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Criadora do Enem cobra investigação após fala de Bolsonaro sobre as provas

Colaboração para o UOL

16/11/2021 09h50Atualizada em 16/11/2021 11h21

A educadora Maria Inês Fini, idealizadora do Enem e ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), cobrou, em entrevista ao UOL News hoje (16), uma investigação após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizer que as provas terão "a cara do governo".

"Baseado em quê ele fez essa afirmação? Alguém vai ter que dizer o fundamento dessa afirmação. Tem que ter apuração jurídica", disse.

A declaração foi feita por Bolsonaro durante o fórum de investimentos em Dubai, nos Emirados Árabes, ao comentar a demissão em massa de mais de 30 servidores no Ministério da Educação às vésperas do Enem.

"Começam agora a ter a cara do governo as questões da prova do Enem. Ninguém está preocupado com aquelas questões absurdas do passado, de cair um tema de redação que não tinha nada a ver com nada. É realmente algo voltado para o aprendizado", declarou o presidente.

Censura do Enem

Ao "Fantástico", da TV Globo, servidores relataram que o diretor de Avaliação de Educação Básica, Anderson Oliveira, pediu a remoção de mais de 20 questões da primeira versão da prova deste ano. A maior parte das questões se referia a contextos sociopolíticos ou socioeconômicos — a escolha é feita a partir de um repositório de questões elaboradas por professores selecionados por edital.

Também foi relatada a presença inesperada de um policial federal no ambiente onde são elaboradas as provas, algo que os servidores entenderam como tática de intimidação.

Maria Inês Fini endossa a denúncia dos servidores sobre censura, mas tenta acalmar os alunos que vão fazer a prova. Ela afirma que itens podem ter sido retirados, mas novos itens não foram adicionados ao exame. "O exame está dentro da configuração do contexto geral que o Enem sempre se apresentou. Quem pode mais, seguramente vai poder o menos", disse.

Independência no Inep

Na avaliação da criadora do Enem, o Inep precisa de mais autonomia na sua atuação. "Há um contínuo e crescente movimento de desmanche do Inep. Precisa de independência, não pode ficar nas mãos de nomeações de pessoas que podem ter perfil profissional espetacular para empresa, mas não produz trabalhos fundamentais para políticas educacionais."

A educadora defende que haja menor interferência do governo federal. "Precisamos melhorar a relação do governo com Inep e fortalecer o instituto. Reduzir interferência na determinação dos cargos de chefia, submetendo equipes qualificadas a líderes que não tem noção nenhuma", disse.