Enem encerra 2º dia; prova 'técnica' aborda covid-19 e vacina contra câncer

O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) encerrou hoje, às 18h30, o segundo dia de aplicação das provas deste ano. Neste domingo (20), os candidatos tiveram que responder 90 questões de matemática e ciências da natureza. Professores avaliam que a prova de 2022 se mostrou "bastante técnica". Uns dos temas abordados foram a covid-19 e vacina para câncer. O UOL corrige o Enem em parceria com o Objetivo.

"Êta prova 'dificilzinha', viu", brincou Constantino Carnelos, professor de biologia do Objetivo. "O Enem resolveu fazer questões difíceis, mas a maior parte usando raciocínios lógicos", disse.

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Na semana passada, foi a vez das questões ligadas a ciências humanas e linguagens. Os participantes também escreveram uma redação sobre o tema "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil". Neste ano, 3.396.597 inscritos estiveram aptos a fazer as provas do Enem —o segundo menor número desde 2005, de acordo com dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

Covid-19 e vacina para câncer. Vinicius Beltrão, coordenador de ensino e inovações do SAS Plataforma de Educação, afirma que a prova pareceu "bastante técnica", com muitas referências e publicações antigas. Segundo ele, a covid-19 e a produção de etanol foram temas de duas perguntas cada.

Outra questão, de acordo com o professor, trouxe a possibilidade de o protozoário causador da doença de Chagas - Trypanosoma cruzi - ser utilizado na criação de uma vacina contra o câncer.

Física no Enem foi "a melhor dos últimos anos" e química "estava difícil". Para Anderson Fernandes, professor de física das Escolas SEB, a avaliação de física de 2022 foi "a melhor dos últimos anos". Ele diz que faz as provas do Enem desde 1998.

Segundo ele, os três assuntos que mais caíram foram mecânica, eletricidade e termologia. "O nível de dificuldade é bem parecido com o do ano passado. A gente verifica uma tendência que, nos últimos anos, o Enem não está primando por exageros em contas nem em textos."

O professor afirma que outra questão que chamou sua atenção foi uma relacionada ao buraco negro, abordada de jeito simples.

Já Virgilio Augusto de Aveiro, professor de química das Escolas SEB, destaca que a prova de química estava "bem complicada e difícil".

"Uma coisa que faltou na prova de química foi a parte de problemas ambientais, que sempre caía bastante e esse ano tivemos poucas questões. E faltou termoquímica."

Ciências da natureza "dentro do esperado". Luís Felipe Abad, professor e autor do Colégio e Sistema pH, considera que o nível de dificuldade foi "dentro do esperado" e os temas cobrados foram os "tradicionais". A prova de ciências da natureza foi bastante conteudista, mas temas como botânica e polímeros, que são comuns, por exemplo, não apareceram."

Máscaras e clima de Copa do Mundo. Antes do início das provas, no campus da UNIP na Aclimação, em São Paulo, os jovens que esperavam sob o sol forte da capital paulista entraram tranquilamente no prédio para fazerem os exames, muitos deles vestidos com as cores e símbolos do Brasil.

Erika Barreto, de 21 anos, chegou usando uma camiseta bordada com o escudo da Seleção. Fã de futebol, ela faz a prova pela quarta vez, mas agora "pra valer". "Eu sou uma pessoa de humanas querendo estudar medicina", contou a jovem, que se disse um pouco nervosa com o tema das avaliações de hoje, mas tranquila por já ter prestado o exame outras três vezes como treineira.

"É importante, mas não fico mais tão ansiosa porque já sei o que vou encarar" explica. Este ano, ao invés de fazer simulados e revisões de última hora, Erika diz que preferiu relaxar antes da prova: "Eu acabava ficando mais ansiosa. Dessa vez só fiquei ouvindo música e descansando".

Além das camisas de futebol e do Brasil, canetas e comidas, a maioria deles também chegava com máscara facial. Em São Paulo, o aumento de casos da covid fez a Prefeitura recomendar novamente o uso da proteção facial em locais fechados e aglomerações.

Lula desejou boa sorte a participantes. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou o Twitter para desejar boa sorte aos estudantes que participaram do segundo dia de provas do Enem.

O petista ainda estimulou os jovens a "acreditarem na educação" e "aproveitarem bem cada oportunidade".

Último Enem sob governo Bolsonaro. A edição 2022 do exame foi a última sob o governo de Jair Bolsonaro (PL). A prova esteve marcada por muitas polêmicas nos últimos anos e também pela queda no número de inscritos — agora, quase 3,4 milhões de pessoas se inscreveram, menor número em 17 anos do Enem

O Inep sofreu diversas trocas no comando e passou pela pior crise de sua história. Nas vésperas da edição do ano passado, dezenas de servidores pediram exoneração de seus cargos e criticaram a falta de critério técnico nas decisões do órgão.

Recém-eleito em 2018, Bolsonaro já criticava a prova criticou e falou que em sua gestão o Enem não trataria "assuntos dessa forma" — em referência a uma pergunta que tratava do "dialeto secreto" usado por gays e travestis.