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Após cortes na educação, governo Bolsonaro enfrenta hoje 1ª greve nacional

Ana Carla Bermúdez e Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

15/05/2019 00h01Atualizada em 15/05/2019 11h18

Os cortes anunciados para a área da educação são tema do primeiro grande protesto contra o governo Jair Bolsonaro (PSL), que acontece hoje nas principais cidades de 26 estados e no Distrito Federal.

Os atos são em defesa das universidades federais, da pesquisa científica e do investimento na educação básica e acontecem após o MEC (Ministério da Educação) anunciar um congelamento orçamentário que atinge recursos desde a educação infantil até a pós-graduação, com suspensão de bolsas de pesquisa oferecidas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Nas universidades federais, o bloqueio anunciado foi de 30% dos recursos destinados a gastos discricionários (como água, luz e serviços de manutenção).

Convocado, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, deve comparecer hoje para prestar esclarecimentos sobre os cortes na Câmara. Ele é obrigado a comparecer.

Estados já registram manifestações

Por volta das 11h, professores, estudantes e trabalhadores da educação participavam de protestos em alguns estados. Foram registradas manifestações na Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Piauí e São Paulo.

Alunos e docentes da USP (Universidade de São Paulo) realizaram protesto na manhã de hoje nos arredores da instituição, na zona oeste de São Paulo, bloqueando ruas e avenidas do entorno da cidade universitária.

Os maiores protestos são esperados para o período da tarde em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na capital paulista, o ato está marcado para as 14h, no Masp, na avenida Paulista.

No Rio, havia concentração de grupos nesta manhã na Cinelândia, no centro, para as aulas públicas. A concentração será na Candelária, palco habitual de protestos na cidade. No início da noite, está prevista uma caminhada até a Central do Brasil.

Escolas estaduais e municipais da zona norte de São Paulo amanheceram sem aula por causa da greve nacional da educação - Jefferson Ricardo/Futura Press/Estadão Conteúdo - Jefferson Ricardo/Futura Press/Estadão Conteúdo
Escolas estaduais e municipais da zona norte de São Paulo amanheceram sem aula por causa da greve nacional da educação
Imagem: Jefferson Ricardo/Futura Press/Estadão Conteúdo

Em Campinas, professores, funcionários e alunos da Unicamp faziam panfletagem e uma passeata, na região central da cidade. O ato foi marcado para este período porque professores e estudantes de Campinas também vão participar da manifestação em São Paulo, à tarde.

Também na capital paulista, universidades particulares como a PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e a Universidade Presbiteriana Mackenzie vão aderir.

Estudantes de instituições de diferentes perfis devem se somar às manifestações. Em Brasília, o DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UnB (Universidade de Brasília), cuja gestão atual se define como liberal, aderiu à paralisação. A universidade foi uma das três a serem criticadas por Weintraub por promover suposta "balbúrdia".

Diversos campi da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) também irão paralisar suas atividades. Na unidade de Osasco, onde Weintraub foi professor até o ano passado, estudantes programaram uma panfletagem pela manhã para também participar do ato no Masp, em São Paulo.

Já em Curitiba, o ato acontecerá na praça Santos Andrade, na região central da cidade.

Escolas públicas e privadas também participam

Entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes), a ANPG (Associação Nacional dos Pós-Graduandos) e a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) convocaram estudantes de todo o país a participar da mobilização de hoje. Escolas municipais e estaduais de São Paulo amanheceram com as portas fechadas na manhã de hoje.

Unidades sindicais que representam professores de escolas particulares também apoiam o movimento. Em São Paulo, colégios tradicionais como Oswald de Andrade, Santa Cruz, São Domingos, Equipe e Vera Cruz aderiram à paralisação, segundo o Sinpro-SP (Sindicato dos Professores de São Paulo).

Reitores das universidades estaduais --USP, Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e Unesp (Universidade Estadual Paulista)-- divulgaram, ontem, uma carta criticando o corte dos recursos destinados às federais. O documento ainda convoca a comunidade acadêmica a "debater problemas da educação e ciência" nesta quarta.

Estudantes fazem ato contra cortes na educação no Largo do Rosário, centro de Campinas - Wagner Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo - Wagner Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo
Estudantes fazem ato contra cortes na educação no Largo do Rosário, centro de Campinas
Imagem: Wagner Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo

Ato é "esquenta" para greve nacional marcada para dia 14 de junho

Centrais sindicais já haviam convocado, para a mesma data, um protesto contra a reforma da Previdência. Para Antonio Gonçalves, presidente do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), o anúncio dos cortes fez com que o movimento pela educação ganhasse "mais corpo".

"O objetivo é barrar a política educacional do governo, reverter os cortes e ampliar o investimento na educação pública e gratuita", diz. "Não estamos hierarquizando pautas. A gente vai para a rua em defesa da educação pública e contra a reforma da Previdência."

Na avaliação de Gonçalves, o governo busca passar uma imagem de que os cortes são mera consequência do momento econômico do país --o que ele diz não acreditar ser verdade.

"É um projeto educacional que leva à maior parte da classe trabalhadora uma educação apenas instrumental, que busca inibir o pensamento crítico, e com esse tipo de concepção da educação nós não estamos de acordo", afirma.

Por envolver diversos segmentos da educação, a paralisação é encarada como uma greve, mas não deve se estender para outros dias. Ela também serve como um balão de ensaio para uma greve nacional dos trabalhadores, convocada por centrais sindicais para o dia 14 de junho.

30% ou 3,5%: Quanto Bolsonaro cortará nas universidades federais?

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