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Educação como ato político: os cem anos de Paulo Freire

Paulo Freire, patrono da educação brasileira, nasceu em 19 de setembro de 1921, no Recife - Divulgação
Paulo Freire, patrono da educação brasileira, nasceu em 19 de setembro de 1921, no Recife Imagem: Divulgação

Murilo Matias

Colaboração para o UOL

19/09/2021 04h00

Um caminhante da educação. Entre campanhas de alfabetização, livros escritos, políticas públicas elaboradas e tiradas do papel, Paulo Freire espalhou a semente de uma pedagogia popular na qual todas as pessoas são consideradas agentes do conhecimento. Nela, os processos educativos se relacionam aos contextos sociais a partir da consciência crítica e da criatividade de professores e alunos.

"Paulo Freire tinha o pensamento de que todo mundo deve externar o conhecimento que tem", afirma Margarete Nara da Silva, educadora da rede pública no Rio Grande do Sul. "O aluno deve ser crítico, questionar. O professor deve ser o mediador, para trazer à tona, quando necessário for, a criticidade. E eles realmente absorveram esta posição e sabem executá-la", diz.

Freire completaria cem anos hoje. Inspiração para gerações de professores e pesquisadores, o pedagogo recifense e cidadão do mundo desenvolveu programas de alfabetização em diversos territórios, incluindo países da África, como Moçambique e Guiné-Bissau, e da América Latina, dentre os quais Chile e Nicarágua.

"O que fizemos durante a Cruzada Nacional de Alfabetização, no começo dos anos 1980, enalteceu a nação e todos que participaram daquele momento histórico", conta a nicaraguense Leonor Chiang Gonzalez. "As brigadas voluntariamente se formaram atuando nas cidades e no interior, e o analfabetismo caiu drasticamente." De acordo com ela, a redução foi de 52% para 12,9%.

No Brasil, o denominado patrono da educação elaborou o Plano Nacional de Alfabetização tendo como inspiração uma experiência anterior, na qual ele conseguiu ensinar 300 adultos a ler e a escrever em 45 dias, no Rio Grande do Norte.

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O presidente João Goulart havia programado a implantação de um projeto de formação de educadores em massa, com 20 mil núcleos de cultura, mas o golpe civil militar de 1964 enterrou essa possibilidade e encarcerou o pedagogo por 70 dias. Freire foi classificado como "um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos", segundo documentos oficiais da época.

Quando recuperou a liberdade, partiu para o exílio, de onde foi lançado seu livro mais lido ("A Pedagogia do Oprimido"), retornando ao Brasil somente na década de 1980, com a gradual reabertura do país.

Anos mais tarde, na década de 1990, na condição de secretário municipal de Educação de São Paulo, no governo da prefeita Luiza Erundina, ele finalmente teve a chance de concretizar políticas públicas, entre elas o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), até hoje referência nacional.

Paulo Freire, nesse e em outros contextos, destacava a educação como um ato político: "Professores e alunos devem estar cientes das 'políticas' que cercam a educação. A forma como os alunos são ensinados e o que lhes é ensinado serve a uma agenda política".

Recentemente, muitos dos debates envolvendo a educação estiveram dominados por posições conservadoras e que, muitas vezes, confundem a opinião pública —a exemplo da bandeira da "escola sem partido" ou a defesa intransigente da militarização das instituições de ensino. Essas posições convergem para o que Freire definiu como "cultura do silêncio", utilizada para oprimir setores vulneráveis, submetendo-os aos interesses da cultura e da classe dominantes.

Do lado otimista, a vivência de escolas nos acampamentos e assentamentos do Movimento Sem Terra e a maior circulação de conteúdos produzidos por autoras e autores antirracistas e descolonizados demonstram que segue na estrada o legado freireano da qualificação dos processos educativos e, consequentemente, das relações sociais.

Freire morreu de um ataque cardíaco em 2 de maio de 1997, mas suas ideias batem forte no coração de brasileiros envolvidos com diferentes formas de educação no país. Conheça livros escritos pelo pedagogo e outras obras relacionadas ao universo pedagógico.

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Em sua última entrevista, Paulo Freire disse ter o desejo de "ser lembrado como alguém que amou o mundo, as pessoas, os bichos, as árvores, a terra, a água, a vida". Ao longo do livro, são contados diversos momentos de sua caminhada: desde o menino de Recife de família simples, ao cientista renomado, ganhador de inúmeros prêmios internacionais e homenagens.

Testamento da presença de Paulo Freire, o educador do Brasil - Ana Maria Araújo Freire

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A obra apresenta depoimentos de pessoas que tiveram a oportunidade de conviver de alguma forma com Paulo Freire e falam sobre a influência do autor em diferentes situações. A presença do Patrono da Educação como referência para o campo e seu legado, junto aos incontáveis profissionais da área que o admiram é destacada pela autora, viúva do professor.

Pedagogia da autonomia - Paulo Freire

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Pedagogia da autonomia - Divulgação - Divulgação
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Trata-se do último livro publicado em vida por Paulo Freire, no ano de 1996. O título proporciona ao leitor a possibilidade de aprofundar-se na teoria e nas bases éticas defendidas pelo autor, enaltecendo valores como a liberdade, a verdade e a autenticidade dos sujeitos em detrimento à lógica capitalista da exploração e da mercantilização da educação.

Paulo Freire - Vida e Obra - Ana Inês Souza

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Vida e obra - Divulgação - Divulgação
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A publicação compila escritos de temas amplamente abordados por Paulo Freire em sua vida acadêmica, de professor e pensador da educação. Os textos projetam a pedagogia defendida pelo biografado, ressaltando conceitos de respeito à dignidade humana e de construção de um projeto coletivo plural capaz de transformar realidades a partir da crítica e da consciência.

Outra educação é possível - Luana Tolentino

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A autora demonstra que novos paradigmas são viáveis e necessários ao colocar no eixo de seus projetos pedagógicos crianças e adolescentes pertencentes a grupos sociais que ficam invisíveis em currículos e programas educacionais. Nesse sentido, as páginas entrelaçam histórias de escritoras negras, em diversas situações, carregando o signo da identidade de suas culturas.

O movimento negro educador - Nilma Lino Gomes

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A compreensão do construir a pedagogia das ausências e das emergências, repensar a escola, descolonizar os currículos e dar visibilidade às vivências e práticas dos sujeitos. Junto a isso, o livro aborda saberes produzidos e articulados pelo Movimento Negro e de Mulheres Negras com capacidade para subverter a teoria educacional, descolonizando o conhecimento.

Política e educação - Paulo Freire

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Doze ensaios escritos por Freire durante o ano de 1992 compõem a obra cujo caráter propõe reflexões político-pedagógicas de cunho crítico. "Imoral é a dominação econômica, imoral é a dominação sexual, imoral é o racismo, imoral é a violência dos mais fortes sobre os mais fracos. Imoral é o mando das classes", sintetizou o professor e escritor.

Paulo Freire: gênese da educação intercultural no Brasil - Ivanilde Apoluceno de Oliveira

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O livro aborda a concepção de educação popular encampada ao longo da trajetória de Paulo Freire, com ênfase nas reflexões sobre a prática dos círculos de cultura. Informações sobre como o pedagogo e filósofo se posiciona originalmente sobre a questão de gênero, o colonialismo e a africanidade, o multiculturalismo e a interculturalidade também permeiam o conteúdo.

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*Os preços e a lista foram checados no dia 16 de setembro de 2021 para atualizar esta matéria. Pode ser que eles variem com o tempo.

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