Na volta às aulas, professores do grupo de risco devem ficar em casa em SP
Professores e outros funcionários das redes pública e particular do Estado de São Paulo, que fazem parte do grupo de risco para a covid-19, devem continuar trabalhando remotamente, mesmo depois da retomada das atividades nas escolas. Governo estadual e prefeitura afirmam que, apesar disso, não vai faltar educador na volta às aulas presenciais. Nas unidades privadas, o sindicato dos professores entrou na Justiça para garantir o isolamento destes profissionais.
Ainda não foi divulgado um levantamento do número de educadores dentro dos grupos de risco para a covid-19 no Estado de São Paulo — incluindo as comorbidades como diabetes e cardiopatias.
A única estimativa é a de educadores com mais de 60 anos — que, segundo a Organização Mundial de Saúde, estão no grupo de risco. A Apeoesp, sindicato dos professores estaduais, estima que 15.100 professores da rede estadual estão nessa faixa etária —ou 7,9% do total. Entre os diretores, no ano passado, 659 dos 5.037 eram idosos (13,1%). A Secretaria Estadual da Educação não confirmou os números.
Na rede municipal, são 5.600 educadores idosos (desde professores até diretores), segundo a assessoria de imprensa da secretaria —7,1% do total.
O governador João Doria (PSDB) anunciou, no começo de agosto, que escolas públicas e particulares poderão reabrir para aulas de reforço e atividades em bibliotecas e laboratórios a partir de 8 de setembro, nas regiões que permanecerem por 28 dias na fase amarela do Plano São Paulo.
As aulas presenciais só deverão ser retomadas em 7 de outubro, desde que seguidos todos os protocolos de segurança e de ocupação máxima das salas —na primeira etapa do plano de retorno, será de 35% dos alunos.
A Prefeitura de São Paulo vai levar em consideração o resultado do inquérito sorológico para definir quando as atividades escolares serão retomadas. O resultado desse inquérito deve ser divulgado hoje. O prefeito Bruno Covas (PSDB) já afirmou que as aulas das escolas públicas e privadas da capital devem retornar juntas.
Preocupação com a família
"A única certeza que temos é a de que não voltamos agora", diz o professor da rede estadual José dos Anjos, de 64 anos. "O correto seria voltar só com as vacinas."
Neste caso, a preocupação não é só com a sua saúde —é que, na casa dele, também moram a sogra, de 76 anos; a esposa, de 56; e o filho, de 16. "Esses casos específicos, que tratam de pessoas que moram com outras do grupo de risco, ou com pessoas que vão voltar imediatamente às atividades do dia a dia, ainda não foram discutidos", afirma Anjos.
Como muita gente, Anjos teme o aumento nos casos da covid-19. "É preciso levar em consideração a situação das escolas. Muitas, por exemplo, não têm janelas. Como é que vai ser?", questiona.
O secretário-executivo da Secretaria Estadual da Educação, Haroldo Corrêa Rocha, reconhece que é difícil controlar o entorno dos profissionais. "A determinação é que pessoas com diabetes, cardiopatias e outras comorbidades fiquem em casa. Vai depender do atestado que cada profissional trouxer, a gestão será feita por cada unidade escolar", afirma.
Na rede municipal, ainda haverá uma análise dos casos. Um documento da Prefeitura obtido pela reportagem diz que: "Funcionários com idade acima de 60 anos, gestantes e grupos de risco terão os casos analisados para publicação de IN [instrução normativa] após indicação da Secretaria de Gestão."
Uma diretora de unidade municipal que pediu sigilo afirmou que em sua escola devem faltar professores de educação física e língua portuguesa. "Trinta por cento dos professores estão no grupo de risco", afirma.
A professora Maria Lúcia Salgado, de 60 anos, dá aulas na rede municipal para classes do ensino fundamental, no quarto ano, e está preocupada com a rotina dentro da sala de aula. "Eu tinha acabado de chegar a uma escola nova. Em março, teve esse afastamento repentino, ou seja, meus alunos não me conhecem, e eu não tenho a menor ideia de como vai ser quando eu voltar", afirma.
Ela acredita que o retorno das crianças pequenas será mais complicado." A criança pequena quer abraçar todo mundo, é mais corporal. Vai ser mais difícil explicar para eles", diz a educadora.
Para Gabriel Correa, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, é fundamental informar os professores sobre todas as fases do processo de retomada. "É preciso levar em consideração que o distanciamento social exigido tornará obrigatória a criação de mais turmas, com menos alunos, por exemplo", diz ele.
Para a infectologista pediátrica Renata Coutinho, é preciso avaliar a realidade de cada município. "Há situações muito diferentes. O ideal é que se faça um mapeamento do local onde o servidor mora, com quem ele vive qual o caminho que ela faz", afirma.
Rocha, do governo estadual, afirma que em março a pasta deu início a um levantamento para identificar professores que tivessem comorbidades para a covid-19. Mas o processo deixou de ser feito, por causa da paralisação das atividades escolares.
O secretário-executivo disse que, em princípio, não será necessária a contratação de professores substitutos "porque os profissionais em grupo de risco seguirão trabalhando de casa, e os alunos não vão voltar todos de uma vez".
A Secretaria Municipal da Educação de São Paulo já abriu inscrições para professores temporários. Segundo a administração municipal, os contratos devem ser de 12 meses e os educadores vão ocupar as vagas de professores que fazem parte do grupo de risco.
Rede particular
Na rede particular, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo, que representa as instituições particulares, diz não possuir informações sobre o número dos profissionais em grupo de risco.
O Sinpro, sindicato que representa os docentes da iniciativa privada, tem uma liminar que garante o afastamento dos professores do grupo de risco. Enquadram-se nesta categoria pessoas com 60 anos ou mais e as que apresentam quadro de imunodeficiência, hipertensão, diabetes, problemas renais, asma e outras doenças respiratórias.
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