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Reservado e expert em defesa cibernética: quem é o general a cargo do Enem

O general Carlos Roberto Pinto de Souza, novo responsável pela diretoria do Enem - Reprodução/ Comando de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército
O general Carlos Roberto Pinto de Souza, novo responsável pela diretoria do Enem Imagem: Reprodução/ Comando de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

07/09/2019 04h00

Novo responsável pelo órgão do MEC (Ministério da Educação) que cuida do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza não lista em seu currículo nenhuma experiência na área da educação. O militar, que é graduado em ciência da computação, declara expertise em outro campo: a defesa cibernética.

Souza foi nomeado diretor de avaliação básica do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). No posto, coordenará as avaliações de larga escala do MEC —entre elas, o Enem. Uma de suas responsabilidades será a realização do Enem digital, anunciado em julho pelo governo. O MEC pretende colocar em prática, já em 2020, um modelo piloto do exame por computadores. O plano é que o Enem seja 100% digital até 2026.

O UOL fez um pedido de entrevista com o general ao Inep, mas não recebeu resposta.

Souza é doutor em Altos Estudos Militares pela Escola de Comando do Exército. Obteve o título com o trabalho "A inteligência e a guerra eletrônica no contexto da guerra da informação", em 2000. Como orientador, em 2002, atuou em mais um trabalho acadêmico sobre o tema: a monografia de um tenente-coronel sobre a "evolução doutrinária da guerra eletrônica".

Em seu currículo lattes, o general também diz ser mestre em estratégia pelo Command and General Staff College, o Colégio de Comando e Estado-Maior do Exército americano. No ano passado, começou outro mestrado na UnB (Universidade de Brasília) —desta vez, em propriedade intelectual e transferência de tecnologia para a inovação.

Entre 2014 e 2016, Souza chefiou o comando de comunicações e guerra eletrônica do Exército. Lá, trabalhou na implantação do Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), um dos principais projetos desenvolvidos pela Força. O sistema envolve radares e veículos aéreos não tripulados na proteção das fronteiras brasileiras.

Criado em 2012, o Sisfron tinha previsão de conclusão em dez anos. Sofreu, no entanto, uma série de contingenciamentos orçamentários e de adiamentos. Hoje, a conclusão está prevista para 2035.

Uma das poucas entrevistas concedidas pelo general diz respeito ao seu período à frente do centro de comunicações do Exército. Ao portal DefesaNet, especializado em notícias das áreas de defesa e estratégia, falou sobre os desafios de implementação do Sisfron e justificou as alterações no cronograma de entrega do projeto.

"O esforço de implantação não se resume a uma questão puramente orçamentária, sendo imperativo gerenciar inúmeros riscos: capacitação e retenção de pessoal especializado na operação e manutenção dos sistemas e esforço de especificação de novos sistemas que confiram todo o amplo rol de capacidades operacionais projetadas", afirmou.

Também no Exército, Souza foi chefe do centro de defesa cibernética entre 2016 e 2017. Nesse período, foi coordenador de segurança e defesa cibernética do Ministério da Defesa durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro.

Antes de ser indicado para a Daeb, era assessor na Setec (Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação) do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Idas e vindas na diretoria

Souza é a quarta pessoa a comandar a Daeb (Diretoria de Avaliação da Educação Básica) nos cerca de nove meses do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Sua nomeação foi publicada no Diário Oficial da União na última quarta-feira (4), dois meses antes da aplicação do Enem, que será realizado nos dias 3 e 10 de novembro deste ano.

A diretoria ficou sem titular por quase cinco meses. Antes do militar, passaram pelo cargo o economista Murilo Resende Ferreira, defensor do projeto Escola sem Partido e crítico do que classifica como "ideologia de gênero".

Ferreira chegou a afirmar que os professores brasileiros são "manipuladores" e que não querem "estudar de verdade". As declarações foram feitas em 2016, durante audiência pública do MPF-GO (Ministério Público Federal de Goiás). Ele permaneceu no cargo por um dia e foi exonerado.

Outro economista, Paulo César Teixeira, substituiu Resende e ficou cerca de um mês no cargo.

O último a ocupar o posto havia sido Francisco Garonce. Ele foi exonerado no dia 21 de maio após um episódio de violação do protocolo de segurança do Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos), avaliação que possibilita que jovens e adultos que não concluíram o ensino médio e fundamental obtenham certificado escolar.

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