam que a 'nova" arte devia retratar criticamente o país. Dessas primeiras manifestações surgiu o Romance de 30 (1930), que consolidou a renovação do gênero romance.
A partir de então, os artistas passaram a refletir mais sobre as preocupações psicológicas e sociais. “O quinze”,de Rachel de Queiroz (1930); “O país do Carnaval”, de Jorge Amado (1931); “Menino de engenho”, de José Lins do Rego (1932); “São Bernardo”, de Graciliano Ramos (1934); e “Capitães da areia”, de Jorge Amado (1937) são alguns representantes dessa nova literatura.
#FicaaDica: Duas obras publicadas nos anos de fervor do modernismo são essenciais para entender o Brasil. Por isso, não deixe de ler "Casa-grande & Senzala" (1933), de Gilberto Freyre, e "Raízes do Brasil" (1936), de Sérgio Buarque de Hollanda!
5) Gêneros literários convivendo juntos
As produções literárias amadureceram com o passar das três fases do movimento. O predomínio da poesia na 1ª geração (1922) e da prosa (romance, conto) na 2ª fase (1930) acabou com a chegada da 3ª geração do movimento (1945). Os dois gêneros passaram a conviver.
A prosa continuou renovando seu formato. Ao mesmo tempo, a poesia procurou se aprofundar em temas de preocupação social. Além disso, textos escritos para os jornais (crônicas) começaram a crescer e a ganhar status de literatura. Como alguns representantes desse período se têm: Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes e Vinicius de Moraes.
#Curiosidade: A música "Rosa de Hiroshima" se tornou consagrada na voz de Ney Matogrosso. Mas você sabia que seus versos foram escritos por Vinicius de Moraes? O poeta procurou refletir sobre o sofrimento mundial causado pela Segunda Guerra. No caso, sobre as bombas atômicas que devastaram Hiroshima e Nagasaki.
Pensem nas crianças / Mudas telepáticas / Pensem nas meninas / Cegas inexatas / Pensem nas mulheres / Rotas alteradas / Pensem nas feridas / Como rosas cálidas/ Mas oh não se esqueçam / Da rosa da rosa / Da rosa de Hiroshima / A rosa hereditária/ A rosa radioativa [...]
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