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Com melhora na pandemia, estudantes focam em diminuir ansiedade para Enem

Pela segunda vez, provas do Enem acontecerão durante a pandemia do coronavírus - ADAILTON DAMASCENO/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Pela segunda vez, provas do Enem acontecerão durante a pandemia do coronavírus Imagem: ADAILTON DAMASCENO/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Ana Carla Bermúdez

Colaboração para o UOL

27/10/2021 04h00

Em meio à melhora dos indicadores da pandemia do coronavírus e à retomada das atividades presenciais no Brasil, candidatos que vão fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2021 dizem não ter mais medo de um eventual contágio pelo vírus durante a realização da prova. Para eles, o desafio agora é outro: lidar com a ansiedade nesta reta final para o exame, que acontecerá nos dias 21 e 28 de novembro.

"A primeira prova na pandemia foi meio complicada, porque foi algo completamente novo e as pessoas não estavam vacinadas", diz Franklin Rodrigues, 20. Ex-aluno da rede pública, o jovem quer cursar medicina e faz o Enem desde 2017. Hoje, ele estuda no curso Anglo, em São Paulo.

"Eu me sinto preparado, estudei bastante neste ano, mas a ansiedade sempre bate, independentemente de quantas provas já tenha feito ou não. Tento manter a sanidade mental e não pensar nisso 100% do tempo", afirma o jovem, que voltou às aulas presenciais em junho deste ano e já recebeu as duas doses da vacina contra o coronavírus.

Franklin Rodrigues - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Franklin Rodrigues vai fazer o Enem para tentar uma vaga em medicina
Imagem: Arquivo pessoal

No Brasil, mais de 50% da população recebeu a segunda dose ou a dose única da vacina contra o coronavírus, de acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte.

O estado de São Paulo lidera o ranking da vacinação: mais de 60% dos seus habitantes já receberam as duas doses e mais de 80% receberam ao menos uma. Há, no entanto, grande diferença na cobertura vacinal entre as regiões do país. Em Roraima, por exemplo, cerca de 50% receberam uma dose, enquanto ao menos 26% receberam duas.

A ansiedade com relação ao preparo para o Enem também é um sentimento da jovem Débora Leal, 22. Aluna bolsista do cursinho popular da Acepusp (Associação Cultural de Educadores e Professores das Universidades de São Paulo), que manteve suas atividades online, ela conta que sentiu dificuldades na adaptação para o ensino remoto —o que a deixou mais insegura com relação ao exame.

"Sou superprivilegiada por ter internet e computador e estudar pelo menos durante a semana. Mas, mesmo assim, talvez não seja o suficiente", conta a jovem, que já recebeu as duas doses da vacina. Ela destaca que, em casa, existem muitas interferências na hora dos estudos.

Débora Leal - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Débora Leal quer tentar uma vaga em administração
Imagem: Arquivo pessoal

"Na escola, você teria um espaço focado só para isso", diz a jovem, que vai tentar uma vaga em administração pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada). Todos esses fatores, segundo ela, levam a uma mistura "muito esquisita" de sentimentos neste momento.

"Parece que está tudo atrasado, que você não fez nada certo. Será que dá tempo de estudar tudo em um mês? Será que absorvi conhecimento suficiente?", questiona.

Agora na reta final, acho que fica mais claro isso: nem conta tanto os estudos que você fez, mas mais a sua saúde mental para conseguir chegar até lá. Você vai contando os dias e vai aumentando a sua pressão, a pressão dos outros, e tudo vira um caos."
Débora Leal, estudante

Helena Pargas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Helena Pargas está terminando o ensino médio e quer cursar marketing
Imagem: Arquivo pessoal

Aluna da escola Vereda, em Santo André (SP), a estudante Helena Pargas, 17, vai fazer o Enem para tentar uma vaga no curso de marketing.

É a segunda vez que ela se inscreve para a prova: na última edição, a jovem participou como treineira.

"Agora é só preparação final mesmo, querendo ou não. É um momento mais de ansiedade, porque a prova já está batendo na porta, mas sei que vou tentar ao máximo diminuir a pressão", diz Helena, que recebeu uma dose da vacina contra o coronavírus.

Vacina, pandemia e motivação

Esta será a segunda vez que o Enem acontece durante a pandemia do coronavírus no país. A edição 2020 do exame, que seria realizada entre outubro e novembro do ano passado, foi adiada para janeiro deste ano justamente por causa da crise sanitária.

Apesar do adiamento, as provas coincidiram com a segunda onda da pandemia no país —o exame teve uma taxa de abstenção recorde, de mais de 50%. À época, a campanha de imunização contra o coronavírus no Brasil ainda engatinhava.

Elaine Cristina - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Com a nota do Enem, Elaine quer conseguir uma bolsa para cursar direito
Imagem: Arquivo pessoal

Elaine Cristina Pereira da Silva, 20, é uma das candidatas que faltaram a um dos dias da prova em janeiro deste ano. "Pela questão da pandemia, o Enem foi sendo adiado e a gente foi ficando também muito inseguro. Eu fui no primeiro dia, mas não no segundo, porque não me senti motivada", conta.

Ex-aluna de escola pública, ela estuda no cursinho popular Emancipa aos sábados e quer usar a nota do Enem para concorrer a uma bolsa para o curso de direito pelo ProUni (Programa Universidade para Todos). Durante a semana, ela se divide entre os estudos e o trabalho como recepcionista de uma clínica de psicologia e psiquiatria.

"Às vezes é difícil acompanhar [os estudos] por causa do trabalho, mas eu tento", diz Elaine, que mora no bairro do Grajaú, na zona sul de São Paulo. "Não me sinto preparada, mas quero fazer o meu melhor. Neste mês, vou tentar estudar pelo menos as partes que sei que posso melhorar, como redação e linguagens, para tentar conseguir uma nota melhor."

"Hoje eu penso assim: eu posso ser uma jovem de periferia, que tem muitos sonhos, mas tenho a internet a meu favor também. Posso estudar, fazer exercícios. O problema são as tarefas do dia a dia, a motivação. Tudo isso influencia", diz.

Vacinada com as duas doses, ela afirma não ter medo de fazer a prova na pandemia. "Eu me protejo, então não tenho medo. Acho que, apesar das falhas, todo mundo tem tentado manter as medidas [contra a disseminação do vírus]. Estou me sentindo segura."