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Quer entender a sua nota na redação do Enem? Veja os critérios de correção

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Imagem: iStock

Giorgia Cavicchioli

Colaboração para o UOL

17/01/2020 04h00Atualizada em 17/01/2020 09h14

Resumo da notícia

  • São avaliadas cinco competências e cada uma delas vale 200 pontos
  • Dois corretores avaliam a prova e dão uma nota de até mil pontos. O valor é dividido por dois, o que resulta na média do candidato
  • Se houver discrepância na nota, um terceiro corretor é chamado. Recursos são improváveis

O resultado na redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2019 é o mais aguardado pelos candidatos. As notas foram divulgadas na manhã de hoje. A prova de redação pode valer até mil pontos, o que equivalente a metade da pontuação final do exame - as outras 180 questões também somam mil pontos. No entanto, poucos sabem como é feita a correção dessa prova e não entendem as notas obtidas.

De acordo com a professora Elaine Antunes, especialista em correção de redações do Enem e idealizadora do Projeto Escreva, a nota da prova de redação quase sempre é um indicativo sucesso ou não do candidato na busca por uma vaga. "Não é possível cravar uma nota ideal para que o candidato consiga uma vaga em um curso concorrido como medicina, por exemplo. Porém, é possível ter uma ideia de pontuação que representa, historicamente, o sucesso de um estudante na entrada em um curso concorrido", afirma.

A professora explica que, a cada ano, muda a nota de corte, porque ela depende da quantidade de candidatos. Medicina, por exemplo, é sempre o curso mais concorrido e, em geral, o candidato precisa de cerca de 940 pontos na redação para, pelo menos. "Ou seja, em uma escala de zero a 10, ele precisaria ser um 9,4. Mas, isso depende muito do desempenho dele nas outras provas", diz a professora.

As 5 competências avaliadas

A correção da prova do Enem é pautada em cinco competências e cada uma delas vale 200 pontos. A primeira delas tem relação com o bom uso da norma padrão de escrita da língua portuguesa. Nessa categoria, os corretores querem saber se o candidato está apto em relação ao uso linguístico.

A segunda e a terceira competência estão relacionadas à abordagem do tema. A categoria número dois quer checar se o candidato tem repertório sociocultural e sabe relacionar esse conhecimento de mundo com o tema proposto na prova. "Se ele consegue identificar o tema e compreender bem, já é meio caminho andado", diz Elaine.

A terceira categoria avalia os argumentos usados pelo candidato e a organização deles. De acordo com a professora, essas duas competências, que avaliam a abordagem do tema, costumam ser as mais difíceis. "Elas exigem bastante informação, leitura e compreensão do conteúdo que ele adquiriu durante toda a sua carreira acadêmica", afirma.

Já a quarta competência diz respeito à coesão. Em relação a essa categoria, o corretor quer ver se o candidato usa bem os conectivos, os elementos que interligam frases e parágrafos. "Não basta apenas ele jogar as informações sem um encadeamento", alerta a professora.

A quinta e última categoria trata da proposta de intervenção. Nela, o estudante deve dizer o que vai ser feito para resolver aquele problema citado na proposta. Mas, também é preciso que ele diga quem vai fazer, como vai fazer e tudo mais o que for preciso para que ela seja bem elaborada.

"O Enem exige do candidato toda uma organização de ideias. Esse é o gênero textual que ele vai usar na faculdade. Qualquer candidato aprovado vai utilizar essa estrutura dentro da universidade. Muitas vezes, ele está muito preocupado em usar um macete, mas ele pode ser um fracasso. O importante é instrumentalizar o candidato. Isso é melhor do que decorar uma fórmula", explica a idealizadora do Projeto Escreva.

Sendo assim, a professora alerta para que exista uma preparação do aluno ao longo de todo o ano. "É fundamental entender e focar em leitura, em mais informação, mais busca de notícias, textos, artigos de opinião? por isso que meu curso se preocupa com essa parte. Eu dou instrumentos. Eu não fico especulando qual será o tema da redação. O aluno precisa se instrumentalizar para que ele enfrente qualquer tema de redação", afirma.

Correção e recurso

Dois corretores diferentes avaliam se houve ou não sucesso em todo esse processo. Cada um dá uma nota de até mil pontos para o texto e o valor é dividido por dois, o que acaba resultando na média tirada pelo candidato. E, caso exista uma discrepância muito grande entre as duas notas, um terceiro corretor é chamado para avaliar a prova.

Por esse motivo, Elaine afirma que é muito difícil para o aluno recorrer caso ache que a nota dele não refletiu o esperado. "Só com um mandado judicial. Por meio da Justiça, ele vai pedir um laudo. Mas é um processo muito demorado e que, geralmente, não dá em nada. A correção do Enem é muito bem amarrada", constata.

Além disso, durante a inscrição para o Enem, o aluno concorda com o processo de correção da prova. "O Enem não é como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), por exemplo, que é uma instituição que tem apenas um corretor e que aceita recursos", diz.

O candidato também poderá entender melhor sobre o que errou e o que acertou na prova durante o mês de março, período em que, geralmente, é divulgado um espelho da redação. Assim, ele poderá ver o que ele conquistou em cada competência. "Até vem uma explicação ao lado para o candidato observar o que errou. Isso funciona como uma orientação para o próximo ano, caso ele vá prestar de novo", explica a professora.