Candidatos do Enem 2020 se queixam de cor do gabarito: "Induzidos ao erro"
Candidatos que participaram do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2020 no último domingo (17) se queixam de falta de orientação por parte dos fiscais e dizem ter sido induzidos ao erro no momento de marcar a cor da prova recebida devido à cor laranja do cartão de respostas.
Para evitar fraudes e "colas", os cadernos das edições regulares do Enem têm capas de quatro cores diferentes: rosa, amarelo, azul e branco. O conteúdo das provas é o mesmo —a diferença está na ordem das questões.
O candidato deve, então, assinalar no cartão de respostas a cor de prova que recebeu, além de transcrever uma frase que aparece na capa do caderno de questões (e que é específica para cada cor de prova). O problema, segundo os participantes, é que o cartão de respostas desta edição do Enem possibilitava que os candidatos marcassem a opção de caderno laranja —a mesma cor do cartão de respostas.
"O cartão de resposta vem grudado na prova. Ele fica em cima da capa e depois você destaca. Eu pensei que as provas eram brancas e que eu teria que considerar a cor do cartão de respostas", diz Fernando Benicchio, 38. Ele fez o Enem no último domingo, em São Paulo, em uma unidade da Unip (Universidade Paulista) em Pinheiros.
Benicchio conta que só percebeu o erro quando chegou em casa. "Fomos induzidos ao erro porque o gabarito foi impresso em cor laranja", diz o candidato, que afirma não ter recebido instrução quanto ao preenchimento do cartão de respostas por parte dos fiscais do exame.
As provas do Enem podem ter a cor laranja, mas apenas para candidatos que solicitarem o atendimento especializado (que é voltado para pessoas com deficiência auditiva, cegueira ou baixa visão, por exemplo). Na edição 2019 do Enem, o caderno laranja foi destinado ao formato de braile e ledor. Já o caderno verde foi para a prova em libras.
"Eu percebi [o erro] na sala, na hora de entregar o gabarito. A minha fiscal disse que eu tinha marcado a cor errada. No entanto, ela percebeu só no final. Ela não disse no começo como era para a gente proceder", diz Marinaldo Santana, 18, que fez a prova em Bezerros (PE).
Segundo o candidato, a fiscal então anotou o seu nome em uma ata, mas ele não sabe o que será feito e como sua prova será corrigida.
Os casos de Benicchio e Santana não são os únicos: candidatos têm se mobilizado nas redes sociais e em grupos de WhatsApp para pedir explicações ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do MEC (Ministério da Educação) responsável pelo Enem.
Os participantes se queixam de insegurança por não saberem se terão os gabaritos corrigidos corretamente ou mesmo se os cartões de resposta serão considerados para a correção. Uma das reivindicações dos candidatos é que os cartões sejam corrigidos apenas de acordo com a frase transcrita da capa da prova, e não de acordo com a cor marcada.
Um abaixo-assinado criado na tarde de hoje pedindo para que as provas sejam corrigidas pela frase conta com mais de 370 assinaturas. No Twitter, os participantes relatam ocorridos com a #EnemLaranja.
Benicchio diz que, desde ontem, tenta contato com o Inep para saber o que acontecerá na correção do seu cartão de respostas. Pelo telefone [0800 616161], não conseguiu falar com ninguém.
Após buscar o sistema eletrônico de atendimento do MEC, ele diz ter recebido por e-mail trechos do edital do Enem que dizem que "constitui responsabilidade do participante a transcrição da frase contida na capa, bem como a marcação da cor da capa no respectivo cartão-resposta" e que "o não cumprimento desses procedimentos pode impossibilitar a correção das provas".
"A [próxima] prova é domingo. Quero saber se fui zerado, porque, se eu fui, não faz sentido eu me expor novamente à covid", afirma Benicchio.
Procurado pelo UOL, o Inep informou, por meio de nota, que a transcrição e a marcação de cor do caderno de questões para o cartão de respostas são itens obrigatórios para todos os participantes e estão previstos no edital da versão impressa do Enem. "No entanto, o documento não prevê a eliminação de participantes devido a erros no preenchimento da cor do caderno de questões", diz o texto.
O instituto não respondeu, no entanto, como será feita a correção dos gabaritos de quem marcou a cor de prova errada —isto é, se será considerada a cor de prova recebida pelo candidato ou aquela que foi assinalada no cartão de respostas.
O segundo dia de provas do Enem impresso acontece no próximo domingo (24), e o Enem digital será realizado nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro. As provas, que inicialmente aconteceriam em novembro do ano passado, foram adiadas para janeiro devido à pandemia do coronavírus.
Nas últimas semanas, houve forte pressão para que o exame fosse adiado novamente devido à piora da pandemia em diferentes regiões do país. O Inep, no entanto, garantiu que haveria segurança para a realização das provas e defendeu a manutenção das datas.
Apesar disso, houve relatos de aglomeração nos locais de prova e de lotação superior a 50% nas salas de aplicação. Em alguns estados, por outro lado, candidatos foram proibidos de fazer o exame porque, segundo os fiscais de prova, as salas já se encontravam no limite de ocupação.
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