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Enem teve questões contemporâneas e próximas à esquerda, diz ministro

Ministro Milton Ribeiro na coletiva do Enem - Reprodução
Ministro Milton Ribeiro na coletiva do Enem Imagem: Reprodução

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

29/11/2021 16h56Atualizada em 30/11/2021 13h02

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, negou hoje qualquer interferência da sua gestão na prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), finalizada ontem (28). Como argumento, ele disse que as questões da prova tiveram uma cara "contemporânea e mais próxima à esquerda".

Ribeiro respondia em coletiva às acusações de supostas interferências do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), denunciada por servidores contra o presidente Danilo Dupas. Neste mês, mais de 20 servidores de gerência se demitiram em contraposição a Dupas. Pouco depois, o ministro disse que a prova teria "a cara do governo".

Se levássemos essa prova para uma análise de alguém de fora do Brasil, ele falaria que as questões são contemporâneas e até um pouco próximas às questões mais de esquerda. Não houve nenhuma tentativa [de interferência]."
Milton Ribeiro, ministro da Educação

Como argumento, Ribeiro citou algumas questões da prova, que teve texto de Friedrich Engels, autor do Manifesto do Partido Comunista, junto a Karl Marx, e chamou a atenção também com uma música de Chico Buarque.

"Se você ler a prova hoje, acha que tem ideologia de esquerda ou direita? Tem citação de Karl Marx e Engels. Temos Chico Buarque, um artista tem seu direito democrático de expressar sua vontade, que é totalmente partidário de uma visão de esquerda", argumentou Ribeiro, ao ser questionado pela imprensa.

O ministro também falou que não leu o exame antes da sua realização, possibilidade levantada por ele mesmo, neste mês. "O sábio muda de opinião", disse Ribeiro, com aparente modéstia.

"Quando eu percebi que a possibilidade de eu ter acesso às questões da prova iria trazer muito mais prejuízos do que benefícios aos estudantes, eu simplesmente dei um passo atrás. Eu abri mão de um direito", disse o educador.

"Não é uma prova de convicções, é uma prova que procura medir a capacidade de um jovem de ter acesso ao ensino superior. Isso é o Enem. Então a sociedade cobra em relação a isso. Eu pensei que todos os ministros tinham regular acesso a questões da prova, mas, diante da reação de alguns, eu simplesmente voltei atrás", completou.

A prova vem causando polêmica desde que servidores do Inep com cargo de direção passaram a acusar Dupas de interferir ideologicamente no instituto. Ribeiro elogiou o presidente do órgão, a quem falou merecer todos os méritos sobre o sucesso da prova. Conforme o UOL revelou, foi a relação direta entre os dois, desde os anos de iniciativa privada, que garantiu a manutenção de Dupas no cargo, mesmo após as medições em massa no órgão no início do mês.

Na coletiva, Dupas anunciou ainda que o resultado da prova deverá ser divulgado no dia 11 de fevereiro, os gabaritos saem na próxima quarta (1º) e os pedidos de reaplicação estão disponíveis até sexta (3).

Como foi o Enem 2021

Ontem, o Enem teve seu segundo dia de provas, com matemática e ciências da natureza. No dia 21, o exame já havia tido ciências humanas, linguagens e a redação.

A maioria dos alunos ouvidos pelo UOL consideraram a prova mais fácil do que a da semana passada. Em contrapartida, houve estudantes que sentiram mais evidentes suas deficiências nos estudos. Além disso, muitos criticaram os enunciados das questões de hoje, voltadas para matemática e ciências da natureza.

Professores avaliaram que a escassez do BNI (Banco Nacional de Itens), com perguntas para formar o Enem, tornou a prova mais conteudista. Isso também fez com que a edição de 2021 ficasse sem perguntas com temas atuais, como a pandemia e a vacinação contra covid. Sobre isso, Dupas disse que "o banco de itens já está em recomposição, dentro do cronograma, tudo certinho".

Falhas

A prova transcorreu sem graves incidentes. Houve um aluno picado por escorpião em Goiás, mas ele pode pedir reaplicação, a acontecer em janeiro do ano que vem. Mesmo caso dos candidatos do Complexo do Salgueiro, no Rio, que foram afetados pela operação policial em São Gonçalo, na região metropolitana no último domingo (21), deixando ao menos nove mortos.

Segundo o Inep, houve uma falha técnica de conectividade ocorrida no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano, em Petrolina (PE), que impossibilitou a realização digital da prova. Os alunos que ficaram sem fazer a prova também podem pedir reaplicação.

Ao todo, a prova foi entregue a 1.747 municípios em 10.600 escolas, com 41 voos da FAB e 130 carretas.