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Covas descarta aulas e atividades de reforço em setembro na capital

Ana Carla Bermúdez, Felipe Pereira e Patrick Mesquita

Do UOL, em São Paulo

18/08/2020 12h28Atualizada em 18/08/2020 17h06

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anunciou hoje que o retorno às aulas de reforço e uso de laboratórios e bibliotecas no município não acontecerá em setembro. A decisão vale para instituições de ensino públicas e particulares da capital.

Apesar da liberação do governo estadual para que algumas atividades possam retornar em setembro, uma vez que a capital preenche o requisito, a administração municipal diz acreditar que uma volta representaria um aumento no número de casos da covid-19 na cidade.

"Retomada das aulas nesse momento significaria a ampliação do número de casos [do novo coronavírus], a ampliação em consequência do número de internações e de óbitos na cidade de São Paulo. Razão pelo qual não teremos o retorno em setembro como o estado autorizou, com apenas 35% das salas funcionando. Isso não ocorrerá", disse o prefeito.

Para justificar a decisão, a prefeitura apresentou hoje dados do inquérito sorológico feito com 6.000 alunos da rede municipal, com idade entre 4 e 14 anos.

De acordo com os dados, 16,1% dos alunos da rede pública municipal já contraiu a doença causada pelo novo coronavírus. O índice é maior do que o encontrado na população geral de São Paulo, que foi de 10,9% de infectados.

Um dos resultados que levou a prefeitura a optar por não reabrir as escolas em setembro é que 64,4% dos estudantes —isto é, cerca de 2 a cada 3 alunos— são assintomáticos.

Covas afirmou que, por isso, seria pouco eficaz realizar a medição de temperatura na porta das escolas para evitar a disseminação do vírus, já que estes alunos não apresentariam febre.

"[São] Duas a cada 3 crianças contaminadas com o vírus, sem inclusive não apresentar nenhum sintoma. A escola coloca o medidor de temperatura na porta, não vai apresentar que está febril. Mas ela está contaminada —e, às vezes, com a mesma carga viral de um adulto", disse.

Para completar seu argumento, ele acrescentou que 25,9% dos estudantes testados disseram morar em casas com pessoas com 60 anos ou mais, que fazem parte do grupo de risco da covid-19.

Estimando o número de 1 milhão de alunos na rede municipal, Covas disse se tratar de "250 mil crianças que moram muito provavelmente com avôs, avós, tios e tias com mais de 60 anos —e, portanto, podem agravar a disseminação da doença nessa faixa etária da população, que é a que tem o risco de maior vulnerabilidade".

Esta combinação, segundo o prefeito, permitiria um aumento de casos, internações e mortes. Covas ainda declarou que é mais difícil garantir o respeito ao distanciamento social dentro de uma sala de aula do que em outros locais.

"É muito mais complicado manter o distanciamento social dentro da sala de aula, dentro da escola do que em bares, restaurantes, supermercados, lojas, estabelecimentos já autorizados a retornar", disse Covas.

Os dados do inquérito sorológico apontam ainda que, considerando a renda familiar mensal dos alunos testados, as classes D e E têm 15,2% de infectados, enquanto a classe C tem 13,9%. Por outro lado, as classes A e B têm 9,3% de infectados.

Decisão vale para toda a área de educação

Segundo Covas, a decisão por não abrir as escolas da capital para a realização de algumas atividades em setembro vale para instituições públicas e particulares de todas as etapas de ensino, desde a educação infantil até o ensino superior.

"Estamos falando de uma decisão que vale para toda a área de educação da Prefeitura de São Paulo", disse. "Claro que cabe ao prefeito e ao secretário de educação organizar as escolas municipais na retomada das aulas, mas as decisões municipais são para todos. Então, nós não teremos o retorno às aulas na cidade de São Paulo [em setembro]", afirmou.

Retomada em outubro será avaliada

O prefeito afirmou ainda que, para a retomada das aulas presenciais, o mês de outubro permanece como um "horizonte". Ainda não há, no entanto, uma data marcada para a reabertura das escolas. A avaliação sobre as condições para a volta das aulas terá como base outros inquéritos sorológicos que serão realizados com alunos da rede estadual, da rede privada e com suas famílias.

"Ainda temos o horizonte de outubro. Teremos outro inquérito sorológico, com crianças da rede estadual e da rede privada. E também para toda a família. Queremos entender se as crianças já imunizadas são de famílias também imunizadas", disse Covas.

Protocolo para creches

A retomada das atividades nas creches municipais seguirá mais ou menos o mesmo esquema dos demais níveis de ensino. Segundo o secretário de Educação da cidade, Bruno Caetano, esses grupos precisam de alguns protocolos específicos porque são crianças com nenhuma ou quase nenhuma autonomia.

"O distanciamento, neste caso, é muito mais difícil de acontecer, então a gente tem que ter uma redução ainda maior no número de alunos por turma. Também se fazem necessários equipamentos específicos, por exemplo: a secretaria já fez a contratação de serviços de lavanderia para todas as creches municipais para que as roupas desses bebês e crianças sejam higienizadas no período presencial", explicou Caetano em entrevista à CNN Brasil.

Sindicatos de professores apoiam adiamento

Silvia Barbara, diretora do Sinpro-SP (Sindicato dos Professores de São Paulo), que representa os docentes da rede privada, diz que a decisão da prefeitura por não aderir à abertura parcial das escolas em setembro é "acertada". "Ele [Covas] havia dito no começo [da pandemia] que seria a saúde, e não a educação, que iria definir [a volta]", afirma.

Na avaliação dela, a gestão Doria cedeu à pressão das escolas particulares ao adiar o retorno das aulas presenciais, mas liberar uma abertura parcial em setembro para a realização de atividades de reforço e acolhimento.

"Para nós, desde o começo, a volta tinha que estar relacionada a questões de segurança. Tanto para alunos como para funcionários e professores", diz.

Presidente licenciado do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo), o vereador Claudio Fonseca (PPS) afirma que a decisão da prefeitura é "oportuna e responsável". Na avaliação dele, uma reabertura parcial, em setembro, faria com que a responsabilidade recaísse sobre as famílias.

Fonseca defende ainda que não haja retorno das atividades presenciais nas escolas neste ano. Para ele, o segundo semestre de 2020 deve ser utilizado "para execução das medidas necessárias para garantir condições [de segurança] para as unidades escolares, seus profissionais de educação e alunos, quando houver o retorno".

Arthur Fonseca Filho, diretor da Abepar (Associação Brasileira de Escolas Particulares), diz acreditar que os anúncios do governo estadual e da prefeitura de São Paulo são "conflitantes". Ele reforça que este é seu posicionamento pessoal, e não da associação, já que os associados ainda devem se reunir para discutir o tema.

"O governo estadual anunciou para o estado como um todo a possibilidade de atuação [das escolas] nas regiões que estivessem em zona amarela, por mais de 28 dias, a partir de 8 de setembro", diz. "Hoje, o município entende que isso não deva acontecer, em uma região que está há mais de 28 dias [na fase amarela] e que segue, até agora, o Plano São Paulo como um todo. Com relação às escolas, [a prefeitura] faz um anúncio conflitante", afirma.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que havia sido publicado no terceiro parágrafo da reportagem, o estudo foi feito com 6 mil alunos, e não seis.